Tertuliano de Cartago | Veritatis Splendor |
II
“Pai que estais no céu”
1. Começamos por um testemunho sobre
Deus e pelo efeito da fé, quando dizemos: “Pai, que estás no céu”.
De fato, aí não só oramos a Deus, mas também mostramos a nossa fé, que tem por consequência
chamá-lo de Pai. Como está escrito, “Àqueles que creem em Deus,
foi-lhes dado o poder de ser chamados filhos de Deus” (Jo 1,12).
2. Aliás, o Senhor, muitas vezes, nos
faz saber que Deus é Pai. Até mesmo ordenou que a ninguém chamemos de Pai sobre
a terra (cf. Mt
23,9), mas só Àquele que temos no céu.
Portanto, ao orar desta forma, cumprimos também um preceito.
3. Felizes aqueles que reconhecem o
Pai. Eis o que Deus censura a Israel, eis o que afirma, chamando por
testemunhas o céu e a terra: “Gerei filhos, e eles não me reconheceram” (Is 1,2).
4. Dizendo, pois, Pai,
damos a Deus o seu nome, termo que significa atitude filial e autoridade.
5. Dizendo Pai, invocamos
também o Filho. O Senhor disse: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30).
6. Nem mesmo a Mãe Igreja é preterida,
pois no Filho e no Pai reconhecemos também a Mãe, que nos atesta o nome do Pai
e do Filho.
7. Assim, por esta única relação de afinidade, adoramos a Deus, cumprimos o preceito e condenamos os que esquecem seu Pai.
III
Cristo nos revela o Pai
1. O nome de Deus como Pai, antes, a
ninguém fora revelado. Mesmo a Moisés, que perguntara a Deus seu nome, um outro
nome foi dito. Quem no-lo revelou foi o Filho. É preciso que haja o nome do
Filho, para de novo termos o nome do Pai. O Senhor disse: “Eu vim em
nome de meu Pai” (Jo 5,43). E ainda: “Pai, glorifica o
teu nome” (Jo 12,28). E ainda mais
claramente: “Eu manifestei o teu nome aos homens” (Jo 17,6).
“Santificado seja o teu nome”
2. Pedimos, pois, que esse nome seja
santificado. Não que caiba aos homens desejar o bem a Deus, como se alguém lhe
possa dar qualquer coisa. Ou que Deus passe necessidade, sem os nossos votos.
Mas é muito conveniente que Deus seja bendito em todo tempo e lugar pelo homem.
Com efeito, todos os homens devem se lembrar, sem cessar, dos benefícios
divinos. Este pedido tem a função de bendizer a Deus.
3. Quando, aliás, deixa o nome de Deus
de ser santo e santificado por si mesmo? Não é, acaso, por meio dele, que os
outros são santificados? Os anjos em torno de Deus não cessam de dizer: Santo,
Santo, Santo! Da mesma forma, também nós, destinados a viver em companhia
dos anjos, se o merecermos, aprendemos desde já na terra, este louvor a Deus,
assim como aprendemos o que faremos no futuro, na glória.
4. Eis o que se refere à glória de Deus. Mas, o que é que pedimos para nós, ao dizer: “Santificado seja o teu nome”? Pedimos, na realidade, que ele seja santificado em nós, que o ouvimos, e também naqueles que Deus ainda aguarda com a sua graça. Assim, orando por todos, observamos igualmente um outro preceito evangélico, que é de rezar por todos, mesmo os nossos inimigos (cf. Mt 5,44). Não dizendo que o nome de Deus seja santificado em nós, estamos dizendo que ele seja santificado em todos.
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