S. Filipe Néri, Carlo Dolci (© MET) |
Nas
periferias do centro
Quando Filipe chega a Roma, em 1534,
era como uma luz acesa no escuro da miséria, que surgia entre as glórias da Ara
Pacis e os lustres travertinos dos palácios reais. O centro da Cidade
representa a degradação das periferias: ali, em São Jerônimo, na Via Giulia,
Filipe alugou um quartinho. De dia, com rosto simpático e coração orgulhoso,
levava, a quem encontrava, o calor de Deus, mesmo sem ser padre e, quando
podia, dava um pedaço de pão; dispensava carinho e conforto a quem sofria na
repartição do Hospital dos Incuráveis. À noite, a alma de Filipe se aquecia e
se envolvia em um diálogo tão íntimo com Deus, a ponto que a sua cama podia
ser, sem nenhum problema, no átrio de uma igreja ou na pedra de uma catacumba.
Sempre sorridente
Seu sorriso, - lembra o Papa
Francisco, - o transformou em um “apaixonado anunciador da Palavra de Deus”.
Este foi o seu segredo, que fez dele um “trabalhador entre as almas”. A sua
paternidade espiritual, - observa Francisco, - “reflete-se em suas ações,
acompanhada de confiança nas pessoas; enfrentava gestos pessimistas e
carrancudos com espírito festivo e alegre, convicto de que a graça não alterava
o seu caráter, pelo contrário, conformava, fortalecia e aperfeiçoava”.
“Filipe aproximava-se aos poucos das
pessoas, com uma desculpa qualquer, e logo se tornavam seus amigos”, narra seu
biógrafo. E o Papa comenta: “Amava a espontaneidade e evitava meios
artificiais; escolhia as maneiras mais divertidas para educar às virtudes
cristãs; no entanto, mantinha uma disciplina pessoal saudável, que implicava o
exercício da vontade para acolher Cristo na concretude da sua vida”.
A Congregação do Oratório
Tudo isso encantava quem, conhecendo
Filipe, queria fazer como ele. O “Oratório” nasceu assim, entre as barracas da
periferia romana, que, apesar do mau cheiro, de dia eram perfumadas por uma
caridade concreta, não como um desenho no papel ou por uma esmola fria caída do
céu. “Graças também ao apostolado de São Filipe”, - reconhece o Papa Francisco,
- “sua obra pela salvação das almas se tornava uma prioridade para a ação da
Igreja; ele compreendeu que os Pastores deviam estar no meio do povo, guiando-o
e encorajando-o na fé”. Filipe transformou-se em um verdadeiro pastor, em 1551,
tornando-se sacerdote, o que não mudou o seu estilo de vida. Com o tempo, por
seu intermédio, nasceu a primeira comunidade, gérmen da futura Congregação,
que, em 1575, recebeu o beneplácito do Papa Gregório XIII.
“Sejam obedientes”
“Filhos, sejam humildes e obedientes;
sejam humildes e obedientes”, repetia Filipe, lembrando que, para ser filho de
Deus, “não era suficiente honrar só os superiores, mas honrar também os
semelhantes e inferiores, procurando ser o primeiro a honrar”. Ele exortava a
seguir o exemplo de uma alma contemplativa, como Maria aos pés de Jesus, e o
pensamento que reinava no coração de Marta, afirmando: “É melhor obedecer ao
sacristão e ao porteiro, quando chamam, do que ficar no quarto rezando”.
São Filipe Néri, o terceiro “Apóstolo
de Roma”, entregou seu espírito a Deus na madrugada de 26 de maio de 1595. O
dinamismo do seu amor nunca diminuiu! A cidade de Roma parece repetir: “Não é
hora de dormir, porque o Paraíso não é para ociosos”!
Vatican News
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