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O mundo enfrenta, atualmente, uma de suas piores crises humanitárias. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), se todas as pessoas que necessitam de ajudas humanitárias emergenciais se juntassem em uma nação, essa seria a quinta nação mais populosa do planeta, com cerca de 235 milhões de habitantes. A ONU também destaca, entre as principais causas da extrema pobreza que atinge 736 milhões de pessoas, diversos tipos de conflitos.
Nesses conflitos, em geral, de cunho político, econômico, étnico e religioso, comumente, as elites locais, associadas a interesses de grandes nações e corporações internacionais, buscam apropriar-se dos poderes do Estado, impor-se midiática e militarmente, tirar proveito de recursos públicos e naturais, e beneficiar seus negócios. Embora os setores sociais e econômicos mais frágeis sofram as piores consequências desses conflitos, todos perdem.
Conflitos assim, além de gerarem mortes e miséria, destroem culturas e o potencial de fraternidade entre povos e nações. Conflitos nunca são benéficos. Como solucioná-los senão sanando suas causas, por meio do diálogo civilizado, fundado nos valores de fraternidade, justiça, liberdade, corresponsabilidade? Como, pois, exercer o diálogo no Brasil atual, com esses critérios, neste tempo de grandes tensões que afetam nossa vida cotidiana?
O momento é oportuno. É quaresma, tempo especial para rever nossos relacionamentos e nossa vida social, reconhecer nossos erros e reconciliarmo-nos, inspirados no tema do “diálogo” proposto pela Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano, em seu lema, “Cristo é nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef 2,14a), e em seu principal objetivo: promover a cultura do diálogo e da unidade, neste país marcado por muitos tipos de conflitos.
Consideremos, por exemplo, que o grande número de mortos pela Covid-19 podia ter sido evitado se, desde o início desta pandemia, cidadãos, instituições e gestores públicos tivessem agido unificadamente, de modo mais corresponsável. Mortes podem ainda ser contidas. No entanto, prevalecem autoritarismos políticos e estímulos a polarizações e divisões na sociedade, que sufocam clamores populares em defesa da saúde pública.
Quais outras situações conflituosas, de grande magnitude, nos afetam? Desigualdades econômicas extremas, racismo e intolerância a modos de vida, a religiões e a visões políticas diferentes. Divididos somos facilmente dominados e explorados. Desunida, nossa nação continua sendo saqueada. Vale, pois, enfatizar a afirmação de Cristo: “Todo reino dividido ficará em ruínas; toda cidade ou casa dividida não se sustentará” (Mt 12,25).
Como acabar com o que nos divide e construir uma convivência social pacífica e justa? O que a Igreja nos propõe, por meio da Campanha da Fraternidade deste ano, é simples e fundamental: derrubar os muros da inimizade, por meio de nossa comunhão em Cristo, fonte de paz. Na perspectiva bíblica, a paz é fruto da justiça (cf. Is 32,17), construída pelo diálogo amoroso que une corações e unifica ações em prol de um projeto comum de sociedade.
Rejeitemos, portanto, tudo o que divide o próprio Corpo de Cristo, a Igreja. Testemunhemos o amor fraterno de forma inquestionável, pois assim seremos reconhecidos como discípulos de Jesus (cf. Jo 13,35). Sejamos solidários, especialmente com os que necessitam de ajuda emergencial para sobreviver. Unamo-nos contra todo tipo de dominação e violência. Almejemos, enfim, ser “perfeitos na unidade” (Jo 17,23) para salvar a humanidade.
CNBB
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