© Antoine Mekary / ALETEIA |
Não, ela não caiu pronta do céu!
O cristianismo sem a Bíblia parece inimaginável, mas o fato é que, durante os primeiros 300 anos da Igreja, a Bíblia como compilação única de todos os textos sagrados para o cristianismo não existia.
A Bíblia como a conhecemos hoje foi sendo composta num longo processo. Os líderes da Igreja primitiva estudaram numerosos manuscritos e discerniram o seu conteúdo sob a condução do Espírito Santo. O processo de estabelecimento do cânone foi diferente para o Antigo e o Novo Testamento.
A formação do Antigo Testamento
O Antigo Testamento é basicamente uma antiga compilação das Sagradas Escrituras judaicas. Esses textos sagrados, que se desenvolveram ao longo do tempo, eram passados oralmente de geração em geração até finalmente serem escritos.
Cerca de 200 anos antes do nascimento de Jesus, uma tradução grega dos textos hebraicos se tornou amplamente aceita como tradução legítima e até mesmo inspirada.
A tradição conta que o rei egípcio Ptolomeu II convidou anciãos judeus de Jerusalém para prepararem a tradução grega. Setenta e dois anciãos, seis de cada uma das 12 tribos, chegaram ao Egito para atender à ordem.
Segundo outro relato, os tradutores foram todos colocados em salas separadas e tiveram que providenciar sua própria versão dos originais.
Quando foi concluída a tarefa, os tradutores compararam os textos e descobriram que cada um era milagrosamente idêntico aos demais.
O resultado foi a “Septuaginta” ou “Bíblia dos 70”, especialmente popular entre os judeus de língua grega. A Septuaginta se tornou uma fonte primária para os evangelistas e para grande parte dos primeiros cristãos.
Ao formular o cânon oficial da Sagrada Escritura, a Igreja discerniu levando em conta a Septuaginta.
O cânon católico do Antigo Testamento incluiu alguns textos como os Livros de Judite, Tobias, Sabedoria e o Eclesiástico ou Sirácida, que não eram considerados parte das Escrituras judaicas, embora fossem respeitados e lidos pelos judeus.
A formação do Novo Testamento
Inspirados pelo Espírito Santo, vários escritores foram escrevendo, nos anos que se seguiram à morte de Jesus, as muitas histórias que circulavam sobre o Messias.
Esses escritores eram ou apóstolos ou amigos de apóstolos que tinham conhecido Jesus muito bem.
Eles testemunharam os eventos ou entrevistaram pessoas que os tinham testemunhado, procurando preservar a vida autêntica de Jesus Cristo e os Seus muitos ensinamentos.
Ao longo do tempo, as cópias desses escritos foram se espalhando e várias comunidades cristãs as reuniram para serem lidas durante a celebração dominical da Missa.
As cópias das cartas de São Paulo também eram divulgadas e reconhecidas como inspiradas pelo Espírito Santo.
Na época de Santo Irineu, no final do século II, menciona-se o Evangelho “quadriforme”, em referência aos quatro Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João.
Durante o século IV, tornou-se maior a necessidade de codificar oficialmente a Bíblia. Alguns historiadores acreditam que parte da motivação para definir o cânone oficial veio do imperador Constantino, que encomendou do bispo de Constantinopla 50 cópias das Sagradas Escrituras.
A aprovação dos livros a serem incluídos começou com o Concílio de Laodiceia, em 363, continuou quando o Papa Dâmaso I confiou a São Jerônimo a tradução das Escrituras ao latim, em 382, e ficou definitivamente estabelecida durante os Sínodos de Hipona (393) e Cartago (397).
O objetivo era descartar todas as obras errôneas que circulavam na época e instruir as igrejas locais sobre os livros que podiam ser lidos na Missa.
A Igreja sempre acreditou que esse longo processo foi guiado pelo Espírito Santo.
O Catecismo explica que a Santa Mãe Igreja, confiando na fé da era apostólica, aceita como sagrados e canônicos os livros do Antigo e do Novo Testamento, inteiros e completos, com todas as suas partes, considerando que, escritos sob a inspiração do Espírito Santo, eles têm a Deus como seu autor e foram por Ele entregues à Igreja como tais.
O Cânon das Escrituras
Diz o Catecismo da Igreja no n. 120:
Foi a Tradição Apostólica que levou a Igreja a discernir quais os escritos que deviam ser contados na lista dos livros sagrados (97). Esta lista integral é chamada «Cânon» das Escrituras. Comporta, para o Antigo Testamento, 46 (45, se se contar Jeremias e as Lamentações como um só) escritos, e, para o Novo, 27 (98):
Para o Antigo Testamento: Génesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronómio, Josué, Juízes, Rute, os dois livros de Samuel, os dois livros dos Reis, os dois livros das Crónicas, Esdras e Neemias, Tobias, Judite, Ester, os dois livros dos Macabeus, Job, os Salmos, os Provérbios, o Eclesiastes (ou Coelet), o Cântico dos Cânticos, a Sabedoria, o livro de Ben-Sirá (ou Eclesiástico), Isaías, Jeremias, as Lamentações, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oseias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miqueias, Nahum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias;
Para o Novo Testamento: Os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João; os Actos dos Apóstolos; as epístolas de São Paulo: aos Romanos, primeira e segunda aos Coríntios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, primeira e segunda aos Tessalonicenses, primeira e segunda a Timóteo, a Tito, a Filémon: a Epístola aos Hebreus; a Epístola de Tiago, a primeira e segunda de Pedro, as três epístolas de João, a Epístola de Judas e o Apocalipse.
Fonte: Aleteia
Nenhum comentário:
Postar um comentário