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Redação (19/09/2021 10:11, Gaudium Press) Assim se inicia a primeira leitura deste 25° domingo do Tempo Comum:
“Os ímpios dizem: ‘Armemos ciladas ao justo, porque sua presença nos incomoda”’ (Sb 2,12).
Incômodo. É, sem dúvida, o sintoma da maior parte das doenças. Sabe-se que um incômodo na cabeça pode ter resultado numa simples enxaqueca ou num grave câncer; um incômodo na respiração pode resultar de uma doença crônica ou uma pneumonia. E quando se sente um incômodo faz-se necessário consultar um médico que analise os sintomas faça um diagnóstico, indicando os remédios necessários. Por ocasiões como essas todos já passamos.
Ora, a liturgia de hoje faz um verdadeiro diagnóstico a respeito de um certo incômodo, mostra-nos a grave doença que o causa e oferece-nos os remédios para curá-la. Aliás, é uma doença muito mais perigosa do que todas as outras.
A causa do incômodo está nos ímpios
Antes de prosseguir ao nosso “exame”, entretanto, é necessário explicar bem a frase da escritura acima mencionada. O justo, de si, não incomoda ninguém; a causa do incômodo não pode estar nele. Na verdade, não é a presença dos justos que incomoda os ímpios, mas é o fato de os ímpios serem ímpios a causa de tal incômodo. E eles se põem a perseguir os justos, julgando que, aniquilando-os, sanarão ou ao menos anestesiarão os maus sintomas seu interior. Loucura das loucuras! Seria como se um doente quisesse tirar a vida aos que tem boa saúde, julgando que, assim, se curariam. É, pois, deste modo que agem os ímpios.
E de qual doença eles padecem? A de um ódio ao bem, que nasce de uma inveja profunda, “um dos pecados mais vis e repugnantes que se possa cometer”[1], causa de todos os outros males, como diz São Tiago na segunda leitura de hoje: “Onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e toda espécie de obras más” (Tg 3,16).
Os que perseguem os justos sempre têm uma vida corrompida. Eles não aguentam o peso de sua consciência quando homens virtuosos os increpam por palavras, e, sobretudo, pelo exemplo: o constante “Non licet tibi”[2] que não pode ser tolerado pelos partidários do mundo e da carne.
Admiração pela inocência
Por outro lado, no evangelho de hoje encontramos, em Nosso Senhor, o extremo oposto deste modo de ser dos ímpios:
“Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no meio deles e disse: ‘Quem acolher em meu nome uma destas crianças é a mim que estará acolhendo”’ (Mc 9, 36).
Nosso Senhor – a Inocência por excelência – admira e protege a inocência que Ele mesmo colocou naquela criança. Como diz São Leão Magno, Jesus “ama a infância, mestra de humildade, regra de inocência, modelo de doçura”.[3]
Não podemos ter noção de quanto Lhe apraz receber e acolher uma criança inocente que, por exemplo, a Ele se entrega já na aurora de sua vida. Exemplos temos muitos na História: a própria Maria Santíssima, com apenas três anos[4], Santo Tomás de Aquino, aos cinco anos,[5] e muitos outros.
Saibamos também nós acolher a estes pequenos, pois assim acolhemos o próprio Deus. E que Ele não permita aos ímpios incomodados tocarem em sua inocência, proibindo-os de rumarem pelas vias da santidade. Com efeito, para os justos a inocência é uma pedra preciosa e lhes causa admiração. Já para os ímpios, é uma pedra de tropeço que os enche de ódio.
Por Lucas Rezende
[1] ROYO MARÍN, Antonio. Teología moral para seglares. 7.ed. Madrid: BAC, 1996, v.I, p.488.
[2] Do latim: “Não te é lícito”.
[3] SÃO LEÃO MAGNO. In Epiphaniae Solemnitate. Sermo VII, hom. 18 [XXXVII], n. 3. In: Sermons. 2. ed. Paris: Du Cerf, 1964, v.I, p. 281.
[4] Cf. CLÁ DIAS, João Scognamiglio. Maria Santíssima! O Paraíso de Deus revelado aos homens. São Paulo: Arautos do Evangelho, 2020, v. II, p. 132.
[5] Cf. TOCCO, Guillaume de. L’histoire de saint Thomas d’Aquin. Paris: Du Cerf, 2005, p.29.
Fonte: https://gaudiumpress.org/
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