Papa Francisco preside a Missa conclusiva do 52° Congresso Eucarístico Internacional (AFP or licensors) |
"Há estruturas eclesiais que podem chegar a
condicionar um dinamismo evangelizador; de igual modo, as boas estruturas
servem quando há uma vida que as anima, sustenta e avalia. Sem vida nova e
espírito evangélico autêntico, sem «fidelidade da Igreja à própria vocação»,
toda e qualquer nova estrutura se corrompe em pouco tempo."
Jackson Erpen - Cidade do
Vaticano
Depois de ter aprofundado o
tema das diferentes imagens da Igreja apresentadas na Constituição
Dogmática Lumen Gentium, à qual seguiram-se diversos programas
sobre a Esponsalidade de Cristo com a Igreja, padre Gerson Schmidt* nos
fala hoje sobre “A identidade da Igreja a partir da encarnação de Cristo”:
“Todas as imagens e figuras da
Igreja descritas no Documento da Lumen Gentium,
visam redescobrir a verdadeira identidade, a essência e a missão da Igreja
recebida por Jesus Cristo.
O Papa Francisco, no número 26
da Exortação Apostólica Evangelii
Gaudium, relembra o pensamento do Papa Paulo VI, por ocasião
do Concílio, convidando a alargar o apelo à renovação de modo que ressalte, com
força, essa iniciativa, não se dirigindo apenas aos indivíduos, mas à Igreja
inteira. Lembremos este texto memorável, que não perdeu a sua força
interpeladora: «A Igreja deve aprofundar a consciência de si mesma, meditar
sobre o seu próprio mistério (...). Desta consciência esclarecida e operante
deriva espontaneamente um desejo de comparar a imagem ideal da Igreja, tal como
Cristo a viu, quis e amou, ou seja, como sua Esposa santa e imaculada (Ef 5,
27), com o rosto real que a Igreja apresenta hoje. (…) Em consequência disso,
surge uma necessidade generosa e quase impaciente de renovação, isto é, de
emenda dos defeitos, que aquela consciência denuncia e rejeita, como se fosse um
exame interior ao espelho do modelo que Cristo nos deixou de Si mesmo»[1].
Continua o Papa Francisco
dizendo: “O Concílio Vaticano II apresentou a conversão eclesial como a
abertura a uma reforma permanente de si mesma por fidelidade a Jesus Cristo:
«Toda a renovação da Igreja consiste essencialmente numa maior fidelidade à
própria vocação. (…) A Igreja peregrina é chamada por Cristo a esta reforma
perene. Como instituição humana e terrena, a Igreja necessita perpetuamente
desta reforma»[2].
Há estruturas eclesiais que podem chegar a condicionar um dinamismo
evangelizador; de igual modo, as boas estruturas servem quando há uma vida que
as anima, sustenta e avalia. Sem vida nova e espírito evangélico autêntico, sem
«fidelidade da Igreja à própria vocação», toda e qualquer nova estrutura se
corrompe em pouco tempo.
A Igreja precisa sempre
redescobrir sua identidade missionária. “O Papa Francisco convida toda a Igreja
a redescobrir e a tornar vivíveis uma vez mais os fundamentos da fé cristã. Se
a Igreja se entrever a levar a cabo uma saída missionária, primeiro deve se
perguntar a partir de que compreensão de si ela atua. Pois somente uma Igreja
que sabe de onde vem, para onde vai e para que está no mundo poderá atuar
eficazmente de maneira missionária”[3].
Se quisermos entender
adequadamente a Igreja será preciso vê-la em analogia com o mistério da
encarnação de Cristo. Assim diz a Lumen Gentium, no número 8:
“...a Igreja terrestre e a Igreja ornada com os dons celestes não se devem
considerar como duas entidades, mas como uma única realidade complexa, formada
pelo duplo elemento humano e divino. Apresenta por esta razão uma grande
analogia com ó mistério do Verbo encarnado. Pois, assim como a natureza
assumida serve ao Verbo divino de instrumento vivo de salvação, a Ele
indissoluvelmente unido, de modo semelhante a estrutura social da Igreja serve
ao Espírito de Cristo, que a vivifica, para o crescimento do corpo (cfr. Ef.
4,16)” (LG, 8). A missão da Igreja não pode ser vista fora da missão de Cristo.
É na encarnação e missão de Cristo que a Igreja encontra sua identidade e
missão.”
*Padre Gerson
Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da
Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação
pela FAMECOS/PUCRS.
_________________________
[1] Carta enc. Ecclesiam
suam (6 de Agosto de 1964), 10-12: AAS 56 (1964), 611-612.
[2] Conc. Ecum. Vat.II,
Decr. sobre o ecumenismo Unitatis redintegratio, 6.
[3] AUGUSTIN, George. Por
uma Igreja “em saída”. Impulsos da Exortação Evangelii Gaudium, Vozes, 2018, p.
77.
Fonte: https://www.vaticannews.va/
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