S. André Kim e seus companheiros mártires | Vatican News |
Na
tarde deste sábado, às 15h30, no Altar da Cátedra da Basílica de São Pedro, o
Prefeito da Congregação para o Clero, o arcebispo coreano Lazarus You Heung-sik
celebra uma missa pelos 200 anos do primeiro sacerdote católico coreano,
martirizado em 1846 e canonizado por João Paulo II em 1984. Sacerdotes,
religiosos e leigos presentes.
Salvatore Cernuzio – Vatican News
"Você é católico?" "Sim, eu sou
católico". Um diálogo seco com um funcionário do governo, enquanto pairava
a ameaça de uma morte sangrenta. Uma breve profissão de fé, como registrada em
uma das epístolas escritas durante seus dias de prisão, na qual há toda a
profundidade da fidelidade a Deus de André Kim Taegon, o primeiro sacerdote
católico coreano martirizado em 1846. E com ele, há o testemunho de fé, selado
com o supremo sacrifício da vida, de milhares de homens e mulheres varridos
pela onda de perseguições que atingiu a Coreia nos séculos XVIII e XIX, que
ainda hoje constitui a seiva vital e a história da identidade de todo um povo -
a população católica coreana - vivo, mesmo se uma minoria.
A fim de honrar a memória de André Kim e dos outros
mártires, todos leigos, sua homenagem de sangue e seu exemplo brilhante, tem
lugar na tarde deste sábado (21/08) uma missa em coreano às 15h30 no Altar da
Cátedra na Basílica de São Pedro. O arcebispo Lazarus You Heung-sik, que foi
nomeado prefeito da Congregação para o Clero em 11 de junho passado, preside
sua primeira cerimônia pública em Roma.
Santo André Kim, testemunha de fé
A ocasião para a celebração é o bicentenário do
nascimento de Santo André, que ocorreu em 21 de agosto de 1821 em uma família
criada segundo princípios cristãos, cujo pai havia transformado a casa em uma
"igreja doméstica". Uma escolha pela qual ele pagou com sua vida. Em
quatro gerações, onze membros da família do santo derramaram seu sangue pelo
Senhor, incluindo cinco que foram beatificados e outros que já foram
canonizados. Formado em Macau com pouco mais de 15 anos de idade, o jovem André
trabalhou em meio à perseguição: foi preso, interrogado, torturado e decapitado
por não querer se arrepender. Ele nem tinha 25 anos de idade. Com seu nome e o
de uma centena de outros crentes de diferentes idades e classes sociais, o Papa
Wojtyla quis inscrevê-lo no registro dos santos em 1984.
Missa de Parolin para a paz na Coréia
em 2018
Trinta sacerdotes e cerca de setenta religiosos e
religiosas o recordam este sábado na Basílica de São Pedro junto com dom You. O
embaixador coreano junto à Santa Sé também deve participar. Presentes, também
os fiéis leigos que compõem a comunidade coreana em Roma. A mesma comunidade
que, em 17 de outubro de 2018, participou da Missa pela Coreia presidida na
Basílica vaticana pelo cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin. No centro
dessa cerimônia, naquela ocasião, estava um apelo em favor da paz e
reconciliação para a Península coreana. Um pedido apresentado ao Papa na
audiência do dia seguinte pelo presidente sul-coreano Moon Jae-in, que se
sentou na primeira fila na Missa de Parolin, animada por canções e leituras em
coreano.
Tratou-se de um evento para a comunidade romana
coreana, como a celebração desta tarde. "O fato de uma Missa pelo
bicentenário de Santo André Kim Taegon estar sendo celebrada na Basílica de São
Pedro é uma providência de Deus", disse dom You à agência coreana Yonhap.
A história dos mártires
Tanto religiosos quanto leigos católicos, os
mártires coreanos foram vítimas de perseguição religiosa no país, onde as
primeiras sementes da fé cristã apareceram no início do século XVII através das
delegações que visitavam Pequim todos os anos para intercâmbios culturais. Na
China, os coreanos entraram em contato com a fé cristã trazendo para casa o
livro do missionário jesuíta padre Matteo Ricci. Um leigo, o pensador Lee
Byeok, inspirado no livro do jesuíta, fundou então uma primeira comunidade
cristã muito ativa que rapidamente cresceu em tendo milhares de fiéis. Ela
continuou a crescer mesmo quando, por volta de 1785, surgiu uma cruel
perseguição no país, que levou à morte, em 1801, do único padre presente no
país. Em 1802, o rei Sunjo emitiu um decreto estatal ordenando o extermínio dos
cristãos como a única solução para sufocar a semente do que seu governo
considerava "loucura". Deixados sozinhos e sem orientação espiritual,
os fiéis pediam continuamente ao bispo de Pequim e até mesmo ao Papa pelos
sacerdotes. As condições locais não permitiam isso até 1837, quando um bispo e
dois sacerdotes das Missões Estrangeiras de Paris foram enviados. Eles entraram
no país clandestinamente e foram martirizados dois anos mais tarde. Uma segunda
tentativa de André Kim conseguiu trazer um bispo e um sacerdote e, a partir
daquele momento, a presença de uma hierarquia católica na Coréia ficou estável,
apesar do ressurgimento das perseguições em 1866. Por fim, em 1882, o governo
decretou a liberdade religiosa.
João Paulo II canonizou 103 mártires
coreanos
De acordo com fontes locais, mais de 10 mil
mártires morreram na opressão coreana. Desses, 103 - incluindo várias mulheres
-, foram beatificados em dois grupos separados em 1925 e 1968 e depois
canonizados juntos em 6 de maio de 1984 em Seul por João Paulo II. Apenas dez
deles são estrangeiros, três bispos e sete sacerdotes, os outros são todos
coreanos, catequistas e fiéis. A memória litúrgica deles é 20 de setembro. Os
líderes desta lista litúrgica são, além de André Kim Taegon, o catequista Paulo
Chong Hasang. Os restos mortais deles repousam desde 1900 na cripta da Catedral
de Myeong-dong.
124 outros mártires beatificados por
Francisco em Seul
Outros 124 mártires foram beatificados pelo Papa
Francisco em 16 de agosto de 2014, durante sua viagem à Coreia do Sul. Entre
eles estava Paulo Yun Ji-chung. Mais de um milhão de fiéis participaram da
Missa de Francisco naquele dia celebrada na Porta de Gwanghwamun, que se seguiu
a uma intensa visita do Papa ao local das execuções: o santuário de Seo So-Mun,
na periferia de Seul. A enorme participação do povo foi um sinal da profunda
devoção da qual ainda gozam esses santos e beatos, membros vivos da história e
da identidade de uma nação. Eles "nos lembram que devemos colocar Cristo
acima de tudo", disse o Papa em sua homilia, acompanhada em várias
passagens por aplausos prolongados e emocionados. O exemplo dos mártires,
acrescentou o Pontífice, "tem muito a nos dizer, que vivemos em uma
sociedade onde, ao lado de imensas riquezas, a pobreza mais abjeta cresce
silenciosamente; onde o grito dos pobres raramente é ouvido; e onde Cristo
continua a chamar-nos, pedindo-nos que o amemos e o sirvamos, estendendo a mão
aos nossos irmãos e irmãs necessitados".
O Jubileu da Igreja Coreana
O
bicentenário do nascimento de Santo André abriu as celebrações do Jubileu
proclamado pela Igreja na Coreia do Sul em 29 de novembro de 2020. Um ano de
graça, sob o patrocínio da Unesco, que terminará em 27 de novembro de 2021 e
que representa "uma oportunidade favorável para o crescimento espiritual
da Igreja coreana", como disse o bispo Lazarus You, então á frente da
diocese coreana de Daejeon e responsável pela organização do Ano Santo, em uma
entrevista à mídia vaticana em dezembro passado. "Este Jubileu",
disse o prelado, "nos dará a todos a oportunidade de interiorizar a
espiritualidade do martírio, que é a seiva vital da Igreja na Coreia, meditando
profundamente sobre a vida dos mártires". "Para nossos mártires, a fé
era o valor mais importante", acrescentou dom You. "Na sociedade
coreana, apenas 11% da população é católica, enquanto mais da metade se declara
'sem religião'". O convite é, portanto, "refletir seriamente sobre
nossa identidade e nossa coerência como 'católicos fiéis'".
Fonte: Vatican News
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