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Dom Paulo Cezar Costa / Arcebispo de Brasília
O Amor a Deus e ao próximo
A liturgia deste domingo nos apresenta o diálogo de Jesus com um escriba (Mc 12, 28 -34). A questão levantada por ele era muita disputada entre os doutores da Lei: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?” Jesus começa sua resposta citando o shema, a oração que o judeu piedoso recitava em cada manhã e tarde. No shema estava a proclamação fundamental da fé de Israel. Era a afirmação do primado de Deus na vida do israelita. “… O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força!” Mas Jesus vai além e cita o segundo mandamento: “O segundo mandamento é: amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12, 29-31). O texto do Deuteronômio, citado por Jesus, mostra que não é um amor qualquer, mas um amor de todo o coração. O coração é o centro da existência para o judeu, é o centro das atividades intelectivas e volitivas. É o amor a Deus que deve atingir o mais profundo de nós, expresso pelas palavras: coração, alma, entendimento e força. Jesus acrescenta o amor ao próximo. Alguns rabinos da época de Jesus já consideravam o amor ao próximo como fundamental. Rabi Aqiba escrevia: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo é o princípio fundamental da Lei”.
O amor cristão participa do amor de Deus. Diz São Tomás: «O amor indica a união com a coisa amada, no limite do possível; assim, para com Deus que faz com que o homem viva a vida de Deus e não a própria, para quanto é possível» (III Sent., d.29, q.1, a.3, ad1). Para S. Tomás «o amante vem transformado no amado e em certo modo convertido neste» (III Sent. D. 27, q.1, a.1). Assim, o homem amando Deus vem transformado de certo modo em Deus, pois o amor transforma o amante no amado, «faz sim que o amante penetre na intimidade (in interiora) do amado, e vice-versa, assim que nada daquilo que pertence ao amado permanece separado do amante» (ibid, ad 4). Porque o amor para com Deus e aquele para com o próximo caminham juntos, não há amor divino sem o amor para com o próximo e vice-versa: «Se alguém disser: ‘Amo a Deus’ mas odeia o seu irmão, é um mentiroso: pois quem não ama seu irmão, a quem vê, a Deus, a quem não vê, não poderá amar. Este é o mandamento que dele recebemos: aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão» (Jo 4,20-21).
O centro da vida do cristão não está na Lei, nem em princípios legalistas, mas no amor. Somente quem se coloca no caminho do amor a Deus e ao próximo vai caminhando para tocar o coração da fé cristã. Que este texto do Evangelho meditado, rezado e interiorizado nos ajude a perceber a centralidade do amor a Deus e ao próximo na nossa vida e nos conduza a perceber que o amor a Deus está intimamente coligado com o amor ao próximo.
Fonte: Arquidiocese de Brasília(https://arqbrasilia.com.br/)
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