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terça-feira, 3 de agosto de 2021

Por que o progresso espiritual não tem nada a ver com a inteligência

Public Domain
Por Michael Rennier

O progresso espiritual, de fato, não é apenas para quem é mais inteligente, tem mais tempo para ler ou entende melhor a teologia.

Muitas vezes, me sinto intelectualmente inferior a outros padres. Também me sentia assim no seminário. Na sala, todos discutiam avidamente obscuras ideias filosóficas de São Tomás de Aquino. Eu consentia, tentando não deixar que todos pensassem que eu era uma fraude. 

Em nossa aula de grego bíblico, eu tinha um amigo que memorizava o vocabulário e a gramática de cada teste literalmente uma hora antes da aula. Depois fazia a prova e acertava todas as respostas. Eu, entretanto, tinha estudado até tarde da noite anterior e não ia tão bem. Por favor, não me peça para ler grego!

Quando faço um lista de outros padres, vejo muitos se tornaram bastante talentosos. Alguns têm diplomas profissionais em aconselhamento, outros foram a Roma para estudar tópicos teológicos. Em nossa diocese, por exemplo, por alguma razão inexplicável, alguns de nossos padres têm carreiras anteriores como cientistas de foguetes, técnicos nucleares ou biólogos. Eu não estou brincando. Esses caras são todos gênios!

Acrescente a isso o fato de que os outros padres teoricamente têm tempo livre para continuar lendo livros e estudando. Eles ainda estão desenvolvendo seu intelecto durante anos em seu ministério. De fato, fico impressionado com a energia que eles empregam nisso, como são motivados para continuar aprendendo e se aprimorando em sua vocação.

Acontece que sou um padre casado (ex-padre anglicano) com seis filhos pequenos. Então, em vez de noites tranquilas lendo a Summa Theologica fico lavando pratos e trocando fraldas. É uma vida maravilhosa e eu não trocaria por nada no mundo, mas há muito pouco tempo para atividades intelectuais particulares.

Inteligência X sabedoria

Quando eu estava no seminário, tive uma aula sobre budismo. O que me chamou a atenção foi que os monges eram considerados os mais sagrados e os mais avançados espiritualmente. Foram os monges que tiveram o luxo do tempo e espaço para meditar, ler e escrever. O intelecto deles era correlacionado com santidade e convertido em sucesso religioso. Ou seja: aqueles que eram inteligentes se tornaram os líderes espirituais e eram considerados os mais sábios.

Em outra aula, aprendi sobre São João Vianney. Na escola, ele sempre foi o mais velho da classe e os alunos mais novos zombavam dele por ser ele ser ignorante. 

Mais tarde, quando se candidatou ao seminário, foi reprovado no vestibular e só foi admitido quando o ex-professor o avaliou. No seminário, seus estudos não melhoraram. Depois de ser reprovado em um exame, um professor disse-lhe: “Os professores não o consideram adequado para a sagrada ordenação ao sacerdócio. Alguns deles o chamaram de asno. Como podemos promovê-lo à recepção do sacramento do sacerdócio?” O futuro santo respondeu: “Monsenhor, Sansão matou cem filisteus com a queixada de um burro. O que acha que Deus poderia fazer com um burro inteiro?“.

De alguma forma, milagrosamente, ele recebeu a ordenação sacerdotal e foi servir na pequena cidade de Ars, onde não poderia causar muitos danos. 

Simplicidade não é falta de sabedoria

De fato, São João Vianney não é considerado um grande intelectual. Não consigo imaginá-lo passando tarde da noite estudando livros teológicos sutis e escrevendo sermões brilhantemente eruditos. No entanto, São João Vianney é um santo da igreja. Ele se tornou o patrono de todos os sacerdotes e é conhecido em toda parte por sua visão e sabedoria. Pessoas vinham de longe para fazer confissões a ele e obter seus conselhos. Suas catequeses, originalmente para as crianças da paróquia, começaram a atrair também os adultos.

Para aqueles de nós espertos o suficiente para saber que não somos a pessoa mais inteligente na sala – e sejamos honestos, sempre há alguém, em algum lugar, que é mais inteligente – é uma revelação de mudança de vida perceber esse intelecto e sabedoria não são a mesma coisa. Prudência e destreza acadêmica não são a mesma coisa. Simplicidade não é igual a falta de percepção.

Muitos dos grandes santos da igreja, homens e mulheres, possuidores de grande sabedoria espiritual, não eram academicamente talentosos. No entanto, suas palavras, ações e escritos continuam a inspirar milhões.

O amor e o progresso espiritual

Portanto, o progresso espiritual não é apenas para quem é mais inteligente, tem mais tempo para ler ou entende melhor a teologia. É sobre amor. Pessoas espiritualmente bem-sucedidas aceitam a graça, agem com humildade e procuram passar um tempo a sós com Deus. Deus é a fonte de toda sabedoria, e são os mais próximos Dele que se tornam os mais sábios.

Então, encontre o amor de Deus na bagunça e no caos da paternidade, encontre-o em atos de serviço aos outros, encontre-o ao fazer seu trabalho com integridade, encontre-o nos momentos de silêncio entre suas outras responsabilidades diárias. 

Se puder, encontre-o na Missa diária, no Terço e em passeios sozinho no parque. Faça o que fizer, com grande amor, sabedoria e felicidade. Assim, o progresso espiritual não ficará para trás.

Fonte: Aleteia

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF