Dom Paulo Cezar | Arcebispo de Brasília |
Por Dom Paulo Cezar Costa / Arcebispo de Brasília
Tu tens palavras de vida eterna
Estamos lendo o final do capítulo VI do Evangelho de São João. É preciso entrar no contexto das afirmações duras que Jesus faz no Evangelho de hoje. Jesus havia dito que é preciso comer a carne do Filho do Homem e beber do Seu sangue para se ter a vida (Jo 6, 53). Havia afirmado que a Sua carne é verdadeira comida e o Seu sangue verdadeira bebida. Os discípulos de Jesus reagem dizendo que esta palavra é dura. Jesus compreende que Seus discípulos murmuram. Então, encontramos as palavras duras de Jesus neste trecho do Evangelho.
A reação negativa contra Jesus não vem somente da multidão e dos judeus, mas, agora, gente de dentro da comunidade de Jesus, e alguns de Seus discípulos murmuram. A murmuração se encontra dentro da comunidade dos discípulos. Ela vem da incapacidade de entrar no projeto de Deus, vem de uma visão superficial. Jesus remete agora a um sinal mais profundo, à sua glorificação. Ele será elevado ao céu, de onde veio, passando antes pela humilhação suprema da morte de cruz, e pela exaltação na ressurreição: “E quando virdes o Filho do Homem subir onde estava antes?” (Jo 6, 62). Jesus mostra que é preciso entrar na lógica do Espírito. A carne é o princípio natural incapaz de compreender as profundezas de Deus. Só o Espírito é capaz de conduzir o homem à compreensão da vida oferecida por Jesus. As palavras de Jesus são espírito e vida, mas, é claro, aqui o Evangelista se refere àquelas que ele tinha pronunciado no discurso sobre o Pão da Vida. Suas Palavras são revelação da vida que Jesus oferece, pois Ele é o Pão da Vida.
Jesus afirma a incredulidade de alguns dos discípulos: “alguns de vós, porém, não creem” (Jo 6, 64). A incredulidade permanece, para o Evangelista, um mistério. Mas algo o Evangelho afirma: vem a Jesus quem o Pai concede. A notícia do abandono de muitos dos Seus discípulos leva Jesus a questionar os doze: “Não quereis também vós partir? (Jo 6, 67). Jesus coloca os doze – que estavam com Ele, que viam Seus sinais, escutavam os Seus discursos – diante de uma decisão fundamental. Simão Pedro faz a bela profissão de fé do Evangelho de hoje: “Senhor, para quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna e nós cremos e sabemos que és o Santo de Deus” (Jo 6, 68-69). A resposta de Simão Pedro é uma bela alternativa à leitura meramente humana, carnal. É uma resposta dada no espírito. A expressão “Eu Sou” é muito forte no Evangelho de São João. Em diversos momentos, Jesus afirma “Eu Sou”. Agora, Pedro afirma “Tu és”. A vida de fé se desenvolve neste profundo relacionamento entre: Eu Sou e “Tu és”. Este “Tu és” é o reconhecimento do discípulo de que o mestre é Deus, é o Filho de Deus, e que vale a pena empenhar a vida no Seu seguimento. Os verbos “crer” e “saber” indicam esta relação de intimidade para com Jesus, mostrando que vale a pena tomar toda a existência no seguimento a Jesus, o Santo de Deus. Esta afirmação expressa a profunda união de Jesus com o Pai. Unido a Jesus, o cristão encontra a sua estabilidade, o sentido da sua vida.
Fonte: Arquidiocese de Brasília
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