N. Senhora da Caridade do Cobre | Guadium Press |
Redação (15/07/2021 11:06, Gaudium Press) Apesar do bloqueio de informações sobre o que ocorre em Cuba – principalmente o controle da mídia nacional pelo governo e a suspensão dos serviços de internet –, os olhos de todo o mundo permanecem atentos aos acontecimentos da ilha por causa do singularíssimo caráter das manifestações ocorridas nesses últimos dias contra o regime: manifestações generalizadas e surpreendentes, com repercussões no mundo inteiro e também brutalmente reprimidas pelo governo comunista.
No entanto, entre os muitos dados que continuam a chegar da ilha-prisão, há um que atrai a atenção e dá esperança a muitos católicos: apesar da perseguição aberta ou velada contra a religião, parece que os manifestantes anti-regime têm uma padroeira muito forte, a Virgem da Caridade, que em Cuba é adicionado o “sobrenome” do Cobre, Nossa Senhora da Caridade do Cobre.
Esperança não só porque do Santuário de Miami, que leva esse nome, enviaram mensagens de ânimo ao povo cubano e de indignação pelos abusos que esse povo tem sofrido nos últimos dias; ou porque o Pe. Cástor Álvarez, da Arquidiocese de Camagüey – preso no domingo e posteriormente libertado após esforços de seu bispo – abençoou os manifestantes com uma imagem de Nossa Senhora da Caridade; mas também porque o povo de Cuba ainda tem fé em Nossa Senhora e confia em sua ajuda nessas circunstâncias muito difíceis.
Imagens de Nossa Senhora se misturaram com os repetidos gritos de “Liberdade!” e “Pátria e Vida!”, uma referência ao lema oficial do regime socialista, “Pátria ou Morte”.
Uma situação crítica
Se os cubanos saíram em marcha apesar do onipresente aparato repressivo na ilha, é porque a situação é crítica: no último ano, a já paupérrima economia cubana contraiu 11% e os contágios causados pela pandemia dispararam. Cuba se recusou a receber ajuda humanitária, inclusive negando receber doações de vacinas de organizações internacionais. E, nesta situação crítica, quando não parece haver mais nenhuma razão humana de esperança, os cubanos recorrem a Nossa Senhora.
Contudo, o pedido não é apenas para que a situação econômica melhore, mas para uma mudança política de governo que inclua a liberdade de religião: “Não há liberdade de expressão, não há liberdade de religião, não há liberdade para nada”, o povo “já está farto, e quando se está farto, você perde o medo”, afirmou Ramón Dominguez, presidente dos municípios de Cuba no exílio.
Até agora, relatos informais dizem que 171 pessoas foram presas por causa das manifestações. A prisão do correspondente do jornal espanhol ABC e de uma famosa influencer no momento em que ela prestava depoimentos a um meio de comunicação também espanhol, foi muito visível. Entretanto, apesar das manifestações de força avassaladora do governo, há rumores de que nem tudo é compacto lá: afirma-se que o vice-primeiro-ministro renunciou e que alguns membros da família Castro deixaram o país.
Comunicado dos bispos
Em 12 de julho passado, os bispos de Cuba emitiram um comunicado, declarando que não podiam “fechar os olhos ou virar o rosto, como se nada estivesse acontecendo diante dos eventos que nosso povo tem vivido”. Eles entendem “que o governo tem responsabilidades e tem tentado tomar medidas para aliviar as dificuldades acima mencionadas” que afligem Cuba, mas entendem também “que o povo tem o direito de expressar suas necessidades, desejos e esperanças e, por sua vez, expressar publicamente como algumas medidas que foram tomadas estão afetando seriamente as pessoas”.
O comunicado recebeu todos os tipos de comentários – elogiosos por ter sido emitido em um ambiente repressivo e particularmente tenso – e também críticas, como a do dissidente cubano Carlos Payá, dizendo que não foi suficiente para condenar os apelos e as medidas do governo em relação à violência, que não enfatizou adequadamente os apelos dos manifestantes pela liberdade e mudança política, e que, assim, suscitou uma falsa equivalência entre as duas partes.
“A Igreja tem que ser um farol para onde as pessoas possam olhar”, declarou Payá, sublinhando o papel que a Igreja Católica desempenhou para pôr fim ao comunismo na Polônia, na década de 1980. Ele reconhece que semelhantes manifestações em massa na Venezuela, em 2019, não provocaram mudanças duradouras, e teme que algo semelhante possa acontecer em Cuba se a Igreja não estiver disposta a “dar um passo à frente”.
Parece que, após a repressão e a pouca pressão internacional ao regime comunista para permitir liberdades, esta seria mais uma tentativa fracassada dos cubanos de se libertarem de um jugo de mais de seis décadas. Mas o que aconteceu já foi uma vitória uma vez que enfraqueceu a esquerda mundial simpatizante do castrismo e fez o mundo inteiro voltar seus olhos para a terrível realidade cubana.
E se os cubanos realmente confiam seu destino à Rainha do Céu e da Terra, Ela não deixará de atender seu clamor, de uma forma ou de outra.
Com informações National Catholic Register
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