Interior da Basílica do Santo Sepulcro | Vatican News |
"Precisamos
de um sinal para ver e de uma palavra para ouvir. Na verdade, nunca seremos
capazes de explicar a ressurreição, nenhuma teoria jamais poderia convencer. A
ressurreição somente pode ser encontrada, somente pode ser experimentada (...).
A primeira testemunha da ressureição é a Igreja, lugar onde o Ressuscitado nos
fala, através dos sacramentos e do anúncio da Palavra", disse o Patriarca
Latino de Jerusalém em sua homilia.
Vatican News
Às 7h30 deste Sábado Santo (horário local), o
Patriarca Latino de Jerusalém, arcebispo Pierbattista Pizzaballa, presidiu a
Vigília Pascal na Basílica do Santo Sepulcro. Para este Sábado, inda está
prevista para às 15h30, a entrada e procissão solene no Santo Sepulcro; às 18
horas as Vésperas em frente à Edícula e às 00h30, a Liturgia das Horas rambém
em frente à Edícula.
Eis a homilia do Patriarca Latino na íntegra:
"“Queridos irmãos e irmãs,
o Senhor ressuscitou, aleluia!
Com as leituras que acabamos de proclamar,
percorremos toda a história da salvação, desde criação até a redenção. Ouvimos
as maravilhas que o Senhor fez. O fio da meada que conecta o que ouvimos é a
fidelidade de Deus à Sua promessa, ao seu desejo de relação e encontro.
Fidelidade que exigiu a intervenção contínua do próprio Deus para retomar,
através do perdão, as relações continuamente interrompidas por nosso pecado.
O Evangelho proclamado é o ápice desta revelação.
Esta breve passagem contém três verbos significativos nos quais me concentrarei
brevemente: comprar, ver, ir.
Comprar
As três mulheres do Evangelho estão destroçadas
pela dor, mas não paralisadas por ela. Com a prisão e morte de Jesus, os
discípulos se dispersam, tudo parece perdido, os sonhos de despedaçaram, as
esperanças esvaneceram-se. Mas não para essas mulheres. Elas têm a capacidade
de resistir à dor, de ir mais além do aparente fracasso e não hesitam em gastar
dinheiro para comprar o que é necessário para honrar não a quem fracassou, mas
a um ente querido. Seu amor por Jesus não desapareceu com sua morte, seu
vínculo com o Mestre vai além dos sonhos humanos de um novo reino. O verdadeiro
amor é gratuito, não depende das circunstâncias e não conhece a morte. Por isso
querem ir ao Sepulcro, para um último ato de piedade. E compram o que é
necessário já no sábado à noite, não esperam o dia seguinte, pegam
imediatamente os óleos para um sepultamento adequado. Eles gastam seu dinheiro
para ungir o corpo do amado mestre da Galileia. Passaram os últimos anos
seguindo Jesus, cuidando dele, e continuam fazendo isso mesmo depois de sua
morte.
Se tivéssemos que observar nossa experiência hoje,
a quem nos assemelhamos? Somos como os discípulos dispersos e desorientados, ou
somos como as três mulheres, atingidas pela dor, mas não paralisadas? Os sinais
da morte sempre estarão conosco. Aqui entre nós e em todo o mundo, a morte não
se apaga e com ela a dor, as injustiças, os ciúmes, as divisões e, enfim, o que
lhe pertence. Porém a morte já não tem mais poder sobre nós, porque "o
amor de Cristo nos faz acreditar que, se um morreu por todos, todos portanto
morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si,
mas para aquele que morreu e ressuscitou por eles”. (2 Coríntios 5, 14-15).
Hoje somos convidados a aprender destas mulheres na sua maneira de viver
doando-se, consumindo verdadeiramente suas vidas por amor a Cristo, a olhar
para a Cruz como a medida desse amor que nos redimiu e para este sepulcro vazio
como o anúncio de uma vida eterna para todos nós. E a vida eterna já começa
aqui, agora. Já somos parte dela, porque estamos unidos a Ele, o Ressuscitado.
A Igreja, portanto, continua a anunciar a loucura
deste amor, que pode verdadeiramente mudar a vida do mundo e que não teme a
morte e as suas amarras
Ver
Todos os evangelhos da ressurreição usam o verbo
ver, mesmo que na realidade não houvesse nada para ver, porque o corpo de Jesus
não está mais no sepulcro. Nos Evangelhos não há descrições do evento da
ressurreição, mas apenas os sinais dela são mostrados, os encontros com as
testemunhas e, finalmente, o encontro com o próprio Ressuscitado. No Evangelho
de Marcos o sinal é a pedra do sepulcro já retirada (Mc 16, 4), e a testemunha
é o jovem vestido de branco, sentado à direita (Mc 16, 5).
Precisamos de um sinal para ver e de uma palavra
para ouvir. Na verdade, nunca seremos capazes de explicar a ressurreição,
nenhuma teoria jamais poderia convencer. A ressurreição somente pode ser
encontrada, somente pode ser experimentada. Todavia hoje, precisamos de
testemunhas que nos mostrem os sinais do Ressuscitado entre nós, que nos
anunciem com credibilidade que o mundo já não está nas mãos da morte. Parece
impossível, porém não é assim. Podemos os encontrar hoje, e são muitos.
As testemunhas hoje são aquelas que, apesar de
todas as adversidades, dores, solidão, doença e injustiça, passam a vida
criando oportunidades para a justiça, o amor e a aceitação. São aqueles que
sabem perdoar, porque já se sentem perdoados. São aqueles que no silêncio de
cada dia dão a vida pelos seus filhos e pelos filhos dos outros, que consideram
cada pessoa parte do seu próprio destino e que cuidam dele com amor e paixão
independentemente de si próprios.
A primeira testemunha é a Igreja, lugar onde o
Ressuscitado nos fala, através dos sacramentos e do anúncio da Palavra.
O Evangelho hoje nos convida a ser uma Igreja
corajosa, que não teme a solidão e a incompreensão, que se encontra cada dia
com o Ressuscitado e o manifesta serenamente ao mundo com uma palavra clara e
segura, com um testemunho livre, decidido e apaixonado.
Ir
Para ver e testemunhar o ressuscitado, primeiro
deve-se mover. As mulheres foram primeiro ao Sepulcro, viram-no vazio,
encontraram-se com a testemunha e de lá foram convidadas a ir ver Pedro e os
discípulos e depois a Galileia. O gesto de ver está vinculado a ir. Não se
encontra o Ressuscitado se não se vai primeiro ao Sepulcro, não o podemos
encontrar se permanecermos fechados em nossos próprios cenáculos. E não podemos
ficar imóveis se vemos e encontramos o Ressuscitado.
Nós, para onde vamos? Viemos aqui várias vezes ao
sepulcro vazio de Cristo. Nós o adoramos diariamente, como as mulheres do
Evangelho. No entanto, às vezes me parece que estamos tão quietos, em todos os
sentidos. O que e para quem anunciamos, como o fazemos?
Se há um testemunho mais necessário hoje do que
nunca, é precisamente o testemunho da esperança. Os sinais do medo se
manifestam, mas não devem impedir nossa caridade. «Não tenhas medo! Buscais a
Jesus de Nazaré, o crucificado? Ele não está aqui, ressuscitou» (Mc 16,6). O
Cristo ressuscitado é a nossa esperança e é isto que somos chamados a
testemunhar, indo a todos os lugares, sem parar.
Portanto, não vamos retroceder ou nos fechar em
nossos medos. Não permitamos que a morte e seus súditos nos assustem. E também
não nos limitemos a venerar este túmulo vazio. A ressurreição é o anúncio de
uma nova alegria que irrompe no mundo e que não pode ficar fechada neste Lugar,
mas ainda hoje deve chegar a todos a partir daqui. «Ide e dizei aos discípulos
e a Pedro que ele vai à vossa frente ...» (Mc 16, 7).
Onde está? Em todas as partes. Na Galileia e na
montanha; no Cenáculo e no caminho para Emaús; no mar e nos desertos, onde o
homem monta a sua tenda, parte o pão, constrói as suas cidades, chorando e
cantando, a suspirar e maldizendo. "Ele te precede, vai na tua
frente." (Padre Primo Mazzolari).
Que a nossa Igreja da Terra Santa também
experimente hoje o Ressuscitado, viva na sua luz, goze da sua presença,
alimente-se do seu amor e continuar consumindo-se pela vida do mundo!
Feliz Páscoa!"
†Pierbattista Pizzaballa
Patriarca Latino de Jerusalén
Vatican News
Nenhum comentário:
Postar um comentário