Crédito: CVV |
Vivemos numa sociedade onde diariamente nos chegam notícias de suicídios de adolescentes, jovens, adultos, idosos, religiosos e sem religião. Ficamos espantados. Muitas vezes até se chegar ao suicídio se percorre um caminho silencioso, mas depois de sua concretização se faz muito barulho.
O recente auto extermínio de um sacerdote suscitou uma série de reflexões. Muitas pessoas escreveram textos apontando causas e quase todas as reflexões procuravam, ou indicavam um culpado pelo suicídio. A transferência de culpa é um problema muito antigo na história da humanidade, pois remonta a fraqueza humana no Jardim do Éden. Enquanto se busca um culpado nunca se olha para si mesmo, nem para dor da vítima e de quem sofre com a perda. Na maioria dos casos de suicídio de sacerdotes a culpa tem recaído sobre, a entidade, o modo de vida, o presbitério, o bispo e sobre a formação. É verdade que nestes casos, ninguém pode lavar as mãos. O que me parece estranho é que a acusação tem caminhado como se ninguém não se importasse com os padres, fosse insensível, não sofresse com a dor dos irmãos. Creio que nenhum bispo, gostaria de ficar alheio a dor de um filho sacerdote, ou de outra pessoa. É verdade que o bispo não resolve todos os problemas da sociedade, da Igreja e de seu presbitério. Nem mesmo Jesus resolveu todos os problemas do mundo.
O suicídio é uma decisão pessoal, interna e sofrida, muitas vezes sem a coragem de pedir socorro. Ele é diferente do assassinato, onde a decisão de eliminar a vida vem de outra pessoa. O bispo não seria feliz se não se preocupasse com os seus padres e com as outras ovelhas. Toda dor clama por cuidado, mas quando não a percebe, muitas vezes não se pode fazer nada. Todo ser humano é sempre um ser dolorido. Não existe vida sem dor. Até o nascimento é um ato doloroso. O ser humano nasce, vive e morre no meio da dor. É preciso viver as conquistas trazidas pela dor. A alegria da Cruz deve ser um caminho místico. Mãos estendidas podem portar o bálsamo do alívio. As mãos do bispo são mãos de pai para afagar, abençoar, socorrer, curar e corrigir seus filhos. Bispos sofrem quando não se consegue fazer mais nada.
É preciso que, como o cego no caminho de Jesus, aprendamos a pedir socorro. Ao ouvir um grito de dor, alguém vai ter compaixão e oferecerá ajuda. Além do incentivo para abrir o coração, é necessário que o presbitério, além do bispo, esteja disposto a ouvir e a perceber os sinais da dor expressos no olhar e no semblante do irmão.
O fenômeno do suicídio tem sido crescente entre adolescentes, jovens e idosos. Os primeiros estão na construção da sua identidade. Os idosos estão no exame de consciência do que fizeram com a vida que Deus lhes deu. Muitas vezes percebe-se que a vida está vazia e vem o espanto e a angústia. A vivência nestes dois estágios pensantes da vida quase sempre se dá no silêncio, pois se trata de um processo interno e é justamente aí que muita gente se vai, sem avisar, deixando muitas dores e perguntas abertas. Muitos dos sacerdotes que se foram estavam na adolescência, ou início da juventude do ministério. Esse quase sempre é um estágio de insegurança. O que sou? O que estou sendo? que virá ser a minha vida futura? São perguntas que desafiam o romper do amanhã para firmar a identidade.
As perguntas abrem caminhos. Certa vez encontrei um padre angustiado porque dizia que não estava conseguindo ser resposta para o mundo. Eu lhe respondi que mais importante do que ser resposta é ser uma pergunta. As respostas são sempre insuficientes, mas as perguntas abrem caminhos. Fazer perguntas é necessário, mas é preciso ter habilidade para perguntar sem arranhar o interior. Somente rezando a vida de quem está diante de nós conseguiremos questionar não o seu corpo, mas a sua alma. Muitas perguntas não chegam a alma, pois apenas ferem o corpo aumentando a dor. É preciso prestar mais atenção às perguntas. Muitas vezes o silêncio é uma pergunta. É preciso ouvir o silêncio e para ouvi-lo é preciso silenciar. No encontro dos silêncios obscuros nascem luzes. Deus cuide dos corações que sofrem, iluminando-os e os curando.
Fonte: CNBB
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