Tertuliano de Cartago | Veritatis Splendor |
VIII
“Não nos submetas à tentação”
1. Completando oração tão concisa, o
Senhor acrescentou que supliquemos não só o perdão dos pecados, mas também que
de todo, os evitemos: “Não nos submetas à tentação”. Isto quer
dizer: Não permitas que o Tentador nos faça cair.
2. Não pensemos que o Senhor nos quer
tentar, como se ignorasse a fé de cada um de nós, ou como se ele quisesse nos
fazer cair.
3. É o maligno que nos faz cair. Fraco
e malvado é o Diabo. Assim, quando Deus ordenou a Abraão o sacrifício do seu
filho, não foi para tirar-lhe a fé, mas para prová-la (cf Gn 22, 1-18). Queria, sim, fazer dele um
exemplo para o mandamento que iria dar mais tarde: os que vos são caros, não os
ameis mais do que a Deus (cf. Mt 10,37).
4. Um dia, o próprio Senhor foi tentado
pelo Diabo, mostrando que é este, e não ele, o dono e mestre de toda tentação.
5. Mais tarde, o Senhor confirmou essa
passagem, quando disse: “Orai para não cairdes em tentação” (Mt
26,41). Os discípulos caíram na tentação, a
ponto de abandonar o Senhor, porque preferiram dormir a orar (cf. Mt
26,40-45).
6. A isto corresponde o final do Pai nosso, que explica o pedido: “Não nos submetas à tentação”. É o que diz a oração: “Mas livra-nos do Maligno” (Mt 6,13).
IX
Esta oração é muito rica
1. Em tão poucas palavras, quantas
declarações dos Profetas, dos Evangelhos, dos Apóstolos, quantos discursos do
Senhor em parábolas, exemplos e preceitos, são relembrados! E quantos deveres
religiosos são aí repassados
2. Falando do Pai, a oração nos lembra
a honra devida a Deus. Na revelação do seu nome, testemunhamos a fé. Em face da
sua vontade, oferecemos a nossa submissão. Quando se fala do Reino, recordamos
a nossa esperança. Pedindo o pão, rogamos a vida. Pedindo perdão, confessamos
nossos pecados. Solicitando a proteção divina, mostramo-nos preocupados com as
tentações.
3. Mas, por que se admirar disso? Só Deus podia nos ensinar como quer que o invoquemos na oração. Dele mesmo nos vem a regra da oração, que ele animava com o seu Espírito, no instante mesmo em que ela saía da sua boca. Assim, pois, por força de um privilégio especial, ela sobe direto ao céu, recomendando ao Pai o que o Filho ensinou.
X
Outros pedidos legítimos
1. Mas o Senhor, que prevê as necessidades
humanas, depois de nos ensinar esta oração, acrescenta, em outro lugar: “Pedi
e recebereis” (Mt
7,7; Lc 11,9). Com efeito, existem outras coisas a
pedir, segundo as circunstâncias. Primeiro, porém, devemos proferir essa oração
do Senhor, que representa o fundamento de nossos outros desejos. Temos, pois, o
direito de acrescentar além desta oração, outros pedidos, sob a condição de nos
lembrarmos dos preceitos evangélicos. Se estivermos distanciados desses
preceitos, estaremos outro tanto distantes dos ouvidos de Deus.
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