Evangelho do Domingo | Vatican News |
Tocar
os ouvidos primeiro, significa que a fé começa pela audição; depois tocar a
língua, a fé provoca o anúncio; finalmente a ordem “abre-te”, todo seu ser está
curado e deve anunciar a bondade de Deus, a redenção realizada pelo Verbo.
Padre Cesar Augusto Santos, SJ – Vatican News
Na segunda leitura, Carta de São Tiago 2, 1-5,
lemos um fato que constantemente acontece em nossa vida social e, infelizmente,
muitas vezes em ambientes religiosos, seja no templo ou em residências ou obras
de pessoas referenciais da religião, ou seja, o preconceito social com o
subsequente favorecimento do pertencente a uma classe econômica elevada, do bem
vestido, daqueles que chamamos de “boa aparência”, do elegante, daquele de
corpo sem algum handicap físico ou mental, do portador de um corpo que não
deixa dúvidas quanto ao gênero, do pertencente à raça branca, daquele que
pertence ao nosso grupo esportivo, nascido em um país do primeiro mundo, do
“bem nascido”. Portamo-nos como juízes e prestadores de serviço ao bom senso e
discriminamos as pessoas por causa de seu exterior. Como diz o versículo 4:
“não vos tornastes juízes com critérios injustos?” Com isso defraudamos aqueles
que não se ajustam aos nossos critérios seletivos. E, pode ser exatamente aí,
nessas pessoas desprestigiadas por nosso preconceito e discriminação que
estejam aqueles valores que almejamos, como está escrito no versículo 5.
A primeira leitura, extraída de Isaías 35, 4-7, se
dirige precisamente a essas pessoas relegadas a segundo plano e, por isso,
abatidas. O Senhor reverterá a situação desfavorável e a mudança acontecerá. Aí
está a justiça de Deus, não castigando o preconceituoso, mas favorecendo sua
conversão e libertando o oprimido de tudo aquilo que o oprimia e diminuía
diante do olhar limitado do discriminador. Desse modo de agir de Deus, a
Sagrada Escritura está repleta. Basta, como amostra, recordarmos das palavras
de Maria no Magnificat, Lc 1, 46-55.
Mas vamos pensar grande e intuir se Isaías não usa
cegos, surdos e paralíticos no sentido figurado, já que se dirige a um povo
deprimido que aguarda a libertação deles mesmos e também da natureza. Ao povo
dominado por esses deficientes do bom senso e sem discernimento algum, o Senhor
se dirige através da voz de Isaías: “Criai ânimo, não tenhais medo!” Essa
possibilidade se torna robusta se olharmos para a segunda leitura e vermos que
muitas pessoas marginalizadas pelo preconceito dos dominadores poderosos,
possuem uma baixíssima autoestima e concordando com a dominação, nada fazem
para se libertar. Também para eles Isaías diz: “Criai ânimo, não tenhais medo!”
O que vemos em situações de opressão seja no âmbito
político, laboral, familiar e até no religioso, não nos sugere a necessidade de
um Messias? Ora, sem a participação do que sofre a dominação, sem se apropriar
do “Criai ânimo”, será muito difícil a libertação, já que Deus pede o
desalojamento de nossa acomodação.
O Evangelho, Marcos 7, 31-37 anuncia que a chegada
do Messias já aconteceu e confirma tudo o que foi dito anteriormente. Jesus
retira um homem da multidão, uma multidão pagã, marginalizado pela surdez e
pela consequente dificuldade em falar. Diz-lhe “abre-te”, e o cura,
restabelecendo sua saúde e o reconduzindo à multidão com a missão de
testemunhar que o Messias, o restaurador do mundo, é Jesus, pois ele “faz bem
todas as coisas”.
Tocar os ouvidos primeiro, significa que a fé
começa pela audição; depois tocar a língua, a fé provoca o anúncio; finalmente
a ordem “abre-te”, todo seu ser está curado e deve anunciar a bondade de Deus,
a redenção realizada pelo Verbo. Se a surdez o marginalizava, Jesus não o
reintegra simplesmente à vida social, mas o reintegra como um profeta e a
missão do profeta especialmente naquela sociedade é testemunhar a ação da Vida.
Contudo, Jesus o proíbe de anunciar quem foi que o curou.
Também esse homem pode simbolizar aquele grupo de
pessoas, o povo que quer ser curado, mas que a multidão envolvente o manipula e
o transforma em massa de manobra. Jesus resgata o povo, e este passa a agir
livremente, rompendo com os sistemas que o manipulam. Nesse ínterim surge a
famosa proibição, típica do Evangelho de Marcos, de não contar a ninguém a ação
maravilhosa de Jesus. Por quê? O Senhor não deseja ser confundido como um
simples libertador, mas a futura ressurreição irá demonstrar que Messias é
Jesus, o libertador de toda e qualquer opressão que sufoca o ser humano. Jesus,
a Vida!
A
sociedade justa de acordo com o desejo de Deus, é aquela em que os seres
humanos se respeitam, se unem para testemunhar a beleza e a grandeza de sermos
todos iguais e filhos do mesmo Pai, o Pai de Jesus Cristo, o Messias, o Ungido,
aquele que nos liberta do preconceito e nos torna irmãos!
Fonte: Vatican News
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