L'Osservatore Romano |
«As famílias desempenham uma tarefa determinante para a sociedade. Podemos dizer que literalmente a mantêm viva. Por isso, há três anos decidimos fundar um Observatório internacional, seguindo a inspiração do Papa Francisco que nos exortou a alargar e integrar o nosso olhar sobre as famílias».
O arcebispo Vincenzo Paglia, grão-chanceler do Pontifício Instituto João Paulo ii, desde dezembro de 2018 é também presidente do “Family International Monitor”, criado pelo Instituto Jp2 juntamente com a Universidade católica de Múrcia (Espanha) e o Centro internacional de estudos sobre a família, de Milão (Itália), que a 5 de julho apresentou o seu primeiro relatório — intitulado «Família e pobreza relacional» — durante uma reunião na qual, com o arcebispo Paglia, o chefe da investigação Francesco Belletti, o vice-presidente Pierangelo Sequeri, participaram o presidente do Istat, Gian Carlo Blangiardo; Matteo Rizzolli, professor de economia política no Jp2; e Moira Monacelli, da “Caritas Internationalis”. «As famílias — em todas as suas diferentes articulações — são a espinha dorsal de cada sociedade, e do seu estado de saúde é possível deduzir o grau de bem-estar e prosperidade económica, social e existencial nela presente».
Qual é a tarefa do Family International Monitor?
O objetivo era dotar-nos de um instrumento de investigação científica permanente sobre a realidade concreta que as famílias vivem nas várias partes do mundo. Como todos nós sabemos, a política nem sempre está atenta ao extraordinário recurso que a família representa para a sociedade. Com este Observatório — através dos instrumentos da pesquisa social — gostaríamos de salientar alguns dos seus aspetos, para que possam ser objeto de uma consideração mais atenta.
Os dados para a investigação, provenientes de 12 países, indicam que algumas formas de família são estruturalmente mais frágeis, tais como as famílias monoparentais. O casal é, portanto, o principal recurso de qualidade da família.
Da investigação emerge o papel crucial da família, que na riqueza da constelação das suas relações e afetos, deve ser reconhecida como motor da história. Se as coisas correrem bem entre o homem e a mulher, também as nossas sociedades funcionarão. E, obviamente, também o contrário é verdade.
A Covid-19 chegou inclusive para reescrever as relações na sociedade.
A experiência da pandemia, repentina e dramaticamente abalou a nossa vida pessoal, assim como a das nossas sociedades, economias e políticas. Observar as famílias, as suas histórias, vulnerabilidades e oportunidades ajuda-nos a conhecer a qualidade da civilização de um povo, a estabilidade e a força de um país, e ao mesmo tempo oferece-nos uma certa luz para construir um futuro mais humano para todos.
O inquérito do Observatório sobre a família começou com a pobreza relacional, e no próximo ano concentrar-se-á na pobreza económica.
A decisão de iniciar o nosso inquérito com um profundo exame da dimensão relacional não foi casual; pelo contrário, reflete o pressuposto antropológico de que o primeiro recurso indispensável do ser humano, sem o qual cada pessoa corre o risco de se perder a si própria e a sua identidade, é constituído pelas relações que encontram a sua primeira expressão concreta na família. Queríamos perguntar-nos em que medida a carência ou a prosperidade da dimensão relacional influencia a experiência e as histórias das famílias individuais e o próprio “funcionamento” das sociedades de que fazem parte, e em que medida o desenvolvimento e o crescimento económico também dependem dela. Estou convencido que procurar responder a estas questões de modo rigorosamente científico, ativando uma sinergia virtuosa entre universidades e centros de investigação em todo o mundo, dá-nos a possibilidade de ouvir e ler a realidade tal como ela é, procurando interpretá-la e esperando orientá-la com sabedoria e consciência.
Arnaldo Casali
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