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quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Os ensinamentos de São Josemaría sobre o sacerdócio (Parte 5/5)

Presbíteros
Os Ensinamentos de São Josemaría sobre o sacerdócio: uma resposta aos desafios de um mundo secularizado.

4. «Empresto ao Senhor meu corpo e minha alma: todo meu ser».

Sacerdote cem por cento.

Depois de ter considerado como o sacerdote empresta ao Senhor sua voz e suas mãos, chegamos, como em um in crescendo de identificação com Cristo, a uma formulação abrangente da identidade sacerdotal: “empresto ao Senhor meu corpo e minha alma: todo meu ser”. Esta fórmula, referida à celebração eucarística, na qual o sacerdote atua in persona Christi Capitis, pode estender-se analogamente à inteira vida do sacerdote, constituindo a sua mais íntima aspiração: ser, sempre e em tudo, ipse Christus, o mesmo Cristo.

São Josemaría descrevia com força esse sentido de totalidade próprio do sacerdote. Dirigindo-se a um grupo de sacerdotes recém ordenados, expressava da seguinte maneira: “Receberam o Sacramento da Ordem para ser, nada mais e nada menos, sacerdotes-sacerdotes, sacerdotes cem por cento” (São Josemaría, Homilia Sacerdote para a eternidade, 13-IV-1973).

Ao mesmo tempo, é evidente que sempre é indispensável à colaboração entre sacerdotes e leigos, cada um segundo a missão que lhes é própria. Como escrevia São Josemaría, “esta colaboração apostólica é hoje importantíssima, vital, urgente” (São Josemaría, Carta 8-VIII-1956, n. 3). Por uma parte, porque os presbíteros, enquanto tais, não têm acesso a muitos ambientes profissionais ou sociais. Por outra parte, porque os leigos, para serem verdadeiramente “outros Cristos” necessitam da vida sacramental e, por tanto, o recurso ao ministério sacerdotal. Sem vida interior, o leigo terminará por mundanizar-se, ao invés de cristianizar o mundo: é necessária uma intensa vida sobrenatural para influenciar cristãmente em ambientes onde parece ter desaparecido a pegada de Deus.

“No exercício do apostolado, os leigos têm absoluta necessidade do sacerdote, no momento em que chegam ao que chamo o muro sacramental, como os sacerdotes – especialmente em meio da indiferença religiosa, quando não se trata ademais de um ataque brutal à Religião, na sociedade desses tempos – tem necessidade dos leigos, para o apostolado” (Ibid.).

Esta colaboração é eficaz na medida em que respeita a natureza mesma da vocação de cada um: o leigo deve ser “Cristo” em meio do mundo, nas circunstâncias normais da sua vida: na convivência com seus familiares, com aqueles que compartilha projetos e afãs. Ao mesmo tempo, o sacerdote deve ser sempre e inteiramente sacerdote, vivendo para sustentar e alentar o afã de santidade de homens e mulheres, com uma entrega abnegada em seu ministério. Dificilmente haverá leigos que perseverem no empenho de buscar a santidade na vida ordinária, sem presbíteros “dedicados integralmente ao seu serviço, que se esqueçam habitualmente de si mesmos, para preocupar-se somente das almas” (Ibid.).

São Josemaría repetia com frequência que tinha uma só panela (un solo puchero) para todos, cujo conteúdo é, em síntese, a busca da santidade no meio das ocupações cotidianas. Dessa panela podem se alimentar o pai e a mãe de família, o engenheiro, o advogado, o médico, o operário, e também o sacerdote. E o sacerdote desempenha um papel insubstituível para ajudar os fiéis a ser santos: há de servir a todos, é sacerdote para os demais. Pela missão que recebeu de Deus tem uma especial obrigação por buscar a santidade. “Muitas coisas grandes dependem do sacerdote: temos a Deus, trazemos a Deus, damos a Deus” (Ibid., n. 17).

Por isso o fundador do Opus Deu falava em ser sacerdote cem por cento, que é a consequência da fazer da própria vida aquilo que acontece na Santa Missa: emprestar ao Senhor o corpo e a alma, dar-lhe tudo. Significa também que o sacerdócio não é um emprego, nem uma tarefa que ocupa parcialmente a jornada, como outros trabalhos. Para São Josemaría não existem âmbitos da existência pessoal que não sejam sacerdotais: até nas situações aparentemente mais intranscendentes, ou nas ocupações profanas, o sacerdote é sempre sacerdote, escolhido entre os homens, constituído em favor dos homens (Cf. Hb 5, 1).

Plenamente congruente com esse “emprestar meu corpo a Senhor” é o dom do celibato sacerdotal. Em meio do mundo, que facilmente tende a banalizar a dignidade do corpo, cobra especial significado entregar totalmente o corpo a Nosso Senhor Jesus Cristo na celebração eucarística. O celibato de Jesus Cristo ilumina com toda sua força e resplendor o celibato do sacerdote. Cristo, nos seus anos de existência terrena e na vida da sua Igreja, demonstrou a que grau extraordinário de paternidade e maternidade, de caridade sem limites, pode-se chegar com esse dom.

Ao longo da sua grande experiência pastoral, São Josemaría experimentou continuamente a necessidade de uma forte identidade sacerdotal: não é verdade que os cristãos desejam ver no sacerdote um homem a mais; o povo cristão, o que deseja do sacerdote é que seja sacerdote. Na sociedade atual, onde poucos pretendem ofuscar a Deus, os cristãos necessitam perceber com mais razão ainda a presença de Cristo no sacerdote; necessitam e esperam, em palavras de São Josemaría, “que se destaque claramente o caráter sacerdotal: esperam que o sacerdote reze, que não se negue a administrar os Sacramentos, que esteja disposto a acolher a todos sem constituir-se em chefe ou militante de bandeiras humanas, sejam do tipo que sejam; que ponha amor e devoção na celebração da Santa Missa, que se sente no confessionário, que console os enfermos e aos afligidos; que dê doutrina na catequese de crianças e adultos, que pregue a Palavra de Deus e não qualquer tipo de ciência humana que – embora conhecesse perfeitamente – não seria a ciência que salva e leva à vida eterna; que tenha conselho e caridade com os necessitados. Em uma palavra: se pede ao sacerdote que aprenda a não estorvar a presença de Cristo nele” (São Josemaría, Homilia Sacerdote para a eternidade, 13-IV-1973).

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Esta última frase pode talvez resumir o desafio que o mundo atual lança aos ministros sagrados. Aos homens de todos os tempos, o sacerdote deve fazer presente a Deus, e para isto, deve aprender a emprestar a Cristo sua voz, suas mãos, sua alma e seu corpo: todo seu ser. Assim acontece principalmente quando administra os sacramentos ou na pregação, porém não somente nesses momentos. A dinâmica própria do sacramento da Ordem, cujo centro e cume é a Eucaristia, leva a doar-se inteiramente, ao longo do dia, de corpo e alma, a Cristo.

A vida terrena de Santa Maria, Mãe de Cristo, Sacerdote Eterno, e Mãe dos sacerdotes, foi um “faça-se sincero, entregado, cumprido até as últimas consequências, que não se manifestou em ações espetaculares, mas sim no sacrifício escondido e silencioso de cada dia” (São Josemaría, É Cristo que passa, n. 172). Na Virgem se demonstra a eficácia dessa atitude. Por isso Maria, permanentemente, continua fazendo presente a Deus nas casas, nas ruas. A Mãe de Deus é, muitas vezes, o último reduto de fé, daquele que não poucas vezes brota de novo a conversão e o descobrimento da alegria da vida cristã em meio do mundo.

+ Javier Echevarría
Prelado do Opus Dei

Fonte: https://www.presbiteros.org.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF