Dom Paulo Cezar Costa Arcebispo de Brasília |
Se Jesus está no barco, não pereceremos
Neste domingo, temos um texto do Evangelho de Marcos 4, 35-40, em que Jesus acalma a tempestade. É um relato que aparece nos três Evangelhos sinóticos (Mt 8, 23-27; Lc 8, 22-25 e Marcos 4, 35-40), onde o fato é situado no fim de um dia de pregação, em que Jesus havia ensinado as multidões em parábolas. No fim do dia, Jesus embarca com Seus discípulos para a outra margem. A cena é rica de detalhes: “Eles despedem a multidão, e levaram Jesus consigo, assim como estavam na barca”. O evangelista enfatiza que “havia ainda outras barcas com ele”.
Jesus na barca | Portal A12 |
Enquanto atravessavam, desencadeia-se uma grande tempestade: “Começou a soprar uma ventania muito forte e as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que a barca já começava a encher”. A atitude de Jesus é totalmente oposta: Jesus, cansado depois de um dia de trabalho pela construção do Reino de Deus, está dormindo sobre um travesseiro. Jesus dorme com a tranquilidade de quem é consciente de que as forças da natureza não têm poder sobre Ele, com a consciência de quem se confia totalmente nas mãos do Pai.
Os discípulos, admirados, mediante a indiferença de Jesus, despertam Jesus e perguntam: Mestre, não te importas que pereçamos? Jesus se levantou e ordenou ao vento e ao mar: “Silêncio, cala-te e houve uma grande calmaria. Jesus se manifesta como Aquele que tem autoridade sobre os elementos da natureza, sobre vento e o mar. Jesus, então, censura a falta de fé dos discípulos: Por que sois tão medrosos, ainda não tendes fé? A atitude dos discípulos é aquela do medo e se perguntam: Quem é este a quem até o vento e o mar obedecem?
Este texto quer nos ajudar a refletir sobre o mistério de Jesus Cristo e sobre a nossa caminhada de Igreja. Talvez a nossa atitude ainda seja aquela dos discípulos, que não conseguimos entrar no mistério de Cristo, e, por isso, a atitude de medo diante a nossa falta de fé. Jesus nos dá a certeza de que, nas tempestades da vida do dia a dia, nas tempestades da vida da Igreja, se o Senhor Jesus está conosco, se Ele está no nosso barco não pereceremos. Este barco tantas vezes é a nossa vida, é a caminhada da Igreja que é assolada por pequenas e grandes tempestades. Mas se o Senhor está no barco conosco, não pereceremos.
Este texto nos ajuda a entrarmos no mistério de Cristo. O mar, para o homem bíblico, era sinal das forças caóticas dominadas pelo Criador, na criação. Jesus é Quem tem o domínio sobre as forças da natureza. Só Deus tem domínio sobre as forças da natureza. Jesus, portanto, revela-Se aqui como Filho de Deus, como Deus.
Estamos lendo este texto numa época de coronavírus, que colocou, diante de nós, a nossa provisoriedade e o medo. Papa Francisco, naquela oração na praça de São Pedro vazia, como exemplo do orante, dizia: “Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo dum silêncio ensurdecedor e de um vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem: pressente-se no ar, nota-se nos gestos, dizem-no os olhares. Revemo-nos temerosos e perdidos”. Neste tempo difícil, tenhamos certeza de que não estamos sozinhos. Ele está no barco conosco.
Fonte: Arquidiocese de Brasília
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