S. Anselmo, 1160 | Vatican News |
A
força de um sonho
Quanta força tem um sonho? Folheando
as páginas da vida de Santo Anselmo, poder-se-ia dizer: muita força.
Uma noite, quando Anselmo ainda era criança, sonhou que Deus que o convidava
para ir sobre os cumes dos altos Alpes, onde lhe daria "um pão
puríssimo" para comer. Desde então, a vida do futuro Santo foi toda
voltada a "elevar a mente à contemplação de Deus". Este objetivo foi
levado adiante com absoluta abnegação, apesar das adversidades.
Nascido em Aosta, em 1033, no seio de uma família nobre, Anselmo sofreu fortes
contrastes com o pai, um homem rude e envolvido com os prazeres da vida, que o
impediu, com todos os meios, de entrar para a Ordem Beneditina, para evitar a
dispersão do patrimônio familiar. Diante da oposição paterna, Anselmo, com
apenas 15 anos, adoeceu por tamanha decepção. Ao recuperar a saúde, decidiu
partir para a França, onde se deixou levar pela dissipação moral, tornando-se
surdo ao chamado de Deus.
Um grande educador
Após três anos, teve um encontro
providencial com Lanfranco de Pavia, prior da Abadia Beneditina de Bec, na
Normandia, que reanimou a sua vocação. Finalmente, aos 27 anos, Anselmo pôde
entrar para a Ordem monacal e ser ordenado sacerdote.
Em 1063, tornou-se prior do mesmo mosteiro de Bec, onde demonstrou ser um
educador dócil, mas também determinado. Não gostava de métodos autoritários.
Por isso, preferiu o princípio de persuasão, que fazia os estudantes crescer
com sabedoria, ensinando-lhes o valor inviolável da retidão e a adesão livre e
responsável da verdade e da bondade.
Seu gênio educacional expressou-se com a "via discretionis", que
abrangia compreensão, misericórdia e firmeza. Os jovens, dizia Anselmo, são
como pequenas plantas que florescem, não fechadas em uma estufa, mas graças a
uma "liberdade saudável".
Em defesa da liberdade da Igreja
No entanto, tornando-se arcebispo de
Cantuária, Lanfranco de Pavia pediu ajuda ao seu discípulo para reformar a
comunidade eclesial local, devastada pela passagem dos invasores Normandos.
Assim, Anselmo transferiu-se para a Inglaterra, onde se dedicou, com paixão, à
nova missão, tanto que - com a morte de Lanfranco – foi seu sucessor na sede de
Cantuária, recebendo a ordenação episcopal em 1093.
Precisamente naquele período, o futuro Santo trabalha, sem cessar, pela
“libertas Ecclesiae”: apoiou, com inesgotável energia e intrépida coragem, a
independência do poder espiritual do poder temporal, defendendo a Igreja das
ingerências das autoridades políticas. Todavia, esta sua atitude custou-lhe
dois exílios da sede de Cantuária, para a qual retorna, definitivamente, apenas
em 1106, para dedicar os últimos anos da sua vida à formação moral dos
sacerdotes e à pesquisa teológica.
Anselmo faleceu em 21 de abril de 1109 e seus restos mortais foram sepultados
na famosa Catedral de Cantuária.
"Doutor Magnífico"
Como fundador da teologia
escolástica, a tradição cristã atribuiu-lhe o título de "Doutor
Magnífico" porque foi magnífico seu desejo de aprofundar os mistérios
divinos, através de três etapas: a fé, como dom gratuito de Deus; a experiência
ou encarnação da Palavra na vida diária; e o conhecimento ou intuição
contemplativa. De fato, Anselmo afirma: "Senhor, eu não tento penetrar na
vossa profundeza, porque nem posso comparar meu intelecto com ela. Porém,
queria entender, pelo menos até certo ponto, a vossa verdade, que meu coração
acredita e ama. Eu não procuro entender para acreditar, mas acredito para
entender".
Amor pela verdade e honestidade
episcopal
As principais obras de Anselmo - o
Monologion (Monólogo) e o Proslogion (Colóquio), que demonstram a existência de
Deus, respectivamente, a “posteriori” e a “priori” – pretendem reafirmar que Deus
é "o Ser do qual não se pode imaginar um maior".
Por outro lado, a grande coleção de epístolas de Anselmo revela a sua atuação e
o seu pensamento político, sempre inspirados no seu "amor pela
verdade", pela retidão e a honestidade episcopal, longe dos
condicionamentos temporais e dos oportunismos.
De fato, o Arcebispo de Cantuária escreve: "Prefiro discordar com homens
que, de acordo com eles, discordam com Deus", colocando em evidência os
traços do governante justo, que visa o bem comum e não seu interesse pessoal.
Em 1163, o Papa Alexandre III concedeu ao falecido Anselmo "a elevação do
corpo", um ato que, naquela época, correspondia à Canonização. Enfim, em
1720, o Papa Clemente XI o proclamou "Doutor da Igreja".
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