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Redação (18/07/2021 10:26, Gaudium Press) No decorrer da história, os fatos parecem demonstrar, e até evidenciar, que todo homem tem necessidade de ser guiado por um outro que seja para ele uma representação do próprio Deus, indicando-lhe os caminhos e o rumo a seguir na vida. No Antigo Testamento, as Sagradas Escrituras nos apresentam inúmeros fatos que ilustram tal dependência. No livro do gênesis, verifica-se que Noé, “homem justo e perfeito no meio dos homens de sua geração” (Gn 6, 9) foi eleito por Deus para guiar e anunciar à humanidade corrompida que, caso não mudasse de conduta, seria devastada pelo dilúvio; de igual modo, no livro do Êxodo, lê-se que Moisés, “que convivia com o Senhor face a face, como um homem fala com seu amigo” (Cf. Ex 33, 11), foi eleito pelo Senhor, a fim de salvar o povo de Israel da escravidão aos egípcios.
Ora, essa dependência a um guia, exige, obviamente, que o homem faça um juízo a respeito de seus pastores, tendo em vista discernir com clareza se eles o conduzirão a objetivos certos.
No primeiro livro dos Macabeus, vemos como Matatias, diante da desolação na qual se encontrava Israel, reuniu junto a si um punhado de homens fiéis que o elegeram como chefe do povo, a fim de estabelecer a paz e ordem na terra santa. (Cf. 1Mc 2, 1-20).
Entretanto, baseados em quais critérios devemos analisar os pastores para ver se eles de fato exercem com santidade e eficácia sua função de mestre e guia do povo de Deus?
Entre pastor e pastor
No Evangelho, Nosso Senhor nos oferece alguns elementos. Primeiramente, o evangelista faz notar que o Divino Mestre diz à multidão: “Vinde sozinhos para um lugar deserto” (Mc 6, 31). Quis dizer assim que o Bom Pastor, antes de tudo, é aquele que sabe se recolher e ter uma vida interior profunda e grande virtude. É também aquele cujo relacionamento com Deus é sério e profundo, e cujas palavras e atos são, em consequência, fruto do recolhimento, e não de sua espontaneidade temperamental e impulsividade.
Além disso São Marcos afirma que: “muitos viram os apóstolos partir, e reconheceram que eram eles” (Cf. Mc 6, 33). Deus dá a cada batizado um certo “instinto”, pelo qual se pode reconhecer e seguir aos bons pastores. Por meio desta intuição, o homem sabe discernir a intenção destes de guiar ou não para o bem, para as finalidades estabelecidas por Deus. Deste modo, quando começam a surgir dúvidas sobre se o pastor conduz para o bem, e quando essas dúvidas perduram com base em fatos ou impressões indiscutíveis, é preciso estar atento…
Um último ponto que pode nos auxiliar a discernir o bom pastor está contido no trecho do Evangelho que afirma: “Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor” (Mc 6, 34). Ora, tendo cada mestre e guia de almas a obrigação de ser um reflexo do Divino Mestre e Bom Pastor, deve ter compaixão de suas ovelhas quando percebe que elas estão sem uma orientação clara, oferecendo-lhe os meios para prosseguirem no caminho do bem e da virtude. Foi o que fez Nosso Senhor. Ao verificar que a multidão estava sem rumo, compadeceu-se dela e lhe indicou o verdadeiro caminho.
O “estar sem rumo” para o homem hodierno é, muitas vezes, a falta de esclarecimento da doutrina. Infelizmente acontece muitas vezes que uma grande variedade de ideias e doutrinas é disseminada pela sociedade sem que se saiba quais são aquelas verdadeiramente concordes com o ensinamento do Divino Redentor.
Afirmando o evangelista que a multidão andava como ovelhas sem pastor (Cf. Mc 6,34), demonstra lhes faltarem uma unidade de doutrina e pensamento; e, uma vez que os homens precisam conhecer a Verdade, e saber, em função da Verdade, em que acreditar e como agir, era preciso que o Homem-Deus lhes oferecesse uma unidade de doutrina. É bem o que afirma São Paulo na segunda leitura: “do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2, 14).
Orientar segundo a verdade
Aqueles, pois, que são chamados a conduzir e guiar as almas devem seguir o exemplo de Nosso Senhor, devem ter sempre a preocupação de manter essa unidade na verdadeira doutrina católica; pois somente assim é que serão indefectivelmente fiéis àquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14, 6).
Deste modo, será possível reconhecer o bom pastor na medida em que ele permita ou não que entre os homens não haja uma orientação precisa em relação à verdade; e, por outro lado, distinguir a ação do mau pastor, que quebra a unidade da doutrina com ensinamentos dúbios, que admitem interpretações também duvidosas. A respeito desses, muito bem expressa-se Jeremias na primeira leitura: “Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho de minha pastagem!”. (Jr 23, 1).
A liturgia de hoje, portanto, nos convida a, não só nos examinarmos em que medida cumprimos ou não um papel de guiar os outros para o caminho do bem, mas também a estarmos atentos a respeito daqueles quem nos deve guiar para a realização dos desígnios divinos.
Sigamos os bons pastores; não nos deixemos levar, eventualmente, pelos maus, e por todos rezemos para que sejam aquilo que Deus deseja de cada um: uns na perseverança, outros na urgente conversão.
Por Guilherme Maia
Fonte: https://gaudiumpress.org/
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