Papa Francisco na ONU | Vatican News |
Em 24 de outubro de 1945, após a devastadora Segunda
Guerra Mundial, nascia a Organização das Nações Unidas, com o objetivo de
trabalhar pela paz no planeta após os horrores do conflito. Luciano Bozzo,
professor de Relações Internacionais na Universidade de Florença, fala sobre a
relevância das motivações que levaram à criação da ONU.
Giancarlo La Vella – Vatican
News
Assim que a dor e a destruição
causadas pela Segunda Guerra Mundial terminaram, a comunidade internacional
perguntou-se como garantir ao planeta um futuro pacífico e como promover os
valores liberal-democráticos. Com base na experiência anterior da Sociedade das
Nações pós Primeira Guerra Mundial, que infelizmente falhou, as potências
vencedoras iniciaram o processo de criação da ONU, a maior organização
intergovernamental da atualidade, em 24 de outubro de 1945. Fazem parte 193
Estados membros, com dois observadores permanentes: a Santa Sé e o Estado da
Palestina. O último a aderir é o Sudão do Sul, em 14 de julho de 2011. Foi
nesse período imediato do pós-guerra que a paz foi encarada como um bem
essencial a ser concretizado, a fim de olhar para um futuro de bem-estar para o
mundo inteiro. Todo 24 de outubro marca o Dia das Nações Unidas, para não
esquecermos os objetivos para os quais o organismo, sediado no “Palácio de
Vidro” em Nova Iorque, foi fundado.
O sonho da paz
global
Olhando para trás, 76 anos sob
a égide das Nações Unidas, deve ter-se em mente que não houve novos conflitos
generalizados, mas a ONU continua empenhada em trabalhar pela paz face às
dezenas de micro-conflitos de magnitude variável que ocorrem no nosso tempo. A
"guerra mundial em pedaços", como definida várias vezes pelo Papa
Francisco, requer um esforço ainda maior da ONU, que deve ultrapassar novos obstáculos
para afirmar o seu papel de mediador nas crises internacionais. Segundo Luciano
Bozzo, professor de Relações Internacionais na Universidade de Florença,
entrevistado pela Rádio Vaticano – Vatican News, as dificuldades da ONU em ter
um impacto positivo nas crises atuais residem no fato de que "hoje quase
praticamente não existem conflitos entre Estados, mas os conflitos globais não
desapareceram", ou seja, as situações que põem a paz em risco ocorrem
dentro dos Estados. Vários países da América Latina, Etiópia, Afeganistão,
Somália e Nigéria são apenas alguns exemplos. Para as Nações Unidas, portanto,
diz o professor Bozzo, "é muito complexo entrar no corpo das estruturas
estatais", a fim de reduzir a intensidade dos conflitos sem entrar em
conflito com a soberania dos próprios Estados.
Os novos
desafios
E hoje, a manutenção da paz
não depende apenas de evitar o uso de armas, dando lugar aos instrumentos
diplomáticos que a comunidade internacional possui, mas também de enfrentar
outras emergências que, por sua vez, podem ser uma causa direta ou indireta de
conflito. Luciano Bozzo recorda os conceitos expressos pelo Papa Paulo VI, tais
como "o novo nome da paz é desenvolvimento". Esta frase salientou o
fato de as guerras terem sido frequentemente o resultado do subdesenvolvimento
e de condições econômicas difíceis. Ao mesmo tempo, hoje, a salvaguarda do
planeta", diz o professor, "tem laços estreitos com a segurança e a
paz globais. Se condições climáticas extremas ocorrem em algumas áreas da
Terra, condicionando a vida produtiva de um povo e causando fome e migração, é
evidente que estas eventualidades produzem conflitos que também se repercutem
na estabilidade das relações entre Estados. Não é por acaso que, em 2015, no
70º aniversário do nascimento das Nações Unidas, falando à Onu, o Papa Francisco salientou
que "uma ofensa contra o ambiente é uma ofensa contra a humanidade".
A proteção da casa comum é também um tema ligado, portanto, à paz.
Uma reforma
difícil
O mundo mudou nas últimas sete décadas. Os equilíbrios
políticos e econômicos são diferentes dos de meados do século passado. Já não
existe uma guerra fria, e os países que antes estavam em lados opostos são
agora aliados. Mas entretanto, a ONU ainda está organizada com base nos
resultados da Segunda Guerra Mundial. Os poderes que venceram o conflito são
membros permanentes do Conselho de Segurança com direito de veto, mas outros
países pedem para se juntarem ao grupo. A Alemanha e o Japão, por exemplo,
fizeram-no sem sucesso. As decisões da Assembleia Geral não são vinculativas,
uma vez que o órgão tem principalmente funções consultivas. Mas uma reforma
mais democrática da ONU, de acordo com Luciano Bozzo, não é fácil de conseguir.
Um exemplo é a União Europeia, onde se aplica o princípio da unanimidade, onde
mesmo um país pequeno pode bloquear uma decisão que é útil para a maioria dos
estados membros. A transferência deste procedimento para o nível da ONU -
conclui Bozzo - correria o risco de bloquear e complicar o trabalho dos órgãos
de decisão da ONU.
Fonte: https://www.vaticannews.va/
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