Tertuliano de Cartago | Veritatis Splendor |
XVIII
Os que Se abstém do ósculo da paz
quando jejuam
1. Vejamos agora um outro costume que
prevaleceu. Põem-se alguns a jejuar, participam da oração com os irmãos, mas no
fim, se esquivam do ósculo da paz que é justamente o selo da oração.
2. Que melhor momento para trocar com
os irmãos o dom da paz, senão quando a nossa oração se torna mais agradável a
Deus? Eles, então, participam do nosso jejum, ao mesmo tempo que ajudam os
irmãos com a sua paz.
3. Qual oração pode ser completa, se
separada do ósculo santo?
4. Pode o ósculo da paz impedir a
alguém de oferecer culto a Deus?
5. Que espécie de sacrifício cultual é
aquele do qual os irmãos saem sem o beijo da paz?
6. Qualquer que seja a razão dada para
se subtrair ao ósculo da paz, não pode ser mais forte do que a observação do
preceito de esconder os nossos jejuns (cf. Mt 6,16-17).
Se, com efeito, evitamos o ósculo, torna-se patente que estamos jejuando. Se,
portanto, alguém tem alguma razão, pode, sem violar o referido preceito,
abster-se do ósculo da paz em sua casa, onde é impossível esconder o jejum. Na assembleia
não se abstenha do ósculo. Mas, em toda parte onde é possível esconder o jejum
é necessário lembrar-se do preceito. Assim, estando fora de casa, satisfarás ao
preceito; estando em casa, satisfarás o costume.
7. Desta forma, também no tempo da preparação da Páscoa, em que a prática religiosa do jejum é geral e pública, omitimos justamente o ósculo, sem a preocupação de ocultar o que fazemos em companhia de todos.
XIX
Procedimento nos dias de “estação”
1. Situação semelhante acontece nos
dias de “estação”, em que a maioria se abstém das orações do sacrifício
eucarístico, porque o jejum estacional deveria ser interrompido com a recepção
do Corpo do Senhor.
2. Pode a eucaristia quebrar um serviço
reverente prestado a Deus? Acaso não o une mais a Deus?
3. Não será, acaso, mais intenso teu
jejum estacional, se te pões em pé, ante o altar de Deus?
4. Se recebes o Corpo do Senhor e o
guardas em reserva, salvam-se as duas coisas: a participação do sacrifício eucarístico
e o cumprimento do jejum.
5. Se o costume da “estação” deriva da vida militar (somos, com efeito, a milícia de Deus), sabemos que nenhum motivo de alegria ou de tristeza sobrevindo no quartel anula a prontidão do soldado. Na verdade, a alegria fará cumprir o dever com maior boa vontade; a tristeza, com maior diligência.
XX
Indumentária das mulheres
1. Quanto à indumentária, pelo menos
das mulheres, a variedade de costumes nos obriga a tratar do assunto. Mas nem
nós nem qualquer outro o faremos sem atrevimento, uma vez que se pronunciou o
santo Apóstolo Paulo (cf. 1Cor 11,3-16; 1Tm
2,9). Entretanto, não seremos atrevidos,
se falarmos conforme o ensinamento do Apóstolo.
2. Na verdade, são claras as
prescrições a respeito do modo de vestir e dos ornamentos. Também Pedro, com
idênticas palavras, porque no mesmo espírito de Paulo, condena a presunção nos
vestidos, a arrogância no uso do ouro, a impertinência em cabeleiras mais
próprias de prostitutas.
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