Terra Santa: crianças em refúgios | Vatican News |
"A
violência que irrompeu nas ruas é ainda mais preocupante do que a violência
manifestada com bombas que explodem edifícios (...) A sociedade está doente por
dentro". O testemunho da provincial para o Oriente Médio das Irmãs
Combonianas.
Vatican News
As palavras do Papa Francisco impressionaram muito
a Irmã Alicia Vacas, provincial das Irmãs Combonianas para o Oriente Médio.
Entrevistada pelo Vatican News, a religiosa insiste no fato de que
o conflito se arrasta por muito tempo, e que "há uma desigualdade gritante:
na ajuda, nas possibilidades, no uso das forças militares". Em mais de
trinta anos, nenhuma resposta foi dada", repreende a Irmã. "Nos
últimos meses, temos visto um aumento das tensões e dificuldades. O último
golpe de misericórdia foi a incursão do exército e o ataque à mesquita de El
Aqsa; até mesmo os cristãos ficaram chocados. Ficou claro que tal afronta teria
consequências muito graves, e foi o que aconteceu".
A sociedade está doente por dentro
"A violência não leva a lugar nenhum",
repete Irmã Alicia. As esperanças da religiosa são colocadas na comunidade
internacional, "para que possa contribuir para deter esta loucura, este
abismo". E conta: "Estamos vendo coisas que não tínhamos visto desde
que chegamos aqui, coisas que não aconteceram durante a segunda intifada. Os
conflitos dentro das comunidades, que mais ou menos coexistiam pacificamente -
explica - são assustadores para o nosso presente, mas acima de tudo para o
nosso futuro. A violência que irrompeu nas ruas é ainda mais preocupante do que
a violência manifestada com bombas que explodem edifícios, mesmo que seja menos
visível, menos ‘escandalosa’. O tecido social está ferido, profundamente
dilacerado. A sociedade está doente por dentro".
Preocupados com a "amputação moral"
dos jovens
"Toda vida humana é preciosa. A proporção na
morte de civis e crianças é óbvia. E isso segue sempre adiante". A Irmã
Alicia insiste no aspecto de que "este ataque a Gaza corre o risco de
desviar a atenção do coração, das causas do conflito, que teve origem em
Jerusalém por questões muito concretas: a impunidade dos colonos, o despejo de
suas casas, a dificuldade de os palestinos viajarem para a Cidade Santa....
Infelizmente, não são dadas resposta para os problemas reais que as pessoas
vivem diariamente". As missionárias comboniana mostra uma realidade sem
filtros, em Jerusalém Oriental, marcada por uma aparente calma, muito tensa,
falsa. "A presença dos militares é muito forte, mesmo dentro da parte
árabe. Em todos os lugares há barreiras. Às vezes as pessoas conseguem ir ao
trabalho – afirma a Irmã - às vezes não. Isto não é normal. Muitas vezes há
confrontos entre jovens e soldados e a repressão é muito forte. Há muitos
pontos dolorosos. É o recrudescimento de um conflito no qual há vítimas por todos
os lados. "Estou muito preocupada com as amputações morais dos
jovens", continua a religiosa. "Quando se chega a tal devastação,
significa ter que fazer um corte drástico nos valores. Ambos os lados estão
muito feridos, amputados".
Ser "pontes": a missão dos
combonianos nas periferias
A missão das combonianas, em todos os lugares, é
estar nas periferias. Em Jerusalém esta peculiaridade é muito evidente: vivem
no Monte das Oliveiras, nos três lados do jardim da casa passa o muro de
separação que divide a cidade de Jerusalém dos territórios ocupados.
"Quisemos preservar uma presença também do outro lado do muro: pode ser
vista, mas não se pode encontrar facilmente". Temos muito cuidado em
colaborar com ambos os lados, com os dois povos da Terra Santa", ela
esclarece, mencionando o trabalho tanto com ativistas israelenses, "que
realmente querem abrir brechas, encontrar soluções, construir pontes",
quanto com palestinos.
Em Israel, o trabalho é com médicos pelos direitos
humanos, com organizações que trabalham especialmente com refugiados e
requerentes de asilo. Na Palestina o compromisso é com os beduínos, no deserto
de Judá, através de uma rede de creches, projetos para a promoção da mulher,
animação missionária na Igreja. E conclui referindo-se à presença de algumas
"irmãs na comunidade católica de língua hebraica que são particularmente
afetadas por tensões políticas e sociais. É uma minoria dentro da
minoria".
“Perdão” é a palavra profética, caso
contrário não se resolve
Um
apelo à reconciliação e ao perdão parece quase retórico, mas talvez seja
precisamente essa a palavra profética, de acordo com a Irmã Alicia. "Se
não formos capazes de quebrar o círculo de violência, mesmo que sintamos que
estamos no caminho certo, não sairemos dele. A palavra do Papa não é retórica.
Tenhamos essa coragem de quebrar o círculo, mesmo que não sejamos capazes por
causa do peso da história; inventemo-lo, caso contrário não sairemos dele.
Vatican News
Nenhum comentário:
Postar um comentário