Tertuliano de Cartago | Veritatis Splendor |
XXIII
Devemos ajoelhar-nos para orar?
1. A respeito da atitude de ajoelhar-se
durante a oração, há variedade de observâncias. Alguns aos sábados omitem a
genuflexão. Este desacordo é causa de disputas nas Igrejas.
2. O Senhor dará a graça, a fim de que
eles venham a ceder, ou então, sigam a sua opinião sem escandalizar os outros.
Nós, porém, de acordo com a tradição que recebemos, somente no dia da
ressurreição do Senhor evitamos não só ajoelhar-nos, mas também toda atitude ou
ato de culto que exprima tristeza. E adiamos os nossos negócios, para não
deixar ao diabo oportunidade alguma (cf. Ef 4,27). Fazemos o mesmo no período de Páscoa
a Pentecostes, que transcorre como uma só celebração.
3. De resto, em todos os outros dias,
quem hesita em prostrar-se diante de Deus, ao menos na primeira oração, quando
desponta a luz do dia?
4. Nos dias de jejum e das chamadas estações, a oração não é acompanhada de genuflexões ou gestos costumeiros de humildade. Com efeito, não nos limitamos a orar, mas também rogamos perdão e procuramos dar satisfação ao Senhor, nosso Deus.
XXIV
O lugar da oração
1. Não há prescrição sobre os tempos da oração, a não ser, naturalmente, a de orar em todo tempo e lugar (cf. Lc 18,1; Ef 6,18; 1Ts 5,17; 1Tm 2,8). Mas como orar em todo lugar, se é proibido orar em público? (cf. Mt 6,5-6). “Em todo lugar”, diz a Escritura, quer dizer em toda parte onde for oportuno ou houver necessidade. Nem nos parece que os Apóstolos agiram contra o preceito, quando no cárcere oravam e cantavam a Deus diante dos seus guardas (cf. At 16,25), ou Paulo que deu graças a Deus na presença de todos, num navio (cf. At 27,35).
XXV
Em que tempo orar
1. Quanto ao tempo da oração, não será
supérfluo observar, além dos momentos prescritos, as orações também em certas
horas que todos conhecem e que marcam as partes do dia: nove da manhã,
meio-dia, três da tarde. Tais horas, podemos ver na Escritura, são as mais
importantes.
2. Foi às nove da manhã que, pela
primeira vez, o Espírito Santo foi derramado sobre os discípulos reunidos
(cf. At
2,1-4).
3. Pedro tinha subido ao meio-dia ao
terraço para orar, e teve a visão dos alimentos impuros numa toalha (cf. At
10,9-16).
4. O mesmo Pedro, às três horas da
tarde, subiu com João ao Templo, e lá restituiu a saúde ao paralítico (cf At
3,1-10).
5. Embora tais passagens sejam simples
narrativas que não acarretam prescrição, seria bom considerá-las como convite a
orar e também como norma, a fim de nos arrancarmos das ocupações ordinárias em
certos intervalos do dia e nos dedicarmos à oração. Lemos, com efeito, na
Escritura que Daniel orava nessas horas, conforme o ensinamento de Israel
(cf Dn 6,10). Desta forma, ao menos três vezes ao
dia, vamos adorar as Três Pessoas às quais devemos tudo: o Pai, o Filho e o
Espírito Santo. Obviamente, essas orações acrescentam-se ás outras prescritas
regularmente, e mesmo sem indicação explícita devem ser recitadas ao raiar do
dia e ao cair da noite.
6. Mas os fiéis cristãos, antes da
refeição e do banho, devem fazer oração. Pois têm prioridade o refrigério e a
nutrição do espírito, relativamente aos do corpo, pois as coisas do céu vêm
antes das terrestres.
Nenhum comentário:
Postar um comentário