Crédito: Editora Cléofas |
Pobre amigo, quando você compreenderá que não pode carregar NADA sem Ele, nem você mesmo?
O homem está sempre preocupado. Porque é imenso e infinito, nele há sempre lugar para um mundo de preocupações.
Há muitas preocupações que são mais por natureza e que é preciso eliminar. Mas há outras, verdadeiras e nobres; mas o homem é muito pequeno para carregá-las e mais ainda para solucioná-las. As preocupações matam o homem; se ele quiser viver e viver bem, é preciso que alguém o ajude a carregá-las, “Alguém” que o espera.
Você está doente do fígado
Com dor de cabeça
Uma crise aguda de asma
Você está com úlcera no estômago
ou então
Seus cabelos estão ficando brancos
Seu rosto começa a enrugar-se
ou ainda
Você está cansado e triste:- “Quantas preocupações!”
– “Estou sobrecarregado!”
– “Nunca mais terei sossego!”
e arrasta um pobre corpo sempre contraído e doloroso, um coração esmagado, que vive porque é preciso viver, mas que não sabe o que é a alegria e a paz.
Em grande parte, não seria porque você está cheio de preocupações, de aborrecimentos que, você vem recolhendo e acumulando há anos, que o corroem, que o consomem, e que o desagregam silenciosa, mas implacavelmente?
O que o abala não são tanto os golpes que você recebe do exterior, mas tudo que de mau você encerra em si, e que borbulha, fermenta, apodrece.
O ciúme que o morde, tanto aquele que você admite francamente, quanto o que se esconde atrás de suas tristezas, suas mágoas, suas palavras, seu mutismo.
O despeito de não brilhar, de não ser notado, preferido… o medo de tal pessoa, acontecimento, tentação e medo de desagradar, de fazer “gafes”, de falhar… a cólera e a vingança: ele me pagará, isso não ficará assim, ah! se eu o pegasse!… as dúvidas: não conseguirei, é impossível, muito difícil para mim, ele não me compreenderá.
As saudades do passado: se eu soubesse, se fosse possível recomeçar, nunca me consolarei, ai os “bons tempos”, nunca mais… as mentiras, os ódios, as críticas negativas, as maledicências, as calúnias, as invejas… e todo o resto: a ironia que você destila a cada dia em suas palavras, os seus sorrisos escusos, os seus suspiros, suas “rabugices”, seus dar de ombros, ou as suas manobras. Esse mal que vive em você ou sai de você fere-o, antes de ferir os outros.
Seu coração é imenso, mas está atravancado como um armário mal arrumado. As gerações passadas aí deixaram suas velharias (como lhe legaram seus móveis) e você o vai enchendo de futilidades ou sujeiras. E também de objetos caros que você quer usar de novo… mas que você teima em camuflar. A lembrança de tal devaneio malsão, daquela leitura, daquele olhar… O gosto daquela paixão, a satisfação daquela vingança, o prazer orgulhoso daquele brilhante sucesso… Por que você não se acostuma a frequentemente fazer a revisão de suas lembranças, para encontrar aquilo que deveria ter jogado fora?
Há ainda o mal que você sente, vê, toca. Mas há também aquele que está escondido, que desapareceu de sua vista, e há também aquele que você desprezou e esmagou, e que lhe parece morto para sempre.
Nisso você está errado. Tudo o que está dentro de você está vivo. Vivo quando você pensa, vivo quando você não pensava, vivo de dia, vivo de noite. E tudo o que está vivo em você e é mau, faz mal.
Não é possível; aquele velho rancor, essa mágoa de minha sensibilidade dolorida; tal incompreensão, desdém, abandono, desprezo; tal decepção em meus negócios, em minhas relações, em minha família… essa tribulação, aquele pecado… não existem mais, estão enterrados, não voltemos ao assunto!
Não meu caro, eles existem ainda, e mesmo que estivessem mortos, seu cadáver ainda está em você, e seu odor o empesta.
O rato morto no sótão não o envenenará mais… quando você o tiver tirado de lá.
O prego do pneu de seu carro não furará mais a câmara de ar… quando você o tiver tirado.
Sua coleção de preocupações de ontem e de hoje as pequenas e as grandes, as legítimas e as ilegítimas, não o acabrunharão mais, quando você as tiver jogado fora.
Há falsas inquietações, aquelas de que você não deve orgulhar-se e de que precisa definitivamente desfazer-se, pedindo perdão; e há também as preocupações justas: as do pão a ganhar, as do futuro a assegurar, da educação a dar, da paz e da justiça a instaurar, dos homens a conquistar, do Mundo a salvar. Essas inúmeras preocupações, acumuladas cotidianamente, em cada instante, em cada gesto, em cada encontro, ao menos essas, será que você deve carregar?
Não, você é muito fraco. Deixe que outro as carregue.
Mas, eu não terei nada que fazer!
Sim, você tem que dar!
Isso é muito fácil!
Não, é muito difícil ser criança, nada reter para si, dar sempre tudo, mesmo as alegrias –para que o outro tudo carregue. É muito duro caminhar sempre ao seu lado, sempre lhe dando a mão e tornar-se tão pequeno, tão humilde, tão simples, que possa aceitar ser carregada.
Pobre amigo, quando você compreenderá que não pode carregar NADA sem Ele, nem você mesmo?
Retirado do livro: “Construir o Homem e o Mundo”. Michel Quoist. Editora Cléofas.
Fonte: https://cleofas.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário