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sábado, 13 de março de 2021

PAIS DA IGREJA: São Gregório Palamas (Parte 1/3)

São Gregório Palamas | ECCLESIA
Arcipreste George Florovsky

«São Gregório Palamas
e a Tradição dos Padres»

Tradução: Rev. Pedro Oliveira Junior

1. Seguindo os Padres…

ra normal, na Igreja primitiva, se introduzir afirmações doutrinais por frases como esta. O Decreto de Calcedônia abre precisamente com estas palavras. O Sétimo Concílio Ecumênico introduz sua decisão a respeito dos Santos Ícones de maneira mais elaborada: "Seguindo o ensinamento Divinamente inspirado dos Santos Padres e a Tradição da Igreja Católica..." A didaskalia dos Padres é o formal e normativo termo de referência.

Porém, isto era muito mais do que um simples "apelo à Antigüidade." De fato, a Igreja sempre enfatizou a permanência de sua fé através dos séculos, desde o princípio. Esta identidade, desde os tempos apostólicos, é o sinal mais conspícuo e simbólico da fé correta — sempre a mesma. No entanto, Antigüidade de per si não é prova adequada da verdadeira fé. Além disso, a mensagem Cristã foi obviamente uma "novidade" chocante para o "mundo antigo," e, de fato, uma chamada para uma radical "renovação." O "Velho" tinha passado, e tudo tinha que ser "feito Novo." De outro lado, heresias podiam também fazer apelo ao passado e invocar a autoridade de certas "tradições." Na verdade, as heresias ficavam, com freqüência, persistindo no passado.[1] Fórmulas arcaicas podem freqüentemente ser perigosamente enganadoras. Vincent de Lerins estava plenamente consciente deste perigo. Será suficiente citar esta patética passagem dele: "E agora, que surpreendente inversão de situação! Os autores da mesma opinião são julgados católicos, mas os seguidores — heréticos; os mestres são absolvidos, os discípulos são condenados; os escritores dos livros serão filhos do Reino, seus seguidores irão para a Gehena" (Commonitorium, capítulo 6). Vincent tinha em mente, por certo, São Cipriano e os Donatistas. O próprio São Cipriano enfrentou a mesma situação. "Antigüidade" como tal pode acontecer ser simplesmente um inveterado prejuízo: "nam antiquitas sine veritate vetustas erroris est (Epístola 74). Quer dizer — Antigüidade sem verdade é um erro antigo, ou seja, "velhos costumes" em si não garantem a verdade. "Verdade" não é um simples "hábito".

A verdadeira tradição só é tradição da verdade, traditio veritatis. Esta tradição, segundo São Irineu, é baseada em, e assegurada por, aquele charisma veritatis certum (carisma seguro da verdade), que foi "depositado" na Igreja desde do inicio desta e que foi preservado pelo ininterrupto ministério episcopal. "Tradição" na Igreja não é a continuidade da memória humana, ou a permanência de ritos e hábitos. É uma tradição viva — depositum juvenescens, na frase de São Irineu. Conseqüentemente, ela não pode ser considerada inter mortuas regulas[entre regras mortas]. Finalmente, a tradição é a presença permanente do Espírito Santo na Igreja, a continuidade do Divino direcionamento e iluminação. A Igreja não é limitada pela "letra." Ao invés, ela é movida constantemente pelo "Espírito." O mesmo Espírito, o Espírito de Verdade, Que "falou pelos Profetas," Que guiou os Apóstolos, ainda está continuadamente guiando a Igreja na sua total compreensão e entendimento da Divina verdade, de glória em glória.

"Seguindo os Santos Padres"... Isto não é uma referência a alguma tradição abstrata em fórmulas e proposições. É principalmente um apelo para um santo testemunho. Na verdade, nós apelamos para os Apóstolos, e não simplesmente para uma "Apostolicidade" abstrata. De maneira similar nós nos referimos aos Padres. O testemunho dos Padres se refere, intrínseca e integralmente, para a própria estrutura da crença Ortodoxa. A Igreja está igualmente comprometida com o kerygma dos Apóstolos e com os dogmas dos Padres. Devemos citar neste ponto um admirável hino antigo (provavelmente da lavra de São romano o Melódio). "Preservando o kerygma dos apóstolos e o dogma dos Padres, a Igreja selou a fé una e usando a túnica da verdade ela forma justamente o brocado da teologia celeste e louva o grande mistério da piedade." [2]

2. A mente dos Padres

A Igreja é, de fato, Apostólica. Mas ela é também "Patrística." Ela é, intrinsecamente, "a Igreja dos Padres." Estas duas "posições" não podem ser separadas. Somente por ser "Patrística" a Igreja é verdadeiramente "Apostólica." O testemunho dos Padres é muito mais do que um simples atributo histórico, uma voz do passado. Citemos um outro hino — do oficio dos Três Hierarcas. "Pela palavra do conhecimento vós compusestes os dogmas que os pescadores primeiro estabeleceram em simples palavras, com o conhecimento dado pelo poder do Espírito, pois assim nossa simples piedade teve que adquirir composição." Existem, como se fossem, dois estágios básicos na composição na proclamação da fé Cristã. "Nossa fé simples teve que adquirir composição." Existiu uma compulsão interna, uma lógica interior, uma necessidade interior, nesta transição de kerygma para dogma. Na verdade, o ensinamento dos Padres, e os dogmas da Igreja, são ainda a "simples mensagem," que foi então liberada e depositada, de uma vez por todas, pelos Apóstolos. Mas agora está, como se fosse, própria e perfeitamente articulada. A pregação Apostólica é mantida viva na Igreja, não simplesmente preservada. Neste sentido, o ensinamento dos Padres é uma categoria permanente de existência Cristã, uma constante e definitiva medida do critério da fé correta. Os Padres não são somente testemunhas da fé antiga, testes antiquitatis. Ao invés, eles são testemunhas da verdadeira fé, testes veritatis. A "mente dos Padres" é um termo intrínseco de referência da teologia Ortodoxa, não menos que as palavras da Santa Escritura, e na verdade, nunca separada dela. Como foi dito muito bem, "a Igreja Católica de todos os tempos não é meramente uma filha da Igreja dos Padres — ela é e permanece a Igreja dos Padres." [3]

3. O caráter existencial da teologia patristica

A marca distintiva principal da Teologia Patrística foi seu caráter "existencial," se nós podemos usar este neologismo atual. Os Padres "teologizaram," como São Gregório de Nazianzo coloca, "na maneira dos Apóstolos, e não na maneira de Aristóteles" — αλιευτικωςριστοτελικως (Hom. 23. 12). Sua teologia era ainda uma "mensagem," um kerygma. A teologia deles ainda era uma "teologia kerigmática," ainda que ela, freqüentemente, fosse arranjada logicamente e suprida com argumentos intelectuais. As referências definitivas eram ainda, segundo a visão da fé, ao conhecimento e experiência espiritual. Separada da vida, a teologia Cristã não leva convicção, e se separada da vida da fé, a teologia pode degenerar em dialética vazia, numa vã polylogia, sem nenhuma conseqüência espiritual. A teologia Patrística era enraizada existencialmente no decisivo comprometimento da fé. Não era uma disciplina "auto-explanatória" que poderia ser apresentada argumentativamente, isto é aristotelicamente, sem nenhum compromisso espiritual prévio. Na época da disputa teológica e de debates incessantes, os grandes Padres Capadócios protestaram formalmente contra o uso da dialética, dos "silogismos Aristotélicos," e lutaram para referir a teologia de volta para a visão da fé. A teologia Patrística só poderia ser "pregada" ou "proclamada" — pregada do púlpito, proclamada também nas palavras das orações e dos ritos sagrados, e assim manifestada na estrutura total da vida Cristã. Teologia deste tipo não pode nunca ser separada da vida de oração e do exercício das virtudes. "O clímax da pureza é o inicio da teologia," como coloca São João Clímaco: τελος δε αγνειας υποθεσις θεολογιας (Scala Paradisi, grau 30).

De outro lado, teologia deste tipo é sempre "propedêutica" já que seu último objetivo e propósito é procurar e reconhecer o Mistério do Deus Vivo, e, de fato, ser testemunha disto, em palavras e atos. "Teologia" não é um fim em si. Ela é sempre somente um caminho. Teologia, e até os "dogmas" não são mais do que um "contorno intelectual" da verdade revelada, e um testemunho "noético" dela. Somente em um ato de fé este contorno é preenchido com conteúdo. Formulas Cristológicas são significativas somente para aqueles que encontraram o Cristo Vivo, e receberam um conhecimento Dele como Deus e Salvador, e por fé,estão habitando Nele, em Seu Corpo, na Igreja. Neste sentido a teologia nunca é uma disciplina auto-explanatória. Ela está constantemente apelando para a visão da fé. "O que nós vimos e ouvimos nós anunciamos para vós." Separadas deste "anuncio" as fórmulas teológicas são vazias e sem conseqüência. Pela mesma razão, estas fórmulas nunca podem ser tomadas "abstratamente," isto é, fora do contexto total da crença. É desorientador individualizar afirmações particulares dos Padres, e destacá-las da perspectiva total da qual elas foram, realmente, proferidas, assim como é desorientadora a manipulação com citações individualizadas das Escrituras. É um hábito perigoso "citar os Padres," isto é, seus ditos e frases isoladas, fora daquela colocação concreta da qual só eles têm o total e apropriado significado e estão verdadeiramente vivos. "Seguir" os Padres, não significa simplesmente "citá-los." "Seguir" os Padres significa adquirir sua "mente," o phronema deles.

NOTAS

1. Tem sido sugerido recentemente que os Gnósticos foram, de fato, os primeiros a invocar formalmente a autoridade de uma "Tradição Apostólica," e que foi este uso por eles que moveu São Irineu a elaborar seu próprio conceito de tradição. D. B. Reynders "Paradosis: Le proges de l'idee de tradition jusqu'a Saint Irenee," em Recherches de Theologie ancienne et medievale, V (1933), Louvain, 155-191. Em todo caso, os Gnósticos costumavam se referir à «Tradição».

2. Paul Maas, ed.. Fruhbyzantinische Kirchenpoesie, I (Bonn, 1910), p. 24.

3. Louis Bouyer, "Le renouveau des etudes patristiques," em La Vie Intellectuelle, XV (Fevereiro 1947), 18.

FONTE:

Folheto Missionário da Holy Trinity Orthodox Mission
466 Foothill Blvd, Box 397, La Canada, Ca 91011
Redator: Bispo Alexandre Mileant


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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF