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Foi
apresentado, nesta terça-feira, o documento da Pontifícia Academia para a Vida
sobre a condição da “terceira idade” depois da pandemia.
Davide Dionisi/Mariangela Jaguraba – Vatican News
“A velhice: o nosso futuro. A condição dos idosos
depois da pandemia.” Este é o título do documento publicado, nesta terça-feira
(09/02), com o qual a Pontifícia Academia para a Vida (PAV), de acordo com o
Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, propõe uma
reflexão sobre os ensinamentos a serem extraídos da tragédia causada pela
difusão da Covid-19, sobre suas consequências para hoje e para o futuro próximo
de nossas sociedades.
Repensar o modelo de desenvolvimento
Ensinamentos que evidenciaram uma dupla
consciência: “Por um lado, a interdependência entre todos e, por outro, a
presença de fortes desigualdades. Estamos todos à mercê da mesma tempestade,
mas num certo sentido, também se pode dizer que estamos remando em barcos
diferentes: os mais frágeis estão afundando todos os dias. É indispensável
repensar o modelo de desenvolvimento de todo o planeta”, afirma o documento,
que retoma a reflexão já iniciada com a Nota de 30 de março de 2020 (Pandemia e
Fraternidade Universal), prosseguida da Nota de 22 de julho de 2020 (A Humana Communitas
na Era da Pandemia). Reflexões desatualizadas sobre o renascimento da vida) e
com o documento conjunto com o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento
Humano Integral (Vacina para todos. Vinte itens para um mundo mais justo e
saudável) de 28 de dezembro de 2020. A intenção é “propor o caminho da Igreja,
mestra de humanidade, a um mundo transformado pela Covid-19, a mulheres e
homens em busca de sentido e esperança para suas vidas”.
A Covid-19 e os idosos
Durante a primeira onda da pandemia, uma proporção
considerável de mortes pela Covid-19 ocorreu nas instituições para idosos,
lugares que deveriam proteger a “parte mais frágil da sociedade” e onde a morte
atingiu desproporcionalmente mais em relação à casa e ao ambiente familiar. “O
que aconteceu durante a Covid-19 impede de descartar a questão com uma busca
por bodes expiatórios, por culpados individuais. Por outro lado, é necessário
que se levante um coro em defesa dos excelentes resultados daqueles que
evitaram o contágio nos asilos. Precisamos de uma nova visão, de um novo
paradigma que permita à sociedade cuidar dos idosos”.
Em 2050, dois bilhões de pessoas com
mais de 60 anos
O documento da PAV evidencia que “do ponto de vista
estatístico e sociológico, homens e mulheres têm geralmente hoje uma
expectativa de vida mais longa. Esta grande transformação demográfica
representa, de fato, um desafio cultural, antropológico e econômico”. Segundo
dados da Organização Mundial da Saúde, em 2050, haverá dois bilhões de pessoas
com mais de 60 anos no mundo: uma a cada cinco pessoas será idosa. “Portanto, é
essencial tornar nossas cidades lugares inclusivos e acolhedores para os idosos
e, em geral, para todas as formas de fragilidade”.
Ser idoso é um presente de Deus
Em nossa sociedade, prevalece muitas vezes a ideia
da velhice como uma idade infeliz, sempre entendida apenas como a idade da
assistência, da necessidade e das despesas para o tratamento médico. “Ser idoso
é um presente de Deus e um enorme recurso, uma conquista a ser salvaguardada
com cuidado, mesmo quando a doença se torna incapacitante e surge a necessidade
de cuidados integrados e de alta qualidade. É inegável que a pandemia reforçou
em todos nós a consciência de que a riqueza dos anos é um tesouro a ser
valorizado e protegido”, ressalta o documento.
Um novo modelo para os vulneráveis
Quanto à assistência, a PAV indica um novo modelo
especialmente para os mais frágeis inspirado na pessoa “A implementação deste
princípio implica uma intervenção articulada em diferentes níveis, que realiza
um cuidado contínuo entre a própria casa e alguns serviços externos, sem
cesuras traumáticas, não adequadas à fragilidade do envelhecimento”, especifica
o documento, observando que “as casas de repouso devem se requalificar num
contínuo sócio-sanitário, ou seja, oferecer alguns de seus serviços diretamente
nos domicílios dos idosos: hospitalização em casa, cuidando da pessoa
individual com respostas de assistenciais moduladas nas necessidades pessoais
em baixa ou alta intensidade, onde a assistência social e sanitária integrada e
o cuidado domiciliar continuam sendo o pivô de um novo e moderno paradigma”. Em
substância, espera-se reinventar uma rede mais ampla de solidariedade “não
necessariamente e exclusivamente baseada em vínculos de sangue, mas articulada
de acordo com as pertenças, amizades, sentimentos comuns, generosidade
recíproca na resposta às necessidades dos outros”.
O encontro entre gerações
Quanto ao confronto com os jovens, o documento
evoca um “encontro” que possa levar para o tecido social “aquela nova seiva de
humanismo que tornaria a sociedade mais solidaria”. Muitas vezes o Papa
Francisco exortou os jovens a ficarem perto de seus avós”, acrescentando que “o
homem que envelhece não se aproxima do fim, mas do mistério da eternidade. Para
entender isto ele precisa se aproximar de Deus e viver na relação com Ele.
Cuidar da espiritualidade dos idosos, de sua necessidade de intimidade com
Cristo e de partilha da fé é uma tarefa de caridade na Igreja”. O documento
deixa claro que “é somente graças aos idosos que os jovens podem redescobrir
suas raízes, e é somente graças aos jovens que os idosos recuperam a capacidade
de sonhar”.
A fragilidade como magistério
O testemunho que os idosos podem dar através de sua
fragilidade também é precioso. “Ele pode ser lido como um magistério, um
ensinamento de vida”, observa a reflexão, esclarecendo que “a velhice também
deve ser entendida neste horizonte espiritual: é a idade propícia do abandono a
Deus. À medida que o corpo enfraquece, a vitalidade psíquica, a memória e a
mente diminuem, a dependência da pessoa humana de Deus parece cada vez mais
evidente.”
A mudança cultural
Por
fim, um apelo: “Toda a sociedade civil, a Igreja e as diversas tradições
religiosas, o mundo da cultura, da escola, do voluntariado, do espetáculo, da
economia e das comunicações sociais devem sentir a responsabilidade de sugerir
e apoiar medidas novas e incisivas, para que seja possível acompanhar e cuidar
dos idosos em contextos familiares, em suas próprias casas e, em todo caso, em
ambientes domésticos que mais se assemelham a uma casa do que a um hospital.
Esta é uma mudança cultural a ser implementada.”
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