Religiosa ajoelhada diante de policiais em Myitkyna Vatican News |
O
Papa Francisco voltou a lançar um premente apelo pelo fim da violência em
Mianmar: "Que prevaleça o diálogo!"
Jackson Erpen – Vatican News
Ao final da Audiência Geral desta quarta-feira o
Papa Francisco fez um dramático apelo pelo fim da violência em Mianmar, que tem
vitimado especialmente muitos jovens. E a exemplo das cenas dos últimos dias de
religiosos ajoelhados suplicando a policiais birmaneses para evitar a
violência, Francisco disse que também ele estende seus braços e pede que
“prevaleça o diálogo”:
Mais uma vez e com grande tristeza, sinto a
urgência de evocar a dramática situação em Mianmar, onde muitas pessoas,
sobretudo jovens, estão perdendo a vida para oferecer esperança ao seu país. Eu
também me ajoelho nas ruas de Mianmar e digo: pare a violência! Também eu
estendo meus braços e digo: prevaleça o diálogo!
Recrudescimento da repressão
Segundo estimativas das Nações Unidas, são ao menos
149 os mortos desde o início dos protestos, 57 apenas no último final de
semana, o mais sangrento desde o golpe militar de 1º de fevereiro. Além do uso
de munição letal contra os manifestantes, as forças de segurança continuam a
efetuar prisões arbitrárias em todo o país, invadindo residências e prendendo
opositores. Os detidos ilegalmente são centenas, senão milhares. O Alto
Comissariado das Nações Unidas para os direitos humanos fala em
“desaparecimentos forçados”.
Religiosas (os) tornam-se exemplo de
mediação e resistência pacífica
E em meio ao recrudescimento da violência das
forças de segurança nos protestos, chamou a atenção o gesto da Irmã Ann Nu
Thawng, que em uma rua na cidade de Myitkyina, se ajoelhou diante de uma
barreira de policiais prontos a investir contra os manifestantes. A religiosa
acabou se tornando um símbolo de mediação e da resistência pacífica às
arbitrariedades e um modelo para lideranças da Igreja local, como bispos e
sacerdotes, chamados “a sair de sua zona de conforto e tomar como exemplo a sua
coragem”, como afirmou na ocasião Joseph Kung Za Hmung, editor do Gloria
News Journal, o primeiro jornal católico on-line em Mianmar.
A atitude da religiosa da Congregação de São
Francisco Xavier, Instituto de direito diocesano em Myitkyina, voltou a se repetir no dia 8 de março, e
também ecoou no coração de lideranças e de outros religiosos, entre os quais, o
bispo emérito da Diocese, Dom Francis Daw Tang, que tentou impedir que
policiais invadissem a Catedral de São Columbano, onde jovens manifestantes
buscaram refúgio para escapar de espancamentos e da prisão. Apesar do
apelo da religiosa e do bispo "para não prender e perseguir manifestantes
pacíficos", os policiais abriram fogo e se recusaram a deixar o local.
No dia 9 de março, na cidade de Loikaw, capital do
Estado birmanês de Kayah, foi a vez do padre Celso Ba Shwe e de um pastor
protestante se posicionaram entre manifestantes e policiais, implorando aos
agentes para não avançarem e não atirarem contra os manifestantes. A mediação
surtiu efeito: os militares dispararam tiros de advertência e granadas de
atordoamento para dispersar a multidão, sem causar vítimas.
Apelos do Papa Francisco
O primeiro apelo do Papa pelo diálogo em Mianmar
foi no Angelus de 7
de fevereiro, dias após o golpe militar de 1º de fevereiro:
Neste momento tão delicado quero assegurar mais uma
vez minha proximidade espiritual, minha oração e minha solidariedade com o povo
de Mianmar. E rezo para que todos aqueles que têm responsabilidades no país se
coloquem com sincera disponibilidade a serviço do bem comum, promovendo a
justiça social e a estabilidade nacional, para uma harmoniosa convivência
democrática. Rezemos por Mianmar.
Na Audiência Geral de 3 de março, o Pontífice
voltou a lançar um apelo pelo país asiático por ele visitado em novembro de
2017, para que o diálogo prevalecesse sobre a repressão e a discórdia:
Ainda estão chegando de Mianmar notícias tristes de
sangrentos confrontos, com perdas de vidas humanas. Gostaria de chamar a
atenção das autoridades envolvidas para que o diálogo prevaleça sobre a
repressão e a harmonia sobre a discórdia. Dirijo um apelo também à comunidade
internacional, para que atue a fim de que as aspirações do povo de Mianmar não
sejam sufocadas pela violência. Que aos jovens daquela amada terra seja
concedida a esperança de um futuro onde o ódio e a injustiça deem lugar ao
encontro e à reconciliação.
No
dia 15 de março, por sua vez, em nome do Santo Padre, o cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin, escreveu ao arcebispo
de Yangon e Presidente da Conferência Episcopal de Mianmar, cardeal Charles Bo,
demonstrando uma vez mais a preocupação do Pontífice pelo desdobramento dos
acontecimentos e seu amor pela nação asiática. A paz é possível, a paz é o
único caminho, escreveu o cardeal secretário de Estado, exortando à unidade
para encontrar o bem maior para todos, especialmente para satisfazer as
esperanças e garantir a dignidade de nossas gerações mais jovens.
Vatican News
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