Tertuliano de Cartago | Veritatis Splendor |
I
Cristo ensina uma nova forma de oração
1. Jesus Cristo, nosso Senhor, que é
tanto Espírito de Deus, como Palavra de Deus e Verbo de Deus, (Palavra do Verbo
e Verbo da Palavra), instituiu para os novos discípulos do Novo Testamento uma
nova forma de oração. Convinha, realmente, que também nesse plano se guardasse
o vinho novo em odres novos e se costurasse um pano novo numa veste nova
(cf. Mt
9,16-17; Mc 2, 21-22; Lc 5,36-39). De resto, tudo que viera antes,
ou foi inteiramente abolido como a circuncisão, ou foi completado como o resto
da Lei, ou cumprido como a profecia, ou levado à perfeição como a própria fé.
2. A nova graça de Deus renovou todas
as coisas, fazendo-as passar de carnais a espirituais, mediante o Evangelho,
que opera a revisão de todas as coisas antigas. Pelo Evangelho, nosso Senhor
Jesus Cristo se fez reconhecer como Espírito de Deus, Palavra de Deus e Verbo
de Deus: Espírito, por seu poder eficaz; Palavra, por seu ensinamento; Verbo,
por sua vinda. Assim, pois, a oração instituída por Cristo reune três
dimensões: a do Espírito, razão da sua grande eficácia; a da Palavra, em que
ela se exprime; e do Verbo…[lacuna]
João já ensinara seus discípulos a orar
3. Também João Batista já ensinara seus
discípulos a orar. Mas tudo em João era preparação à vinda de Cristo. Quando
Cristo cresceu – e João já anunciara que era preciso que Cristo crescesse e ele
mesmo diminuísse (cf. Jo 3,30) – toda a obra do precursor se
transferiu para o Senhor, segundo o espírito de João. Por isso, nada nos resta
das palavras com que João ensinou a orar, pois as coisas terrenas deram lugar
às celestes. “Quem é da terra – diz João – fala o que
é da terra, mas o que vem do céu fala daquilo que viu” (Jo 3,31-32). E o que não é celeste no Cristo
Senhor, inclusive o seu ensinamento sobre a oração?
Como orar
4. Consideremos, pois, irmãos
abençoados, a celeste sabedoria de Cristo, que se manifesta, em primeiro lugar,
pelo preceito de orar em segredo (cf. Mt 6,6).
Por aí Cristo induzia o homem a acreditar que o Deus Onipotente nos vê e nos
escuta em toda parte, mesmo em casa e nos lugares mais escondidos. Ao mesmo
tempo, ele queria que a nossa fé fosse discreta, de modo que, confiante na
presença e no olhar de Deus em toda parte, reservasse o homem só a Deus a sua
veneração.
5. Já no preceito seguinte (cf. Mt
6,7), se manifesta uma sabedoria que se
refere tanto à fé, como ao discernimento da fé. Pois, certos de que Deus em sua
providência olha pelos seus, não se deve pensar que para nos aproximarmos dele
precisamos de muitas palavras.
Uma oração breve
6. Aqui chegamos, por assim dizer, ao
terceiro grau da sabedoria. Com efeito, essa brevidade está apoiada na
significação de palavras grandes e felizes, pois quanto mais curta, mais rica
de sentido é esta oração. De fato, ela não compreende apenas a exigência
própria da oração, isto é, a veneração de Deus e a súplica do homem, mas quase
todas as palavras do Senhor. Constitui uma lembrança de todo o seu ensinamento,
de tal modo que nela temos uma síntese de todo o Evangelho.
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