Brasil de Fato RS |
Bispo de Marabá (PA)
A solidariedade é uma
atitude humana e cristã de ajudar o próximo nas necessidades físicas,
econômicas e espirituais. Ela diz respeito ao amor que se demonstra à outra
pessoa, pois não há nada melhor ao ser humanos para ser feliz do que praticar o
bem enquanto vive (cfr. Eclo 3,12).
Jesus mesmo disse que se identificará com os mais necessitados no dia do
julgamento final: “foi a mim que o fizestes ou foi a mim que não o fizestes”
(cfr. Mt 25, 40; 45). Estamos
vivenciando o tempo pascal, onde Cristo venceu o pecado, a morte e ressuscitou.
Nós também estamos vivendo o tempo da pandemia, que exige solidariedade para
com as pessoas necessitadas. A fome está batendo às nossas portas. O Papa
Francisco pede a toda a pessoa de boa vontade a solidariedade para com os
sofredores. Muitas são as perdas e muitas são as pessoas que pedem ajuda.
A pandemia e a questão da fome
A pandemia está acarretando milhares de mortes, muitas entre nossos familiares,
amigos e amigas. Nesta atual fase da pandemia, observa-se que o vírus atinge
fortemente pessoas jovens e de meia idade, com grande número de internações
entre indivíduos com menos de 40 anos, segundo os meios de comunicação social.
Noticia-se também a falta de insumos para tratamento das pessoas acometidas
pelo vírus da covid 19, de modo que os pacientes poderão sofrer mais ainda
durante o processo de recuperação ou poderão vir a falecer. Há o colapso da
rede hospitalar pública e privada, com mortes de pacientes aguardando na fila
por um leito.
O sofrimento causado pela covid 19 é agravado pelo crescimento
exponencial de famílias que passam fome, pois o país passou a figurar na
geopolítica da miséria. A pandemia resultou em quase vinte milhões de
brasileiros e de brasileiras em situação de fome, o que significa quase dez por
cento da população. Estes dados são preocupantes e apontam para a necessidade
de ações em favor dos muitos necessitados. É preciso ter cuidado para não se
contaminar com o vírus, através de medidas sanitárias, mas é também
imprescindível realizar ações em prol da vida do próximo, porque o amor a Ele
leva ao amor a Deus.
No ano passado: a solidariedade e a pandemia
No ano passado, quando do início da pandemia, tivemos momentos de solidariedade
muito fortes em nossas comunidades cristãs e sociais. Muitas organizações
doaram alimentos para as pessoas pobres e desempregadas. Em Marabá, os
agricultores acampados ajudaram os povos indígenas com a doação de alimentos.
As organizações eclesiais auxiliaram na compra de cestas básicas. Muitas famílias
carentes e organizações sociais receberam cestas básicas. Sociedades
empresariais de nossa região doaram mais de seis mil cestas para as famílias
carentes, acompanhadas de álcool gel, máscaras e material de limpeza.
A ajuda emergencial e a alta dos preços
Milhares de famílias foram ajudadas no ano passado pelo auxílio emergencial do
governo federal. Esse auxílio se destinava aos trabalhadores informais, microempreendedores
individuais, autônomos e desempregados, e tinha por objetivo fornecer proteção
emergencial no período de enfrentamento à crise causada pela pandemia do corona
vírus – COVID 19. Acreditamos que tal ajuda possibilitou a retomada de vida
para milhares de pessoas em relação à alimentação e ao sustento da própria vida
familiar e social. Este ano, uma nova ajuda emergencial está sendo
proporcionada pelo governo federal, menor que aquela do ano passado, mas que
certamente ajudará milhares de famílias que se encontram em situação de fome e
de miséria.
Diante da alta dos preços como, por exemplo, do botijão de gás liquefeito de
petróleo (GLP) de cozinha, muitas famílias estão preferindo a lenha para
cozinhar os alimentos. Havia a promessa do governo federal quanto à diminuição
do preço do gás, mas ocorreu o contrário. Por isso, as pessoas vão à busca de
pedaços de madeiras, muitas vezes perdidos, para a preparação dos alimentos.
Para algumas famílias, há também a economia com a substituição do uso de carro
por bicicletas porque o preço dos combustíveis está ficando sempre mais caro.
Diante dessas situações e outras, estamos unidos aos milhares de sofredores
nesta pandemia, a qual deixou milhares de famílias em situação crítica.
Contudo, não perdemos a esperança de uma situação melhor com o avanço da
vacinação por todo o país.
As paróquias e a solidariedade
As paróquias arrecadaram alimentos para ajudar os pobres nas diversas cidades
do Brasil, o que também ocorreu na Diocese de Marabá. Essa ajuda ameniza a fome
de muitas pessoas. Equipes paroquiais se mobilizaram em busca de alimentos para
serem distribuídos às pessoas e famílias carentes, pois a pandemia reduziu a
circulação de bens e serviços, modo que essa ajuda deu novo vigor na caminhada
de fé, de esperança e de caridade.
O momento atual: Cansaço pela solidariedade?
O momento atual clama pela solidariedade, o amor para com o
próximo. Os sofrimentos causados pela pandemia já se estendem por mais de 01
(um) ano e constata-se uma redução nas ações de solidariedade para com os mais
necessitados. É certo que todos estão estafados e, provavelmente, esse cansaço
pode ter afetado a mobilização social. Como dito acima, nos primeiros meses de
pandemia no país, as contribuições para projetos e iniciativas sociais eram
robustas e freqüentes, porém agora, no momento mais crítico e delicado da
doença no Brasil, as doações diminuíram significativamente. Mesmo nesse atual
terreno árido para a solidariedade, é preciso renovar nosso espírito e ações de
doação para o próximo e, nesse sentido, diversas instituições e meios de comunicação
social buscam motivar a sociedade para que a corrente de boas ações não se
rompa. A Igreja pede para as pessoas e órgãos competentes pela volta da
solidariedade, para que as doações aumentem e, assim, um maior número de
pessoas que passam fome ou necessidades possa receber auxílio alimentar.
Domingo da misericórdia, domingo da solidariedade
A CNBB lançou há um ano a Ação Solidária
Emergencial, no domingo da misericórdia de 2020. “É
tempo de Cuidar”, que apontou centenas de ações registradas em diversas
dioceses brasileiras com a arrecadação e doação de toneladas de alimentos e de
recursos financeiros. Na primeira fase, a campanha distribuiu alimentos,
roupas, calçados e equipamentos de proteção individual para as populações mais
vulneráveis. Neste ano, o domingo da misericórdia foi no dia 11 de abril, onde
ocorreu o relançamento desta Ação. As igrejas foram convidadas a repicar os
sinos às 15h, com o propósito de fazer lembrar a mensagem de que todas as vidas
humanas são importantes, frente aos números alarmantes de mortes em
conseqüência da pandemia.
Solidariedade aos moradores de rua
A Diocese de Marabá mantém um programa de solidariedade aos moradores de rua,
desde o início de pandemia, distribuindo marmitas para os mesmos. Esta ajuda é
dada também para os povos indígenas venezuelanos. Ações como esta são
importantes para amenizar o problema crescente da fome no país, de modo que o
menor auxílio, desde que feito com amor, ajudará muitas pessoas em suas
necessidades alimentares e espirituais. Tais ações são gestos concretos
realizados por aqueles que acreditam em Jesus Cristo, caminho, verdade e vida.
O amor ao próximo
A solidariedade não é feita por palavras, mas por ações efetivas que objetivem
salvar vidas neste tempo de pandemia. Estamos ajudando com a doação de máscaras
para a população carente, contribuindo para a redução da disseminação do vírus,
evitando que as gotículas de umas pessoas sejam transmitidas para outra. O
Senhor nos ajude nesta caminhada para sermos solidários com os outros e
realizarmos boas ações que enalteçam o Deus Uno e Trino.
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