S. Marcos, Evangelista (© Biblioteca Apostolica Vaticana) |
São Marcos Evangelista, o autor do segundo Evangelho, foi um colaborador, intérprete e discípulo dileto de São Pedro. Ele era judeu de origem, da cidade de Jerusalém, e de uma família com posses. Ele não foi discípulo do Senhor, não obstante alguns estudiosos o identifiquem com o rapaz, filho da viúva Maria, que, coberto com um lençol, seguiu a Jesus, depois da sua prisão no Horto das Oliveiras. Na Igreja nascente, Marcos acompanhou Paulo e Barnabé, seu primo, até Antioquia, na primeira viagem missionária. Posteriormente, ele foi a Roma com Pedro, o príncipe dos Apóstolos, que nutria uma grande proximidade por ele, a tal ponto que Pedro se dirigia a Marcos chamando-o de “meu filho”.
Marcos era ainda um rapaz quando ocorreu a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Sua mãe é citada no livro dos Atos dos Apóstolos (At 12,12). Por causa da importância de seu filho, ela ficou conhecida como Maria, mãe de João Marcos e, também, Maria de Jerusalém. A Tradição diz que São Marcos foi batizado por São Pedro, de quem ele era um fiel discípulo. A Tradição nos revela ainda que foi na casa de Marcos que Cristo celebrou a Ceia Pascal, a Última Ceia, onde instituiu a Eucaristia. Foi também em sua casa que cerca de cento e vinte pessoas, contando com a Virgem Maria e os discípulos, receberam a efusão do Espírito Santo no dia de Pentecostes. Por isso, sua casa passou a ser conhecida como Cenáculo, que significa local de reunião. Quando era uma simples criança, Marcos viu sua casa ser transformada em uma Igreja doméstica, local de encontro e de reuniões dos apóstolos e dos primeiros cristãos. Esse fato, certamente, colaborou para a sua consciência de comunidade.
O fato de pertencer a uma família cristã foi, sem sombra de dúvidas, um ponto decisivo para o empenho evangelizador de Marcos. Além de ser filho de Maria de Jerusalém, ele era sobrinho de Barnabé, o grande companheiro de Paulo em suas viagens missionárias pelo Oriente Médio e pela Europa. Sobre o seu Evangelho, nós podemos afirmar que Marcos o escreveu em grego, aparentemente, para um público cristão. A data em que ele escreveu é debatida, mas talvez tenha sido na década de 60 a 70 depois de Cristo.
O objetivo do Evangelho de Marcos é demonstrar que Cristo é o verdadeiro Filho de Deus, e o faz especialmente com a narração de diversos milagres realizados por Cristo. Entretanto, Marcos não relata os discursos mais longos de Cristo, como o Sermão da Montanha, nem as discussões de Jesus com os fariseus, pois isso não teria impressionado seus leitores. Marcos recebeu os conhecimentos sobre a vida de Jesus diretamente de São Pedro e, por isso, o seu Evangelho também é conhecido com o nome de Memórias de Pedro. Por ser o intérprete de Pedro, Marcos não descreveu, em seu Evangelho, as cenas honrosas para o Príncipe dos Apóstolos. Ao contrário, ele descreveu, com uma riqueza de detalhes, o episódio da negação de Pedro e o canto do galo. Após ler o manuscrito do Evangelho de Marcos, Pedro o aprovou e ordenou que sua leitura e estudo fossem feitos em todas as comunidades cristãs.
Temos conhecimento de que São Marcos participou da primeira viagem missionária de Paulo e Barnabé. Nos anos 45-46, quando Paulo e Barnabé retornaram da Cidade Santa para Antioquia, eles levaram consigo Marcos. Em outra viagem, quando os três missionários passaram à Ásia Menor, desembarcando em Perga e Panfília, Marcos se separou deles, sem dar explicações, e voltou para Jerusalém. Esse retorno inesperado de Marcos não agradou a Paulo e, por isso, quando, mais tarde, os dois missionários se organizavam para uma segunda viagem apostólica, Barnabé quis levar Marcos, mas Paulo não concordou.
Em função do desacordo, ocorreu uma celeuma entre eles. Barnabé foi com Marcos para a ilha de Chipre; e Paulo e Silas, foram para a Síria, a Cilícia e a Grécia. Mas, por meio dos Atos dos Apóstolos, nós sabemos que, mais tarde, Paulo e Marcos se entenderam, exercendo a correção fraterna. E a partir daquele momento, Paulo falava de Marcos como um colaborador, manifestando apreço por tê-lo como ajudante. Desse modo, quando esteve preso em Roma, no ano 66, Paulo escreveu a Timóteo pedindo-lhe que viesse encontrá-lo na capital imperial, e que trouxesse consigo Marcos, “pois me é útil para o ministério” (2 Tm 4, 11).
A Tradição nos conta que São Marcos foi martirizado, entre os anos 68 e 72, em Alexandria, no Egito. Nos relatos dos Atos de Marcos, que foram escritos no século IV, nós encontramos a seguinte descrição: “No dia 24 de abril, os pagãos arrastaram Marcos pelas ruas de Alexandria, amarrado com uma corda no pescoço. Jogado na prisão, foi confortado por um anjo. Mas, no dia seguinte, sofrendo atrozes suplícios, ele morreu. Seu corpo deveria ser queimado, mas foi salvo pelos fiéis e sepultado em uma gruta”. Alguns anos depois, no século V, o corpo de Marcos foi trasladado para uma igreja e posteriormente, segundo uma antiga Tradição, para Veneza. Hoje, seus restos mortais estão guardados na famosa Catedral de São Marcos, em Veneza, cidade da qual ele é padroeiro.
São Marcos Evangelista é, para todos nós, um sólido exemplo de fé, pois ele nos ensina a permanecer juntos de São Pedro e São Paulo, a fim de que possamos adentrar a escola de Cristo e nos apaixonarmos por Seus ensinamentos. Ele também nos ensina a buscar a correção fraterna com a certeza de que, juntos, podemos superar qualquer divisão no serviço missionário da Igreja. Contemplando a vida e o exemplo de Marcos, nós aprendemos a colocar a nossa casa à disposição da comunidade para falarmos do amor de Deus e assim exercitarmos o acolhimento da caridade.
Que o Evangelho de São Marcos seja sempre uma leitura constante no cotidiano da nossa fé, para que possamos prosseguir firmes, fortes e determinados nas sendas de Cristo, testemunhando o nosso apreço pela Palavra de Deus e a nossa disponibilidade em servir o Reino dos céus com renovada esperança.
Aloísio Parreiras
Arquidiocese de Brasília
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