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Por Dom Paulo Cezar - Arcebispo de Brasília
A Vida de Deus na nossa vida
Neste domingo, continuamos a ler o capítulo sexto do Evangelho de São João (6, 41-51). Jesus continua a nos afirmar solenemente que ele é o Pão da Vida, Ele é o Pão descido do céu. Esta afirmação escandalizou os judeus de então, pois conheciam a família de Jesus. Os habitantes de Nazaré achavam impossível aquele homem, que tinham visto crescer em sua aldeia, ser o Filho de Deus, ter descido do céu, e, por isso, murmuram contra Ele. A murmuração nasce sempre da incapacidade de entrar com profundidade nos fatos. Aqui, nasce da incapacidade de entrar no mistério de Cristo. Eles se detêm nas coordenadas visíveis e, por isso, não acolhem o novo de Deus que está acontecendo na humanidade em Jesus Cristo.
Jesus não entra no jogo da murmuração, e vai além quando afirma que, para ir a Ele, é necessário ser atraído pelo Pai: “Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou, não o atrair, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6, 43-44). A união profunda entre Jesus e o Pai, diante do qual Ele é o Filho, se exprime, também, na história da salvação. O Pai enviou o Filho, o Filho realiza a vontade do Pai; o Pai atrai os discípulos para o Filho. E quem o Pai atrai para o Filho, o Filho o ressuscitará no último dia.
O Pai é aquele que também ensina: “(…) quem escuta o ensinamento do Pai e dEle aprende, vem a Mim”. Os judeus pensavam que estudando a Torá eles eram instruídos por Deus. Jesus mostra que é preciso algo mais, é necessário a escuta da Palavra e, também, a graça, pois é ouvindo a palavra de Cristo que a graça age no interior de cada pessoa. Assim, por meio da ação interior do Pai, vai-se ao Filho e, se se escuta a Palavra do Filho, deixa-se ensinar pelo Filho. Quem crê em Jesus tem a vida eterna, quem rejeita Jesus rejeita a vida eterna. Jesus afirma com toda a força que ele é o pão da vida: “Eu sou o Pão da Vida” (6, 48). Israel foi alimentado pelo maná no deserto e morreu. O maná não era o verdadeiro pão do céu. Jesus é o verdadeiro pão do céu que dá vida e vida eterna: “(…) quem comer deste pão viverá eternamente” (Jo 6, 51).
Jesus, aqui, faz-nos refletir sobre o verdadeiro conceito de vida. A vida não é somente a vida física, o alimento, as coisas deste mundo, a saúde, os bens materiais, o dinheiro, os divertimentos, etc. Vida é muito mais. O ser humano traz em si, inscrito no seu coração, um desejo profundo de realização, de sentido para a vida, de felicidade, de realização da existência. Neste plano de realização da existência, está o plano da fé. Somente a vida de Deus, adentrando em nossa vida, dilata a nossa existência, enche o nosso coração de alegria, faz-nos viver, doarmo-nos, ser dom de amor, etc. Jesus Cristo é este pão que nos alimenta na Eucaristia, fala-nos por meio da Palavra, bate à nossa porta por meio do irmão necessitado, fala à nossa consciência na oração. Somente Ele, vindo ao encontro da nossa pobre existência, pode lançar nossas vidas rumo à eternidade de Deus, dando-nos vida e vida eterna. Somente acolhendo-O livremente temos vida e vida definitiva, vida eterna.
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