REGINALD LOUISSAINT JR | AFP |
Bispo denuncia: "a fronteira entre o crime organizado e a política é bastante fluida".
Religiosos católicos no Haiti admitem medo da violência, particularmente devido à onda de sequestros que o país tem vivido. No caso mais recente, ocorrido na semana passada, um grupo de cinco padres, duas religiosas e três leigos foi raptado em Croix-des-Bouquets, perto da capital, Porto Príncipe.
Dom Jean Désinord, bispo da diocese de Hinche, a 112 quilômetros de Porto Príncipe, declarou em recente entrevista à fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN):
“Estamos nos perguntando quem será o próximo. Serei eu ou um irmão padre? Os padres e religiosos estão realmente em perigo. Vivemos em medo constante (…) Não há solução rápida ou fácil para o problema desses sequestros arbitrários. Mas a Igreja só pode apelar aos nossos líderes políticos para garantir a lei e a ordem”.
Embora os sequestros pareçam ser “mais uma forma fácil de obter dinheiro”, como descreveu o bispo, não se podem excluir elementos políticos dentre os fatores por trás dos episódios de violência que visam especificamente o clero católico. Dom Jean Désinord comenta:
“A Igreja no Haiti tem uma missão profética. Ela tem que denunciar as condições terríveis. E, portanto, é bem possível que ela seja um espinho no pé de alguns desses políticos. Mas não podemos saber com certeza. O caso é que todo mundo sabe que os nossos políticos fazem uso de gangues criminosas para controlar certas áreas. A fronteira entre o crime organizado e a política é bastante fluida”.
Religiosos católicos no Haiti admitem medo da violência
Apesar do medo justificado pela insegurança generalizada no país mais pobre das Américas, o bispo também aponta motivos para a esperança. Ele cita, por exemplo, o apelo do Papa Francisco neste último Domingo de Páscoa (veja matéria abaixo).
“Ficamos muito emocionados com isso. Foi realmente uma surpresa. O Santo Padre nos dedicou bastante tempo durante a sua alocução Urbi et Orbi e mencionou o Haiti com muitos detalhes. É um encorajamento para nós saber que o Papa está tão perto do nosso povo”.
Dom Jean espera que os líderes políticos do Haiti ouçam esse apelo de Francisco:
“Eles não podem ignorar um discurso que é ouvido em todo o mundo”.
O bispo agradeceu aos benfeitores da ACN e pediu que eles continuem amparando o povo do país:
“Obrigado pela sua proximidade e generosidade. A ACN está do nosso lado neste momento difícil da nossa história. Por favor, continuem apoiando a ACN e nos mostrando a sua solidariedade cristã”.
A ACN apoia anualmente milhares de projetos da Igreja em todo o planeta. Só no caso do Haiti, a fundação apoiou em 2020 mais de 30 projetos diferentes, vários deles emergenciais, além de prestar ajuda aos sacerdotes e a programas pastorais, assistenciais e educacionais para leigos, catequistas e seminaristas.
Fonte: Aleteia
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