Ecclesia |
Na vaidade de suas mentes
Uma análise ortodoxa deste ensinamento ortodoxo
Por John Whiteford
Tradução de Rafael Resende Daher
B) QUAL O PROPÓSITO DOS ESCRITOS DO NOVO TESTAMENTO?
É ensinado nos estudos bíblicos protestantes (e penso que neste caso eles ensinam corretamente) que quando você estuda a Bíblia, entre muitas outras considerações, você deve primeiro considerar o gênero (ou tipo literário) de literatura que você está lendo em uma passagem particular, pois gêneros diferentes possuem gêneros diferentes. Outra consideração a ser tomada é sobre qual o assunto ou o propósito do livro que está sendo estudado. No Novo Testamento temos quatro tipos de gêneros literários: evangelho, narração histórica (Atos), epístola e apocalíptica ou profética (Revelação). Os Evangelhos foram escritos para testemunhar a vida de Cristo, sua morte e ressurreição. As narrativas contam a história de pessoas e figuras significativas e mostra a magnífica Providência Divina agindo em tudo. Diversas epístolas foram escritas para responder perguntas específicas que surgiram em várias Igrejas, assim, muitos problemas não foram relatados com detalhes. Assuntos doutrinais eram discutidos para resolver problemas doutrinais, [4] e assuntos sobre louvação só eram discutidos quando aparecia algum problema relacionado (c.f. Coríntios 11:14). Os escritos apocalípticos (Revelação) foram escritos para mostrar o triunfo de Deus na história.
Notamos que não há referências literárias à louvação no Novo Testamento, e nem detalhes de como era a louvação na Igreja. No Velho Testamento há detalhes (e até exaustivos) sobre a louvação do povo de Israel (v.g. Levítico e Salmos) — no Novo Testamento há apenas sugestões escassas sobre a louvação dos cristãos primitivos. Mas qual o motivo? Certamente que não foi por não existir ordem em seus serviços religiosos — os historiadores litúrgicos afirmam que os cristãos primitivos continuavam firmemente na mesma louvação judaica herdada dos Apóstolos. [5] Porém, até mesmo as parcas referências do Novo Testamento em relação à louvação da Igreja primitiva, nos mostra que eles estavam bem longe dos selvagens grupos "Carismáticos," os cristãos do Novo Testamento possuíam as mesmas louvações litúrgicas de seus pais: observavam as horas de oração (Atos 3:1), louvavam no Templo (Atos 2:46; 3:1; 21:26), além da louvação nas Sinagogas (Atos 18:4).
Nós também precisamos notar que nenhum dos tipos presentes da literatura do Novo Testamento tem o propósito de dar uma instrução doutrinal inclusiva — não há um catecismo ou uma teologia sistemática. Se a Bíblia é tudo que precisamos como cristãos, por que não há nenhuma declaração doutrinária inclusiva nela? Imagine como todas as controvérsias pudessem ter sido resolvidas se a Bíblia respondesse todas estas perguntas doutrinais claramente. Isso seria muito conveniente, mas tais coisas não são encontradas nos livros da Bíblia.
Que ninguém entenda mal a observação feita aqui. Nada disso deprecia a importância da Bíblia Sagrada — Deus proíbe tal coisa! Na Igreja Ortodoxa, a Bíblia é tida como totalmente inspirada por Deus, inerrante e autoritária, mas o fato é que a Bíblia não contém o ensinamento para todo assunto importante da Igreja. Como já declaramos, o Novo Testamento dá apenas um breve detalhe sobre como louvar — e isto não é de pequena importância. Além de que, a mesma Igreja que nos passou a Bíblia Sagrada, é a mesma que preservou os padrões de louvação que recebemos. Se nós desconfiamos da fidelidade desta Igreja em preservar a adoração Apostólica, também temos que desconfiar de sua fidelidade em preservar a Bíblia. [6]
C) É A BÍBLIA, NA PRÁTICA, "TOTALMENTE SUFICIENTE" PARA OS PROTESTANTES?
Os protestantes freqüentemente reivindicam que "acreditam apenas na Bíblia," mas várias perguntas aparecem quando a pessoa tenta examinar o atual uso que eles fazem da Bíblia. Por exemplo, por que os protestantes escrevem tantos livros sobre doutrina e a vida Cristã, se eles necessitam apenas da Bíblia? Se a Bíblia fosse o suficiente para entendê-la, por que eles simplesmente não utilizam apenas a Bíblia? E se ela é "totalmente suficiente," por quê isto não produz resultados suficientes, por exemplo: por quê os protestantes não acreditam na mesma coisa? Por que há tantos estudos bíblicos protestantes, se eles precisam apenas da Bíblia? Por que eles buscam outras áreas e materiais? Por que eles ensinam a bíblia ao povo — ao invés de apenas ler as Escrituras para as pessoas? A resposta eles nunca admitirão, mas os protestantes sabem que a Bíblia não pode ser entendida por si só. E na verdade, toda seita protestante possui seu corpo de tradições, mas nunca admitem ou a chama disso. Não é por acaso que as Testemunhas de Jeová acreditam nas mesmas coisas que os Batistas do Sul, mas não é por acaso que eles não acreditam nas mesmas coisas enfaticamente. Os Testemunhas de Jeová e os Batistas do Sul não propõem individualmente cada uma de suas idéias sobre a Bíblia, mas ensinam a crença de um certo modo — com uma tradição. Então a questão não é em acreditar ou não na tradição — a pergunta correta é qual a tradição que devermos usar para interpretar a Bíblia? Em qual tradição podemos confiar, na Tradição Apostólica da Igreja Ortodoxa, ou na confusa e moderna tradição do Protestantismo, que não possui nenhuma raiz além do advento da Reforma Protestante?
NOTAS DE RODAPÉ
4. Por exemplo, não havia espaços para perguntas detalhadas sobre a inerrância da Bíblia, pois este não era um assunto debatido. Com o crescimento do ceticismo religioso, este assunto é muito comum nos nossos dias, e se as epístolas tivessem sido escritas hoje em dia, é claro que haveria algum tipo de discussão em relação a este ponto. Seria tolice concluir que este assunto não deve ser discutido especialmente porque os Cristãos primitivos não pensavam ou não acreditavam nele.
5. Alexander Schmemann, Introduction to Liturgical Theology (Crestwood NY: St Vladimir’s Seminary Press, 1986), 51 ff.
6. E na verdade, toda escola protestante faz isso. Embora o protestantismo foi fundado segundo a crença de que a Bíblia é a única norma de fé e prática, as universidades protestantes modernas estão dominadas por modernistas que não acreditam mais na inspiração ou na inerrância da Bíblia. Eles se levantam contra a Bíblia, e escolhem apenas as partes de seus interesses, descartando o resto como "mitologia e lenda primitiva." As únicas autoridades para eles é eles próprios.
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