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Cada
mês, em 10 episódios, um vídeo com as reflexões do Papa e o testemunho de
famílias de todas as partes do mundo – realizado em colaboração entre o
Dicastério Leigos Família e Vida e Vatican News – ajuda a reler a Exortação
apostólica, com a contribuição de um subsídio que pode ser baixado para o
aprofundamento pessoal e comunitário. Porque ser família, recorda Francisco, é
sempre “principalmente uma oportunidade”.
(1-7)
1. A ALEGRIA DO AMOR que se vive nas famílias é
também o júbilo da Igreja. Apesar dos numerosos sinais de crise no matrimónio –
como foi observado pelos Padres sinodais – «o desejo de família permanece vivo,
especialmente entre os jovens, e isto incentiva a Igreja».[1] Como resposta a este anseio, «o
anúncio cristão sobre a família é verdadeiramente uma boa notícia».[2]
2. O caminho sinodal permitiu analisar a situação
das famílias no mundo actual, alargar a nossa perspectiva e reavivar a nossa
consciência sobre a importância do matrimónio e da família. Ao mesmo tempo, a
complexidade dos temas tratados mostrou-nos a necessidade de continuar a
aprofundar, com liberdade, algumas questões doutrinais, morais, espirituais e
pastorais. A reflexão dos pastores e teólogos, se for fiel à Igreja, honesta,
realista e criativa, ajudar-nos-á a alcançar uma maior clareza. Os debates, que
têm lugar nos meios de comunicação ou em publicações e mesmo entre ministros da
Igreja, estendem-se desde o desejo desenfreado de mudar tudo sem suficiente
reflexão ou fundamentação até à atitude que pretende resolver tudo através da
aplicação de normas gerais ou deduzindo conclusões excessivas de algumas
reflexões teológicas.
3. Recordando que o tempo é superior ao espaço,
quero reiterar que nem todas as discussões doutrinais, morais ou pastorais
devem ser resolvidas através de intervenções magisteriais. Naturalmente, na
Igreja, é necessária uma unidade de doutrina e práxis, mas isto não impede que
existam maneiras diferentes de interpretar alguns aspectos da doutrina ou
algumas consequências que decorrem dela. Assim há-de acontecer até que o
Espírito nos conduza à verdade completa (cf. Jo 16, 13), isto
é, quando nos introduzir perfeitamente no mistério de Cristo e pudermos ver
tudo com o seu olhar. Além disso, em cada país ou região, é possível buscar
soluções mais inculturadas, atentas às tradições e aos desafios locais. De
facto, «as culturas são muito diferentes entre si e cada princípio geral (...),
se quiser ser observado e aplicado, precisa de ser inculturado».[3]
4. Em todo o caso, devo dizer que o caminho sinodal
se revestiu duma grande beleza e proporcionou muita luz. Agradeço tantas
contribuições que me ajudaram a considerar, em toda a sua amplitude, os
problemas das famílias do mundo inteiro. O conjunto das intervenções dos
Padres, que ouvi com atenção constante, pareceu-me um precioso poliedro,
formado por muitas preocupações legítimas e questões honestas e sinceras. Por
isso, considerei oportuno redigir uma Exortação Apostólica pós-sinodal que
recolha contribuições dos dois Sínodos recentes sobre a família, acrescentando
outras considerações que possam orientara reflexão, o diálogo ou a práxis
pastoral, e simultaneamente ofereçam coragem, estímulo e ajuda às famílias na
sua doação e nas suas dificuldades.
5. Esta Exortação adquire um significado especial
no contexto deste Ano Jubilar da Misericórdia, em primeiro lugar, porque a vejo
como uma proposta para as famílias cristãs, que as estimule a apreciar os dons
do matrimónio e da família e a manter um amor forte e cheio de valores como a
generosidade, o compromisso, a fidelidade e a paciência; em segundo lugar,
porque se propõe encorajar todos a serem sinais de misericórdia e proximidade
para a vida familiar, onde esta não se realize perfeitamente ou não se
desenrole em paz e alegria.
6. No desenvolvimento do texto, começarei por uma
abertura inspirada na Sagrada Escritura, que lhe dê o tom adequado. A partir
disso, considerarei a situação atual das famílias, para manter os pés assentes
na terra. Depois lembrarei alguns elementos essenciais da doutrina da Igreja
sobre o matrimónio e a família, seguindo-se os dois capítulos centrais,
dedicados ao amor. Em seguida destacarei alguns caminhos pastorais que nos
levem a construir famílias sólidas e fecundas segundo o plano de Deus, e
dedicarei um capítulo à educação dos filhos. Depois deter-me-ei sobre um
convite à misericórdia e ao discernimento pastoral perante situações que não
correspondem plenamente ao que o Senhor nos propõe; e, finalmente, traçarei
breves linhas de espiritualidade familiar.
7. Devido à riqueza que os dois anos de reflexão do
caminho sinodal ofereceram, esta Exortação aborda, com diferentes estilos,
muitos e variados temas. Isto explica a sua inevitável extensão. Por isso, não
aconselho uma leitura geral apressada. Poderá ser de maior proveito, tanto para
as famílias como para os agentes de pastoral familiar, aprofundar pacientemente
uma parte de cada vez ou procurar nela aquilo de que precisam em cada
circunstância concreta. É provável, por exemplo, que os esposos se identifiquem
mais como quarto e quinto capítulo, que os agentes pastorais tenham especial
interesse pelo capítulo sexto, e que todos se sintam muito interpelados pelo
oitavo. Espero que cada um, através da leitura, se sinta chamado a cuidar com
amor da vida das famílias, porque elas «não são um problema, são sobretudo uma
oportunidade».[4]
(31-57)
31. O bem da família é decisivo para
o futuro do mundo e da Igreja. Inúmeras são as análises feitas sobre o
matrimónio e a família, sobre as suas dificuldades e desafios atuais. É salutar
prestar atenção à realidade concreta, porque «os pedidos e os apelos do
Espírito ressoam também nos acontecimentos da história» através dos quais «a
Igreja pode ser guiada para uma compreensão mais profunda do inexaurível
mistério do matrimónio e da família».[8] Não tenho a pretensão de apresentar
aqui tudo aquilo que poderia ser dito sobre os vários temas relacionados coma
família no contexto atual. Mas, dado que os Padres sinodais ofereceram um
panorama da realidade das famílias de todo o mundo, considero oportuno recolher
algumas das suas contribuições pastorais, acrescentando outras preocupações
derivadas da minha própria visão.
A situação atual da família
32. «Fiéis ao ensinamento de Cristo, olhamos a
realidade actual da família em toda a sua complexidade, nas suas luzes e
sombras. (...) Hoje, a mudança antropológico-cultural influencia todos os
aspectos da vida e requer uma abordagem analítica e diversificada».[9] Já no contexto de várias décadas
atrás, os bispos da Espanha reconheciam uma realidade doméstica com mais
espaços de liberdade, «com uma distribuição equitativa de encargos,
responsabilidades e tarefas (...). Valorizando mais a comunicação pessoal entre
os esposos, contribui-se para humanizar toda a vida familiar. (...) Nem a
sociedade em que vivemos nem aquela para onde caminhamos permitem a
sobrevivência indiscriminada de formas e modelos do passado».[10] Mas «estamos conscientes da direção
que vão tomando as mudanças antropológico-culturais, em razão das quais os
indivíduos são menos apoiados do que no passado pelas estruturas sociais na sua
vida afetiva e familiar».[11]
33. Por outro lado, «há que considerar o crescente
perigo representado por um individualismo exagerado que desvirtua os laços
familiares e acaba por considerar cada componente da família como uma ilha,
fazendo prevalecer, em certos casos, a ideia dum sujeito que se constrói
segundo os seus próprios desejos assumidos com carácter absoluto».[12] «As tensões causadas por uma
cultura individualista exagerada da posse e fruição geram no seio das famílias
dinâmicas de impaciência e agressividade».[13] Gostaria de acrescentar o ritmo da
vida atual, o stresse, a organização social e laboral, porque são fatores
culturais que colocam em risco a possibilidade de opções permanentes. Ao mesmo
tempo, encontramo-nos perante fenómenos ambíguos. Por exemplo, aprecia-se uma
personalização que aposte na autenticidade em vez de reproduzir comportamentos
prefixados. É um valor que pode promover as diferentes capacidades e a
espontaneidade, mas, se for mal orientado, pode criar atitudes de permanente
suspeita, fuga dos compromissos, confinamento no conforto, arrogância. A
liberdade de escolher permite projetar a própria vida e cultivar o melhor de si
mesmo, mas, se não se tiver objetivos nobres e disciplina pessoal, degenera
numa incapacidade de se dar generosamente. De facto, em muitos países onde
diminui o número de matrimónios, cresce o número de pessoas que decidem viver
sozinhas ou que convivem sem coabitar. Podemos assinalar também um louvável
sentido de justiça; mas, mal compreendido, transforma os cidadãos em clientes
que só exigem o cumprimento de serviços.
34. Se estes riscos se transpõem para o modo de
compreender a família, esta pode transformar-se num lugar de passagem, aonde
uma pessoa vai quando lhe parecer conveniente para si mesma ou para reclamar
direitos, enquanto os vínculos são deixados à precariedade volúvel dos desejos
e das circunstâncias. No fundo, hoje é fácil confundir a liberdade genuína com
a ideia de que cada um julga como lhe parece, como se, para além dos
indivíduos, não houvesse verdades, valores, princípios que nos guiam, como se
tudo fosse igual e tudo se devesse permitir. Neste contexto, o ideal
matrimonial com um compromisso de exclusividade e estabilidade acaba por ser
destruído pelas conveniências contingentes ou pelos caprichos da sensibilidade.
Teme-se a solidão, deseja-se um espaço de proteção e fidelidade mas, ao mesmo
tempo, cresce o medo de ficar encurralado numa relação que possa adiar a
satisfação das aspirações pessoais.
35. Como cristãos, não podemos renunciar a propor o
matrimónio, para não contradizer a sensibilidade atual, para estar na moda, ou
por sentimentos de inferioridade face ao descalabro moral e humano; estaríamos
a privar o mundo dos valores que podemos e devemos oferecer. É verdade que não
tem sentido limitar-nos a uma denúncia retórica dos males atuais, como se isso
pudesse mudar qualquer coisa. De nada serve também querer impor normas pela
força da autoridade. É-nos pedidos um esforço mais responsável e generoso, que
consiste em apresentar as razões e os motivos para se optar pelo matrimónio e a
família, de modo que as pessoas estejam melhor preparadas para responder à
graça que Deus lhes oferece.
36. Ao mesmo tempo devemos ser humildes e
realistas, para reconhecer que às vezes a nossa maneira de apresentar as
convicções cristãs e a forma como tratamos as pessoas ajudaram a provocar
aquilo de que hoje nos lamentamos, pelo que nos convém uma salutar reação de
autocrítica. Além disso, muitas vezes apresentámos de tal maneira o matrimónio
que o seu fim unitivo, o convite a crescer no amor e o ideal de ajuda mútua
ficaram ofuscados por uma ênfase quase exclusiva no dever da procriação. Também
não fizemos um bom acompanhamento dos jovens casais nos seus primeiros anos,
com propostas adaptadas aos seus horários, às suas linguagens, às suas
preocupações mais concretas. Outras vezes, apresentámos um ideal teológico do
matrimónio demasiado abstrato, construído quase artificialmente, distante da
situação concreta e das possibilidades efetivas das famílias tais como são.
Esta excessiva idealização, sobretudo quando não despertámos a confiança na
graça, não fez com que o matrimónio fosse mais desejável e atraente; muito pelo
contrário.
37. Durante muito tempo pensámos que, com a simples
insistência em questões doutrinais, bioéticas e morais, sem motivar a abertura
à graça, já apoiávamos suficientemente as famílias, consolidávamos o vínculo
dos esposos e enchíamos de sentido as suas vidas compartilhadas. Temos
dificuldade em apresentar o matrimónio mais como um caminho dinâmico de
crescimento e realização do que como um fardo a carregar a vida inteira. Também
nos custa deixar espaço à consciência dos fiéis, que muitas vezes respondem o
melhor que podem ao Evangelho no meio dos seus limites e são capazes de
realizar o seu próprio discernimento perante situações onde se rompem todos os
esquemas. Somos chamados a formar as consciências, não a pretender
substituí-las.
38. Devemos dar graças pela maioria das pessoas
valorizar as relações familiares que querem permanecer no tempo e garantem o
respeito pelo outro. Por isso, aprecia-se que a Igreja ofereça espaços de apoio
e aconselhamento sobre questões relacionadas com o crescimento do amor, a
superação dos conflitos e a educação dos filhos. Muitos estimam a força da
graça que experimentam na Reconciliação sacramental e na Eucaristia, que lhes
permite enfrentar os desafios do matrimónio e da família. Nalguns países,
especialmente em várias partes da África, o secularismo não conseguiu
enfraquecer alguns valores tradicionais e, em cada matrimónio, gera-se uma
forte união entre duas famílias alargadas, onde se conserva ainda um sistema
bem definido de gestão de conflitos e dificuldades. No mundo atual, aprecia-se
também o testemunho dos cônjuges que não se limitam a perdurar no tempo, mas
continuam a sustentar um projeto comum e conservam o afeto. Isto abre a porta a
uma pastoral positiva, acolhedora, que torna possível um aprofundamento gradual
das exigências do Evangelho. No entanto, muitas vezes agimos na defensiva e
gastámos as energias pastorais multiplicando os ataques ao mundo decadente, com
pouca capacidade de propor e indicar caminhos de felicidade. Muitos não sentem
a mensagem da Igreja sobre o matrimónio e a família como um reflexo claro da
pregação e das atitudes de Jesus, o qual, ao mesmo tempo que propunha um ideal
exigente, não perdia jamais a proximidade compassiva às pessoas frágeis como a
samaritana ou a mulher adúltera.
39. Isto não significa deixar de advertir a decadência
cultural que não promove o amor e a doação. As consultas que antecederam os
dois últimos Sínodos trouxeram à luz vários sintomas da «cultura do
provisório». Refiro-me, por exemplo, à rapidez com que as pessoas passam duma
relação afetiva para outra. Creem que o amor, como acontece nas redes sociais,
se possa conectar ou desconectar ao gosto do consumidor e inclusive bloquear
rapidamente. Penso também no medo que desperta a perspectiva dum compromisso
permanente, na obsessão pelo tempo livre, nas relações que medem custos e
benefícios e mantêm-se apenas se forem um meio para remediar a solidão, ter
proteção ou receber algum serviço. Transpõe-se para as relações afetivas o que
acontece com os objetos e o meio ambiente: tudo é descartável, cada um usa e
joga fora, gasta e rompe, aproveita e espreme enquanto serve; depois… adeus. O
narcisismo torna as pessoas incapazes de olhar para além de si mesmas, dos seus
desejos e necessidades. Mas quem usa os outros, mais cedo ou mais tarde acaba
por ser usado, manipulado e abandonado com a mesma lógica. Faz impressão ver
que as rupturas ocorrem, frequentemente, entre adultos já de meia-idade que
buscam uma espécie de «autonomia» e rejeitam o ideal de envelhecer juntos
cuidando-se e apoiando-se.
40. «Correndo o risco de simplificar, poderemos
dizer que vivemos numa cultura que impele os jovens a não formarem uma família,
porque privam-nos de possibilidades para o futuro. Mas esta mesma cultura
apresenta a outros tantas opções que também eles são dissuadidos de formar uma
família».[14] Nalguns países, muitos jovens «são
frequentemente levados a adiar o matrimónio por problemas de tipo económico,
laboral ou de estudo. Às vezes também por outros motivos, tais como a
influência das ideologias que desvalorizam o matrimónio e a família, a
experiência do fracasso de outros casais a que eles não se querem expor, o medo
de algo que consideram demasiado grande e sagrado, as oportunidades sociais e
os benefícios económicos derivados da convivência, uma concepção puramente
emotiva e romântica do amor, o medo de perder a liberdade e a autonomia, a
rejeição de tudo o que possa ser concebido como institucional e burocrático».[15] Precisamos de encontrar as palavras,
as motivações e os testemunhos que nos ajudem a tocar as cordas mais íntimas
dos jovens, onde são mais capazes de generosidade, de compromisso, de amor e
até mesmo de heroísmo, para convidá-los a aceitar, com entusiasmo e coragem, o
desafio de matrimónio.
41. Os Padres sinodais aludiram a certas
«tendências culturais que parecem impor uma afetividade sem qualquer limitação,
(…) uma afetividade narcisista, instável e mutável que não ajuda os sujeitos a
atingir uma maior maturidade». Preocupa a «difusão da pornografia e da
comercialização do corpo, favorecida, entre outras coisas, por um uso
distorcido da internet» e pela «situação das pessoas que são obrigadas a
praticar a prostituição». Neste contexto, por vezes os casais sentem-se
inseguros, indecisos, custando-lhes a encontrar as formas para crescer. Muitos
são aqueles que tendem a ficar nos estádios primários da vida emocional e
sexual. A crise do casal desestabiliza a família e pode chegar, através das
separações e dos divórcios, a ter sérias consequências para os adultos, os
filhos e a sociedade, enfraquecendo o indivíduo e os laços sociais».[16] As crises conjugais são
«enfrentadas muitas vezes de modo apressado e sem a coragem da paciência, da
averiguação, do perdão recíproco, da reconciliação e até do sacrifício. Deste
modo os falimentos dão origem a novas relações, novos casais, novas uniões e novos
casamentos, criando situações familiares complexas e problemáticas para a opção
cristã».[17]
42. «A própria queda demográfica, causada por uma
mentalidade anti natalista e promovida pelas políticas mundiais de saúde
reprodutiva, não só determina uma situação em que a sucessão das gerações deixa
de estar garantida, mas corre-se o risco de levar, com o tempo, a um
empobrecimento económico e a uma perda de esperança no futuro. O avanço das
biotecnologias também teve um forte impacto sobre a natalidade».[18] Podem juntar-se outros fatores,
como «a industrialização, a revolução sexual, o temor da superpopulação, os
problemas económicos (...). A sociedade de consumo também pode dissuadir as
pessoas de ter filhos, só para manter a sua liberdade e estilo de vida».[19] É verdade que a consciência reta
dos esposos, quando foram muito generosos na transmissão da vida, pode
orientá-los para a decisão de limitar o número dos filhos por razões
suficientemente sérias; e também «por amor desta dignidade da consciência, a
Igreja rejeita com todas as suas forças as intervenções coercitivas do Estado a
favor da contracepção, da esterilização e até mesmo do aborto».[20] Estas medidas são inaceitáveis
mesmo em áreas com alta taxa de natalidade, mas é notável que os políticos as
incentivem também nalguns países que sofrem o drama duma taxa de natalidade
muito baixa. Como assinalaram os bispos da Coreia, isto é «agir de forma
contraditória e negligenciando o próprio dever».[21]
43. O enfraquecimento da fé e da prática religiosa,
nalgumas sociedades, afeta as famílias, deixando-as ainda mais sós com as suas
dificuldades. Os Padres disseram que «uma das maiores pobrezas da cultura atual
é a solidão, fruto da ausência de Deus na vida das pessoas e da fragilidade das
relações. Há também uma sensação geral de impotência face à realidade
socioeconómica que, muitas vezes, acaba por esmagar as famílias. (...)
Frequentemente as famílias sentem-se abandonadas pelo desinteresse e a pouca
atenção das instituições. As consequências negativas sob o ponto de vista da
organização social são evidentes: da crise demográfica às dificuldades
educativas, da fadiga em acolher a vida nascente ao sentir a presença dos
idosos como um peso, até à difusão dum mal-estar afetivo que às vezes chega à
violência. O Estado tem a responsabilidade de criar as condições legislativas e
laborais para garantir o futuro dos jovens e ajudá-los a realizar o seu projeto
de formar uma família».[22]
44. A falta duma habitação digna ou adequada leva
muitas vezes a adiar a formalização duma relação. É preciso lembrar que «a
família tem direito a uma habitação condigna, apropriada para a vida familiar e
proporcional ao número dos seus membros, num ambiente fisicamente sadio que
proporcione os serviços básicos para a vida da família e da comunidade».[23] Uma família e uma casa são duas
realidades que se reclamam mutuamente. Este exemplo mostra que devemos insistir
nos direitos da família, e não apenas nos direitos individuais. A família é um
bem de que a sociedade não pode prescindir, mas precisa de ser protegida.[24] A defesa destes direitos é «um
apelo profético a favor da instituição familiar, que deve ser respeitada e
defendida contra toda a agressão»,[25] sobretudo no contexto atual em que
habitualmente ocupa pouco espaço nos projetos políticos. As famílias têm, entre
outros direitos, o de «poder contar com uma adequada política familiar por
parte das autoridades públicas no campo jurídico, económico, social e fiscal».[26] Às vezes as angústias das famílias
tornam-se dramáticas, quando têm de enfrentar a doença de um ente querido sem
acesso a serviços de saúde adequados, ou quando se prolonga o tempo sem ter
conseguido um emprego decente. «As coerções económicas excluem o acesso das
famílias à educação, à vida cultural e à vida social ativa. O atual sistema
económico produz várias formas de exclusão social. As famílias sofrem de modo
particular com os problemas relativos ao trabalho. As possibilidades para os
jovens são poucas e a oferta de trabalho é muito seletiva e precária. As
jornadas de trabalho são longas e, muitas vezes, agravadas pelo tempo gasto na
deslocação. Isto não ajuda os esposos a encontrar-se entre si e com os filhos,
para alimentar diariamente as suas relações».[27]
45. «Há muitos filhos nascidos fora do matrimónio,
especialmente nalguns países, e muitos são os que, em seguida, crescem comum só
dos progenitores e num contexto familiar alargado ou reconstituído. (...) Por
outro lado, a exploração sexual da infância constitui uma das realidades mais
escandalosas e perversas da sociedade atual. Além disso, nas sociedades feridas
pela violência da guerra, do terrorismo ou da presença do crime organizado,
acabam deterioradas as situações familiares, sobretudo nas grandes metrópoles,
e nas suas periferias cresce o chamado fenómeno dos meninos da rua».[28] O abuso sexual das crianças
torna-se ainda mais escandaloso, quando se verifica em ambientes onde deveriam
ser protegidas, particularmente nas famílias e nas comunidades e instituições
cristãs.[29]
46. As migrações «constituem outro sinal dos tempos,
que deve ser enfrentado e compreendido com todo o seu peso de consequências
sobre a vida familiar».[30] O último Sínodo atribuiu grande
importância a esta problemática ao reconhecer que, «sob modalidades diferentes,
atinge populações inteiras em várias partes do mundo. A Igreja desempenhou,
neste campo, papel de primária grandeza. A necessidade de manter e desenvolver
este testemunho evangélico (cf. Mt 25, 35) aparece hoje mais
urgente do que nunca. (...) A mobilidade humana, que corresponde ao movimento
histórico natural dos povos, pode revelar-se uma verdadeira riqueza tanto para
a família que emigra como para o país que a recebe. Caso diferente é a migração
forçada das famílias, em consequência de situações de guerra, perseguição,
pobreza, injustiça, marcada pelas vicissitudes duma viagem que, muitas vezes,
põe em perigo a vida, traumatiza as pessoas e desestabiliza as famílias. O
acompanhamento dos migrantes exige uma pastoral específica dirigida tanto às
famílias que emigram como aos membros dos núcleos familiares que ficaram nos
lugares de origem. Isto deve ser feito respeitando as suas culturas, a formação
religiosa e humana da sua origem, a riqueza espiritual dos seus ritos e
tradições, inclusive através dum cuidado pastoral específico. (...) As
migrações revelam-se particularmente dramáticas e devastadoras tanto para as
famílias como para as pessoas, quando têm lugar à margem da legalidade e são
sustentadas por circuitos internacionais do tráfico de pessoas. O mesmo se pode
dizer quando envolvem mulheres ou crianças não acompanhadas, forçadas a
estadias prolongadas nos locais de passagem entre um país e outro, nos campos
de refugiados, onde não é possível iniciar um percurso de integração. A pobreza
extrema e outras situações de desintegração induzem, por vezes, as famílias até
mesmo a vender os próprios filhos para a prostituição ou o tráfico de órgãos».[31] «As perseguições dos cristãos, bem
como as de minorias étnicas e religiosas, em várias partes do mundo,
especialmente no Médio Oriente, constituem uma grande prova: não só para a
Igreja mas também para toda a comunidade internacional. Devem ser apoiados
todos os esforços para favorecer a permanência das famílias e das comunidades cristãs
nas suas terras de origem».[32]
47. Os Padres dedicaram especial atenção também «às
famílias das pessoas com deficiência, já que tal deficiência, ao irromper na
vida, gera um desafio profundo e inesperado e transtorna os equilíbrios, os
desejos, as expectativas. (...) Merecem grande admiração as famílias que
aceitam, com amor, a prova difícil dum filho deficiente. Dão à Igreja e à
sociedade um valioso testemunho de fidelidade ao dom da vida. A família poderá
descobrir, juntamente com a comunidade cristã, novos gestos e linguagens,
formas de compreensão e identidade, no percurso de acolhimento e cuidado do
mistério da fragilidade. As pessoas com deficiência são, para a família, um dom
e uma oportunidade para crescer no amor, na ajuda recíproca e na unidade. (...)
A família que aceita, com os olhos da fé, a presença de pessoas com deficiência
poderá reconhecer e garantir a qualidade e o valor de cada vida, com as suas
necessidades, os seus direitos e as suas oportunidades. Tal família
providenciará assistência e cuidados e promoverá companhia e carinho em cada
fase da vida».[33] Quero sublinhar que a atenção
prestada tanto aos migrantes como às pessoas com deficiência é um sinal do
Espírito. Pois ambas as situações são paradigmáticas: põem especialmente em
questão o modo como se vive, hoje, a lógica do acolhimento misericordioso e da
integração das pessoas frágeis.
48. «A maioria das famílias respeita os idosos,
rodeia-os de carinho e considera-os uma bênção. Um agradecimento especial deve
ser dirigido às associações e movimentos familiares que trabalham a favor dos
idosos, sob o aspecto espiritual e social (...). Nas sociedades altamente
industrializadas, onde o seu número tende a aumentar enquanto diminui a taxa de
natalidade, os idosos correm o risco de ser vistos como um peso. Por outro
lado, os cuidados que requerem muitas vezes põem a dura prova os seus entes
queridos».[34] «A valorização da fase conclusiva
da vida é, hoje, ainda mais necessária, porque na sociedade atual se tenta, de
todos os modos possíveis, ocultar o momento da passagem. Às vezes, a
fragilidade e dependência do idoso são iniquamente exploradas por mero proveito
económico. Muitas famílias ensinam-nos que é possível enfrentar os últimos anos
da vida, valorizando o sentido de realização e integração de toda a existência
no mistério pascal. Um grande número de idosos é acolhido em estruturas da
Igreja, onde podem viver num ambiente sereno e familiar a nível material e
espiritual. A eutanásia e o suicídio assistido são graves ameaças para as
famílias, em todo o mundo. A sua prática é legal em muitos Estados. A Igreja,
ao mesmo tempo que se opõe firmemente a tais práticas, sente o dever de ajudar
as famílias que cuidam dos seus membros idosos e doentes».[35]
49. Quero assinalar a situação das famílias caídas
na miséria, penalizadas de tantas maneiras, onde as limitações da vida se fazem
sentir de forma lancinante. Se todos têm dificuldades, estas, numa casa muito
pobre, tornam-se mais duras.[36] Por exemplo, se uma mulher deve
criar o seu filho sozinha, devido a uma separação ou por outras causas, e tem
de ir trabalhar sem a possibilidade de o deixar com outra pessoa, o filho
cresce num abandono que o expõe a todos os tipos de risco e fica comprometido o
seu amadurecimento pessoal. Nas situações difíceis em que vivem as pessoas mais
necessitadas, a Igreja deve pôr um cuidado especial em compreender, consolar e
integrar, evitando impor-lhes um conjunto de normas como se fossem uma rocha,
tendo como resultado fazê-las sentir-se julgadas e abandonadas precisamente por
aquela Mãe que é chamada a levar-lhes a misericórdia de Deus. Assim, em vez de
oferecer a força sanadora da graça e da luz do Evangelho, alguns querem
«doutrinar» o Evangelho, transformá-lo em «pedras mortas para as jogar contra
os outros».[37]
Alguns desafios
50. As respostas recebidas nas duas consultas, efetuadas
no caminho sinodal, mencionaram as mais diversas situações que colocam novos
desafios. Além das situações já indicadas, muitos referiram-se à função
educativa, que acaba dificultada porque, entre outras causas, os pais chegam a
casa cansados e sem vontade de conversar; em muitas famílias, já não há sequer
o hábito de comer em juntos, e cresce uma grande variedade de ofertas de distração,
para além da dependência da televisão. Isto torna difícil a transmissão da fé
de pais para filhos. Outros assinalaram que as famílias habitualmente padecem
duma enorme ansiedade; parece haver mais preocupação por prevenir problemas
futuros do que por compartilhar o presente. Isto, que é uma questão cultural,
vê-se agravado por um futuro profissional incerto, pela insegurança económica
ou pelo medo quanto ao futuro dos filhos.
51. Mencionou-se também a toxicodependência como um
dos flagelos do nosso tempo que faz sofrer muitas famílias e, não raro, acaba
por destruí-las. Algo semelhante acontece com o alcoolismo, os jogos de azar e
outras dependências. A família poderia ser o lugar da prevenção e das boas
regras, mas a sociedade e a política não chegam a perceber que uma família em
risco «perde a capacidade de reação para ajudar os seus membros (...).
Observamos as graves consequências desta ruptura em famílias destruídas, filhos
desenraizados, idosos abandonados, crianças órfãs de pais vivos, adolescentes e
jovens desorientados e sem regras». [38] Como apontaram os bispos do México,
há tristes situações de violência familiar que são terreno fértil para novas
formas de agressividade social, porque «as relações familiares explicam também
a predisposição para uma personalidade violenta. As famílias que influem nesta
direção são aquelas em que há uma comunicação deficiente; aquelas em que
predominam as atitudes defensivas e os seus membros não se apoiam entre si;
onde não há atividades familiares que favoreçam a participação; as famílias onde
as relações entre os pais costumam ser conflituosas e violentas, e as relações
pais-filhos se caracterizam por atitudes hostis. A violência no seio da família
é escola de ressentimento e ódio nas relações humanas básicas».[39]
52. Ninguém pode pensar que o enfraquecimento da
família como sociedade natural fundada no matrimónio seja algo que beneficia a
sociedade. Antes pelo contrário, prejudica o amadurecimento das pessoas, o
cultivo dos valores comunitários e o desenvolvimento ético das cidades e das
aldeias. Já não se adverte claramente que só a união exclusiva e indissolúvel
entre um homem e uma mulher realiza uma função social plena, por ser um
compromisso estável e tornar possível a fecundidade. Devemos reconhecer a
grande variedade de situações familiares que podem fornecer uma certa regra de
vida, mas as uniões de facto ou entre pessoas do mesmo sexo, por exemplo, não
podem ser simplistamente equiparadas ao matrimónio. Nenhuma união precária ou
fechada à transmissão da vida garante o futuro da sociedade. E, todavia, quem
se preocupa hoje com fortalecer os cônjuges, ajudá-los a superar os riscos que
os ameaçam, acompanhá-los no seu papel educativo, incentivar a estabilidade da
união conjugal?
53. «Nalgumas sociedades, vigora ainda a prática da
poligamia; noutros contextos, permanece a prática dos matrimónios combinados.
(...) Em muitos contextos, e não apenas ocidentais, está a difundir-se
largamente a prática da convivência que precede o matrimónio e também a prática
de convivências não orientadas para assumir a forma dum vínculo institucional».[40] Em vários países, a legislação
facilita o avanço de várias alternativas, de modo que um matrimónio com as
características de exclusividade, indissolubilidade e abertura à vida acaba por
aparecer como mais uma proposta antiquada entre muitas outras. Avança, em
muitos países, uma desconstrução jurídica da família, que tende a adoptar
formas baseadas quase exclusivamente no paradigma da autonomia da vontade.
Embora seja legítimo e justo rejeitar velhas formas de família «tradicional»,
caracterizadas pelo autoritarismo e inclusive pela violência, todavia isso não
deveria levar ao desprezo do matrimónio, mas à redescoberta do seu verdadeiro
sentido e à sua renovação. A força da família «reside essencialmente na sua
capacidade de amar e ensinar a amar. Por muito ferida que possa estar uma
família, ela pode sempre crescer a partir do amor».[41]
54. Neste relance sobre a realidade, desejo
salientar que, apesar das melhorias notáveis registadas no reconhecimento dos
direitos da mulher e na sua participação no espaço público, ainda há muito que
avançar nalguns países. Não se acabou ainda de erradicar costumes inaceitáveis;
destaco a violência vergonhosa que, às vezes, se exerce sobre as mulheres, os
maus-tratos familiares e várias formas de escravidão, que não constituem um
sinal de força masculina, mas uma covarde degradação. A violência verbal,
física e sexual, perpetrada contra as mulheres nalguns casais, contradiz a
própria natureza da união conjugal. Penso na grave mutilação genital da mulher
nalgumas culturas, mas também na desigualdade de acesso a postos de trabalho
dignos e aos lugares onde as decisões são tomadas. A história carrega os
vestígios dos excessos das culturas patriarcais, onde a mulher era considerada
um ser de segunda classe, mas recordemos também o «aluguer de ventres» ou «a
instrumentalização e comercialização do corpo feminino na cultura mediática
contemporânea».[42]Alguns consideram que muitos dos
problemas atuais ocorreram a partir da emancipação da mulher. Mas este
argumento não é válido, «é falso, não é verdade! Trata-se de uma forma de
machismo».[43] A idêntica dignidade entre o homem
e a mulher impele a alegrar-nos com a superação de velhas formas de discriminação
e o desenvolvimento dum estilo de reciprocidade dentro das famílias. Se
aparecem formas de feminismo que não podemos considerar adequadas, de igual
modo admiramos a obra do Espírito no reconhecimento mais claro da dignidade da
mulher e dos seus direitos.
55. O homem «desempenha um papel igualmente
decisivo na vida da família, especialmente na proteção e sustentamento da
esposa e dos filhos. (...) Muitos homens estão conscientes da importância do
seu papel na família e vivem-no com as qualidades peculiares da índole
masculina. A ausência do pai penaliza gravemente a vida familiar, a educação
dos filhos e a sua integração na sociedade. Tal ausência pode ser física, afetiva,
cognitiva e espiritual. Esta carência priva os filhos dum modelo adequado do
comportamento paterno».[44]
56. Outro desafio surge de várias formas duma
ideologia genericamente chamada gender, que «nega a diferença e a
reciprocidade natural de homem e mulher. Prevê uma sociedade sem diferenças de
sexo, e esvazia a base antropológica da família. Esta ideologia leva a projetos
educativos e diretrizes legislativas que promovem uma identidade pessoal e uma
intimidade afetiva radicalmente desvinculadas da diversidade biológica entre
homem e mulher. A identidade humana é determinada por uma opção individualista,
que também muda com o tempo».[45] Preocupa o facto de algumas
ideologias deste tipo, que pretendem dar resposta a certas aspirações por vezes
compreensíveis, procurarem impor-se como pensamento único que determina até
mesmo a educação das crianças. É preciso não esquecer que «sexo biológico (sex)
e função sociocultural do sexo (gender) podem-se distinguir, mas não
separar».[46]Por outro lado, «a revolução
biotecnológica no campo da procriação humana introduziu a possibilidade de
manipular o acto generativo, tornando-o independente da relação sexual entre
homem e mulher. Assim, a vida humana bem como a paternidade e a maternidade
tornaram-se realidades componíveis e decomponíveis, sujeitas de modo
prevalecente aos desejos dos indivíduos ou dos casais».[47]Uma coisa é compreender a fragilidade
humana ou a complexidade da vida, e outra é aceitar ideologias que pretendem
dividir em dois os aspectos inseparáveis da realidade. Não caiamos no pecado de
pretender substituir-nos ao Criador. Somos criaturas, não somos omnipotentes. A
criação precede-nos e deve ser recebida como um dom. Ao mesmo tempo somos
chamados a guardar a nossa humanidade, e isto significa, antes de tudo,
aceitá-la e respeitá-la como ela foi criada.
57.
Dou graças a Deus porque muitas famílias, que estão bem longe de se
considerarem perfeitas, vivem no amor, realizam a sua vocação e continuam para
diante embora caiam muitas vezes ao longo do caminho. Partindo das reflexões
sinodais, não se chega a um estereótipo da família ideal, mas um interpelante
mosaico formado por muitas realidades diferentes, cheias de alegrias, dramas e
sonhos. As realidades que nos preocupam, são desafios. Não caiamos na armadilha
de nos consumirmos em lamentações auto defensivas, em vez de suscitar uma
criatividade missionária. Em todas as situações, «a Igreja sente a necessidade
de dizer uma palavra de verdade e de esperança. (...) Os grandes valores do
matrimónio e da família cristã correspondem à busca que atravessa a existência
humana».[48]Se constatamos muitas dificuldades, estas
são – como disseram os bispos da Colômbia – um apelo para «libertar em nós as
energias da esperança, traduzindo-as em sonhos proféticos, acções
transformadoras e imaginação da caridade».[49]
Vatican News
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