Presbíteros |
3. «Empresto ao Senhor minhas mãos».
Amor a liturgia e obediência a Igreja.
Na Santa Missa, é Cristo aquele que, através do sacerdote, oferece-se ao Pai pelo Espírito Santo. As mãos do presbítero, ungidas durante a cerimônia de ordenação, sempre foram veneradas pelos cristãos, porque trazem a Cristo, porque são dispensadoras dos tesouros da redenção.
São Josemaría tinha uma via consciência de que a liturgia é ação divina, sagrada, e não ação humana. Se um mundo descristianizado caracteriza-se, em boa parte, pela ausência do sagrado, o sacerdote tem hoje um grande desafio de esmerar-se no cuidado da liturgia, “emprestando a Deus suas mães” e seu ser por inteiro.
Isto significa evitar protagonismos que podem obscurecer a ação divina. Também no serviço litúrgico é válida a fórmula de São Josemaría: “Ocultar-se e desaparecer é comigo mesmo, que somente Jesus brilhe” (São Josemaría, Carta com motivo das bodas de ouro sacerdotais, 28-I-1975). Este princípio corresponde a lógica da fé e da visão sobrenatural. Somente desde a fé se pode entender em profundidade a eficácia sobrenatural que encerra o princípio de “emprestar ao Senhor minhas mãos”; e se aceitam com gosto as consequências práticas as quais conduz: fidelidade à fé e à doutrina católica, e obediência delicada às normas litúrgicas:
“Que coloqueis sempre um particular empenho em seguir com toda docilidade o Magistério da Santa Igreja; e, como consequência, que também cumpris, com delicada obediência, todas as indicações da Santa Sé em matéria litúrgica, adaptando-os com generosidade as possíveis modificações – que sempre serão acidentais – que o Romano Pontífice possa introduzir na lex orandi” (São Josemaría, Carta 8-VIII-1956, n. 22).
As mãos do sacerdote devem ser as mãos de uma pessoa enamorada, que sabe tratar com delicadeza as coisas do Senhor e, muito especialmente, tudo o que se relaciona com o culto divino. O descuido de igrejas, altares e objetos de culto transmite inevitavelmente certa sensação de ausência de Deus ou de indiferença. Para fazer frente ao mundo materialista, é necessário um cuidado atento de tudo aquilo relacionado com a presença sacramental do Senhor na Eucaristia. Numa celebração litúrgica imbuída de espírito de adoração encerra-se uma sóbria beleza, que eleva o espírito a Deus e comunica a presença do Sagrado. São Josemaría viveu sempre com a preocupação de que nunca é demais a dignidade do culto.
“Tratai bem os objetos de culto: é manifestação de fé, de piedade e dessa nossa bendita pobreza que, se nos leva a destinar ao culto o melhor daquilo que podemos dispor, nos obriga por isso mesmo a trata-lo com a mais sensível delicadeza: sancta sancte tractanda! São joias de Deus. Os cálices sagrados e as alfaias santas e o demais que pertence a Paixão do Senhor… por seu consorcio com o Corpo e o Sangue do Senhor devem ser venerados com a mesma reverência que seu Corpo e seu Sangue (S. Jerônimo, Epist. 114, 2)” (Ibid., n. 23).
+ Javier Echevarría / Prelado do Opus Dei
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