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Redação (30/03/2021 10:34, Gaudium Press) Nenhum de seus apóstolos, finalizada a Última Ceia, imaginava que, ao sair do Cenáculo, seria iniciado o horroroso drama que o mundo jamais havia visto: a Paixão do Filho de Deus.
Chegado ao Horto das Oliveiras, nos relata o Padre Berthe em seu livro “Jesus Cristo: sua vida, sua paixão e seu triunfo” (1902): “a humanidade de Cristo encontrou-se na presença da visão aterradora do martírio que deveria sofrer. Ele viu passar diante de seus olhos toda classe de instrumentos de tortura, cordas, açoites, cravos, espinhos, cruz, algozes proferindo zombarias e blasfêmias, um populacho delirante enchendo-lhe de incontáveis insultos. Todas as abominações e todos os crimes, desde o pecado de Adão até a última maldade cometida pelo último dos homens, se apresentaram diante de seus olhos e o oprimiram como se ele fosse culpado deles. Ele viu milhões de pecadores resgatados ao preço de seu sangue, que lhe perseguiam com seu desprezo e ódio feroz por toda a duração dos séculos. Ele os viu fazendo guerra à sua Igreja, pisoteando a Santa Hóstia, deslocando a sua Cruz, blasfemando contra a sua divindade, massacrando os seus filhos e trabalhando com todas as suas forças para lançar no inferno aqueles mesmos pelos quais ele ia sacrificar a sua vida”.
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Aplicação aos dias atuais
Que sublime meditação poderemos fazer ao reler estes elevados pensamentos!
Mas seria ofuscada se não soubéssemos como aplicá-la aos dias que vive o mundo, que vive a Santa Igreja. Erraríamos se não aprofundássemos que: “no alto da Cruz, Nosso Senhor Jesus Cristo não sofreu apenas em razão dos ultrajes morais e físicos que lhe foram infligidos pelos seus algozes. Ele também padeceu em previsão de todos os pecados que seriam cometidos até a consumação dos tempos”, como expressou o Doutor Plinio Corrêa de Oliveira, em maio de 1969. “Entre eles, acentuava profeticamente a trama secreta feita em poderosos meios católicos para ‘reformar’ a Igreja – transformando-a em uma Igreja desacralizada – que constituiu, certamente, um dos mais atrozes tormentos do nosso Divino Redentor. Sim, dEle, que ensinou por sua Vida, Paixão e Morte o oposto de todos aqueles erros gritantes”.
Alguns podem dizer que foram exageros do maior líder católico do século XX no Brasil. Talvez mais “exageradas”, responderia, tenham sido as palavras proferidas pelo Papa Paulo VI, em 29 de junho de 1972, na missa de seu décimo ano de Pontificado. Referindo-se à situação da Igreja, há cinquenta anos, o Santo Padre afirmou que tinha a sensação de que: “por alguma fenda a fumaça de Satanás entrou no templo de Deus”. Via preocupações, insatisfação, confrontação. Considerava que haviam chegado: “nuvens, tempestades, trevas e incertezas”, e concluía – mais “exageradamente” diriam alguns críticos – afirmando: “houve intervenção de um poder adverso. Seu nome é demônio, este misterioso ser que também se alude na Carta de São Pedro”.
Quarenta anos depois, o Papa Emérito Bento XVI manifestava que: “o barco da Igreja navega com vento contrário, com tempestades que o ameaçam” (11/10/2012).
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A Paixão da Igreja
Tempestades que o Dr. Plinio alertava – e os citados Papas confirmaram – baseado na denúncia da famosa revista católica Ecclesia de Madrid (11-01-1972), sobre a atuação dos chamados “grupos proféticos”, que pululavam nos ambientes fora e dentro das comunidades católicas. Se tinha a impressão de que a Igreja se encontrava como um país minado pelo inimigo, penetrado por adversários ocultos, sofrendo uma infiltração semi clandestina nas mais variadas organizações católicas – seminários, universidades, colégios, obras sociais, etc. -, um polvo instalado dentro.
“A Igreja atravessa hoje um momento de inquietude. Alguns praticam a autocrítica, inclusive se diria autodemolição”, assinalava Paulo VI em 1968. Se difunde uma doutrina relativista e evolucionista, repetidas vezes condenada pelo Magistério da Igreja desde os tempos do Papa São Pio X. Se apresenta diante de nós uma espécie de “anti-Igreja”.
Assim como vemos Jesus Nosso Senhor em sua paixão, coberto de chagas, coroado de espinhos, carregando a cruz rumo ao Calvário; a crise de Fé que se vive, no âmbito da Santa Igreja, é como se Ela própria – Corpo Místico de Cristo – estivesse percorrendo uma Via Sacra. Nós a vemos desolada, caminhando a passos trôpegos, com o rosto deformado, maquiada como se fosse um palhaço.
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Aparições proféticas: Salette, Santa Faustina
Ao longo dos séculos, não foram poucas as aparições que anunciaram, com tristeza e duras expressões, os pecados que viriam e a crise religiosa que se aproximava. Nas aparições de La Salette (1846), a Virgem afirmou aos pastores videntes Maximino e Melania Calvat: “A Igreja passará por uma crise terrível”.
Santa Maria Faustina Kowalska, vidente do Senhor da Misericórdia (1931), relata que, durante uma adoração noturna ao Santíssimo Sacramento, viu: “O Senhor Jesus amarrado a uma coluna, despido de suas roupas e imediatamente começou a flagelação. Então o Senhor me disse estas palavras: Estou sofrendo uma dor ainda maior do que a que você está vendo. Em seguida vi coisas terríveis: outros homens se aproximaram para flagelar. Eram sacerdotes, religiosos e religiosas, os mais altos dignitários da Igreja, o que me surpreendeu muito, leigos de diferentes idades e condição, todos descarregaram sua ira sobre o inocente Jesus”. Então o Senhor acrescentou: “Veja, aqui está um suplício maior que minha a morte”.
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Fatos que profetizavam a crise que estamos testemunhando. Crises que podem nos desencorajar, nos deixar inseguros, temer que o navio da Igreja esteja afundando. Não! Recordemos as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo a São Pedro: “As portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18).
Sabiamente o Papa São Pio X nos dá clareza nas borrascas que presenciamos: “Quando a Igreja aparece sacudida e quase submersa pela tormenta mais feroz, reaparece mais bela, mais vigorosa e mais pura, resplandecente no esplendor das maiores virtudes” (26-5-1910).
Sete anos depois a Virgem em Fátima afirmava, categoricamente, ao final de sua Mensagem: “Por fim, Meu Imaculado Coração Triunfará”. Rezemos, esperemos, veremos.
Por Padre Fernando Gioia, EP
Traduzido por Emílio Portugal Coutinho
(Publicado originalmente em La Prensa Gráfica de El Salvador, 28-3-2021)
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