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quarta-feira, 30 de junho de 2021

O que é heresia, contra o que lutou Santo Irineu

Vitral com a imagem de "Santo Irineu", de Lucien Bégule (1848-1935),
na Igreja de São Irineu em Lyon, França.

REDAÇÃO CENTRAL, 29 jun. 21 / 05:06 pm (ACI).- O padre John P. Cush, da diocese de Brooklyn, nos Estados Unidos, escreeu no National Catholic Register que é inspirador o fato de que bispos do mundo inteiro estejam promovendo com força a figura de Santo Ireneu, bispo que viveu entre os anos 130 e 202 e é considerado o mais importante adversário do gnosticismo, uma das heresias mais antigas e, ao mesmo tempo, atuais da humanidade.

Na assembleia geral da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB) realizada em novembro de 2020, o bispo de Fort Wayne-South Bend, em Indiana, dom Kevin Rhodes, pediu que Santo Ireneu, grande pai da Igreja, fosse também reconhecido como “Doutor da Igreja”.

Segundo Cush, dom Rhodes declarou que essa seria “talvez uma forma de corrigir um descuido histórico” e que todos os bispos americanos apoiaram a ideia, iniciada na França pelo arcebispo emérito de Lyon, cardeal Philippe Barbarin. Dom Rhodes explicou que o pedido da USCCB será comunicado ao Vaticano.

Cush é deão acadêmico e assessor de formação do Pontifício Colégio Norte-Americano de Roma, e doutorando em Sagrada Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, onde também ensina Teologia e História da Igreja Católica dos Estados Unidos.

“Se existir o desejo de que o santo seja nomeado Doutor da Igreja, o promotor da causa deve investigar, estudar mais e buscar um consenso mais amplo em todas as nações de que seria uma busca digna”, escreveu o sacerdote. “A congregação disse que o apoio de todas as conferências episcopais é muito útil para discernir este tipo de petições”, afirmou.

Para o padre Cush, “uma das principais razões” pelas quais a USCCB, “junto com outras conferências episcopais em todo o mundo está promovendo este conceito é que Santo Ireneu dedicou grande parte de seu ministério à pregação” contra o gnosticismo, “uma das heresias mais antigas” e que os bispos consideram que está ainda muito viva e presente no mundo de hoje.

Ele observou que, para entender este tema, é importante saber: o que é uma heresia? O que é um herege? Quem foi Santo Irineu e o que ele fez para combater aquela heresia? Por que ela ainda está viva e presente nos Estados Unidos de hoje? Como podemos combater o gnosticismo em nossas vidas e em nosso mundo?

Em seu artigo, o padre Cush explicou que, às vezes, seus alunos de teologia do primeiro ano caem em “heresia”, embora não seja algo deliberado, e sim porque utilizam uma linguagem imprecisa ou caem em interpretações estranhas à doutrina católica. Outros caem por nunca ter estudado teologia.

Segundo o Código de Direito Canônico de 1983, no cânon 751, a heresia é “a negação pertinaz, depois de recebido o batismo, de alguma verdade que se deve crer com fé divina e católica, ou ainda a dúvida pertinaz acerca da mesma; apostasia, o repúdio total da fé cristã; cisma, a recusa da sujeição ao Sumo Pontífice ou da comunhão com os membros da Igreja que lhe estão sujeitos”, lembrou o padre Cush.

Para explicar com mais detalhe, o sacerdote referiu-se a um “excelente artigo” da revista First Things, em que Alyssa Lyra Pitstick oferece uma clara distinção entre os dois tipos de hereges.

No artigo, se observa que antes “se costumava fazer uma distinção muito simples, precisa e útil entre um herege material e um herege formal”.

“O herege material se engana em seus fatos, ao crer que algo é a verdadeira doutrina da Igreja, quando, na realidade, não é. Sua escolha é feita na ignorância. Quando ele aprende de fontes confiáveis que o ensinamento da Igreja é algo contrário, rapidamente muda de crença, porque sua preocupação é crer no que a comunidade de fé crê, pois ele crê na Igreja de Cristo”, explicou.

No caso do “herege formal”, ele “sabe qual é o ensinamento da Igreja, mas acredita em outra coisa, ou seja, no objeto de sua escolha. Sua crença se contrapõe à da Igreja e sua preocupação é apegar-se à sua escolha. Sua escolha é feita com conhecimento. É claro, um herege formal muitas vezes começa com um erro inocente de um herege material, mas a diferença é que ele se apega obstinadamente a esse erro com novas informações”, acrescenta.

O padre Cush explicou que “a heresia formal não requer esforços de correção oficial por parte das autoridades eclesiásticas, nem de uma declaração de sua parte. Só requer que o indivíduo saiba o que a Igreja ensina em assuntos essenciais e que persista em sustentar algo incompatível com esse ensinamento”.

Além disso, “a heresia formal também não exige que o herege abjure de sua adesão à Igreja, como afirmou Oakes. De fato, seria surpreendente que um herege abjurasse, pois se convenceu a si mesmo de que sua doutrina é a correta”.

O padre Cush disse que, a partir destes conceitos, “podemos ver que um herege formal não é simplesmente alguém que comete um deslize ou que expressa sua resposta de maneira incorreta”, mas que “é preciso muito trabalho para ser um herege formal”.

De modo que “ao aprender os ensinamentos da Igreja, ao aderir-nos aos ensinamentos da Igreja e ao viver os ensinamentos da Igreja, podemos evitar todo esse trabalho”, concluiu.

Fonte: ACI Digital

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF