Praça de São Pedro | Vatican Media |
"No
Antigo Testamento, é muito rica para Israel a imagem da relação esponsal para
exprimir o amor de Deus ao seu povo. Diante da imagem preparada pelos profetas,
o Novo Testamento apresenta Jesus Cristo como Esposo para o povo de Deus".
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
A Constituição Dogmática Lumen Gentium tem
oferecido ao padre Gerson Schmidt* a oportunidade para nos
falar sobre as diferentes imagens da Igreja presentes nos textos sagrados. Em
particular, o sacerdote gaúcho tem aprofundado a imagem da "Igreja como
esposa de Cristo”. E visto a importância deste tema, na edição de hoje deste
nosso espaço padre Gerson nos propõe uma segunda reflexão sobre a esponsalidade
de Cristo nos Sinóticos, dando continuidade ao programa precedente:
"Estamos aprofundando o tema da esponsalidade
de Cristo com a Igreja, tendo como base a imagem da Lumen Gentium da
Igreja como “esposa de Cristo”, que mais do que simbólica, é teológica.
Acreditamos não ser apenas um símbolo, uma imagem ou uma analogia qualquer.
Cremos que, de um rico simbolismo bíblico, passa-se a compreensão da essência e
identidade de Cristo e da Igreja. No Novo Testamento, distintos testemunhos nos
dão a compreensão da Nova Aliança com característica nupcial, na qual Cristo é
o Esposo e, aos poucos, aparecendo a Igreja como a Esposa. Jesus, usando
parábolas, compara o Reino dos céus a um banquete organizado por um rei para o
casamento do filho (cf. Mt 22, 2), ou então das virgens saindo ao encontro do
noivo que chega (cf. Mt 25, 1-13), ou a servos que esperam seu senhor voltar
das núpcias (cf. Lc 12, 36).
Nas parábolas dos evangelhos há um rico simbolismo
nupcial. Já refletimos a parábola do banquete nupcial. Na parábola das
dez virgens, descrita em Mt 25, 1-13, encontra-se a analogia esponsal
usada por Jesus para fazer compreender o seu pensamento acerca do Reino de Deus
e da Igreja, ou seja, naquilo em que ele se concretiza. Chama-se à prontidão, à
vigilância, ao empenho fervoroso na expectativa do Esposo. Só cinco das dez
virgens preocuparam-se para que suas lâmpadas se acendessem à chegada do esposo
para a realização do cortejo nupcial. As outras são insensatas, improvidentes,
não levando azeite consigo para manter a tocha acesa. O relato não se detém em
descrever o cerimonial das núpcias. Nem menciona a noiva. A atenção
centraliza-se no comportamento das dez virgens que esperam pelo noivo. Do
início ao fim do escrito, conta-nos o comportamento e as atitudes das dez
virgens. É em função do noivo que se define toda a dinâmica da parábola.
Jesus utilizou a descrição de um típico casamento
judaico da época nessa parábola. Era costume que o noivo fosse acompanhado de
seus amigos, tarde da noite, à casa da noiva. Lá, a noiva o esperava com suas
damas de honra (as virgens), que, ao serem avisadas da aproximação do esposo,
deviam sair com suas lâmpadas para iluminar o caminho do noivo até a casa, onde
haveria a celebração das núpcias. Ao longo dos anos, grandes teólogos
aplicaram interpretações diferentes sobre essa Parábola das Dez Virgens. Todos
concordam que o Noivo é Cristo. A Igreja é a noiva e não as madrinhas. O
fato de todas cochilarem, seria a nossa morte. Também os exegetas defendem que
a voz que anuncia o Noivo é a voz dos profetas que proclamaram que o Messias
viria. Sob este aspecto as virgens insensatas são os judeus que
acreditavam que sua religiosidade seria suficiente e não se prepararam para a
chegado do Messias(noivo), enquanto as prudentes seriam os judeus que
reconheceram que Jesus é o Cristo e, estes, pertencem então aos remanescentes
que serão salvos e entrarão na festa nupcial.
“O ensinamento principal da parábola é a exortação
à vigilância: na prática é ter a luz da fé, que se mantém viva com o azeite da
caridade. Entre os Hebreus as bodas celebravam-se em casa do pai da desposada.
As virgens são as jovens não-casadas, damas de honra da noiva, que esperam em
casa desta a vinda do esposo. A atenção da parábola centra-se na atitude que se
deve adotar até à chegada do esposo. Com efeito, não é suficiente saber-se
dentro do Reino, a Igreja, mas é preciso estar vigilante e prevenir com boas
obras a vinda de Cristo”.
Comentando essa Parábola das Virgens que esperam o
noivo, o Papa Francisco dizia: “Ao contrário, se formos vigilantes e
procurarmos praticar o bem com gestos de amor, partilha e serviço ao próximo em
dificuldade, poderemos permanecer tranquilos enquanto esperamos a vinda do
esposo: o Senhor poderá chegar a qualquer momento, e nem sequer o sono da morte
nos apavora, porque dispomos de uma reserva de óleo, acumulada com as boas
obras de todos os dias. A fé inspira a caridade, e a caridade preserva a fé” ¹.
O óleo é para Hilário de Poitiers as boas obras, para São João Crisóstomo o
amor ao próximo, esmolas e ajuda aos pobres e necessitados, e para Orígenes, a
Palavra e o ensinamento de Deus, com quem a alma é enchida como um vaso".
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de
janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é
graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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¹Papa
Francisco, Angelus, Praça São Pedro, Domingo, 12 de novembro de
2017.
Fonte: Vatican News
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