Papa Francisco passa entre os fiéis antes de presidir a Divina Liturgia de São João Crisóstomo em Presov, Eslováquia. |
"A Igreja é sobretudo povo de Deus, quer dizer, o
povo que pertence a Deus – e somente o povo que tem esse nome e é digno de ser
como tal. Não é qualquer povo que é de Deus e que é Igreja. Mas é um povo que
tanto no seu ser e agir se identifica cada vez mais profundamente com Deus e
honra seu nome e que se torna digno de ser chamado “Povo de Deus” ."
Jackson Erpen - Cidade do
Vaticano
A Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre
a Igreja dedica seu capítulo II à Igreja como Povo de Deus. O Povo de Deus que
deve estender-se a todo o mundo e, mantendo a sua unidade, permanece em
comunhão pelo Espírito Santo. Pertencem ou estão ordenados à unidade do Povo de
Deus, mesmo que de modo diverso, os fiéis católicos, todos os que creem em
Cristo, enfim todos os homens chamados à salvação (LG 13).
Depois de ter aprofundado as
imagens da Igreja propostas por este importante documento do Concílio Vaticano
II, padre Gerson Schmidt* vem até o Pontificado de Francisco
para nos falar hoje da Igreja como Povo de Deus na Exortação Apostólica Evangelii
Gaudium: “A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida
inteira daqueles que se encontram com Jesus”:
Vimos nos aprofundamentos
anteriores, diversas imagens e analogias utilizadas pela Lumen Gentium para
comparar a Igreja, que brotam sobretudo da vida dos pastores e camponeses (LG,
6). A imagem da Igreja que o Papa Francisco emprega frequentemente na Evangelii
Gaudium é a imagem do “povo de Deus”. Afirma assim o Papa: “A
evangelização é dever da Igreja. Este sujeito da evangelização, porém, é
mais do que uma instituição orgânica e hierárquica; é, antes de tudo, um povo
que peregrina para Deus. Trata-se certamente de um mistério que mergulha as
raízes na Trindade, mas tem a sua concretização histórica num povo peregrino e
evangelizador, que sempre transcende toda a necessária expressão institucional”
(EG, 111s). o Sumo Pontífice acentua essa imagem do Povo de Deus afirmando que
Deus “escolheu convocá-los como povo, e não como seres isolados. Ninguém se salva
sozinho, isto é, nem como indivíduo isolado, nem por suas próprias forças. Deus
nos atrai, no respeito da complexa trama de relações interpessoais que a vida
numa comunidade humana supõe. Este povo, que Deus escolheu para Si e convocou,
é a Igreja. Jesus não diz aos Apóstolos para formarem um grupo exclusivo, um
grupo de elite. Jesus diz: «Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos» (Mt
28, 19). São Paulo afirma que no povo de Deus, na Igreja, «não há judeu nem
grego (...), porque todos sois um só em Cristo Jesus» (Gal 3, 28). Eu gostaria
de dizer – diz o Papa - àqueles que se sentem longe de Deus e da Igreja, aos
que têm medo ou aos indiferentes: o Senhor também te chama para seres parte do
seu povo, e fá-lo com grande respeito e amor!”(EG, 113).
O Concílio Vaticano II
inverteu a pirâmide que colocava a hierarquia da Igreja no topo dela, definindo
a Igreja como todo o Povo de Deus e não somente como sendo a hierarquia
eclesiástica. A imagem da Igreja da Lumen Gentium é um Povo de Deus em busca da
santidade. A imagem bíblica de Povo de Deus, preferida à imagem de Corpo de
Cristo, destaca a dimensão histórica, enfatizando a caminhada do povo de Deus
peregrino pelo deserto, tal qual o povo do AT. De fato, a historicidade da
Igreja vem destacada por essa imagem e sua abertura para a história humana,
pois a Igreja avança em direção à casa do Pai no mundo e não fora dele. Mas a
Igreja é um Povo de Deus em busca da santidade. Santo, porque Deus torna a
Igreja santa, mas, ao mesmo tempo, deve realizar em sua própria vida a
santidade de Deus.
A Igreja é sobretudo povo de
Deus, quer dizer, o povo que pertence a Deus – e somente o povo que tem esse
nome e é digno de ser como tal. Não é qualquer povo que é de Deus e que é
Igreja. Mas é um povo que tanto no seu ser e agir se identifica cada vez mais
profundamente com Deus e honra seu nome e que se torna digno de ser chamado
“Povo de Deus” [1]. É necessário que esse povo tenha o projeto de Deus Pai. É
isso que, em outras palavras, o Papa Francisco, na Evangelii Gaudium expressa
no número 114: “Ser Igreja significa ser povo de Deus, de acordo com o grande
projeto de amor do Pai. Isto implica ser o fermento de Deus no meio da
humanidade; quer dizer anunciar e levar a salvação de Deus a este nosso mundo,
que muitas vezes se sente perdido, necessitado de ter respostas que encorajem,
deem esperança e novo vigor para o caminho. A Igreja deve ser o lugar da
misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados
e animados a viverem segundo a vida boa do Evangelho”. O projeto do Pai é que
possamos levar a salvação e a misericórdia de Deus ao mundo. A vontade de Deus
é que todos se salvem.
*Padre Gerson
Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da
Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação
pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] AUGUSTIN, George. Por uma Igreja “em saída”. Impulsos
da Exortação Evangelii Gaudium, Vozes, 2018, p.77.
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