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terça-feira, 2 de novembro de 2021

Cardeal Tempesta: Rezar pelos mortos: nosso compromisso de fé!

Dom Orani oferta flores na quadra dos indigentes do
Cemitério de Santa Cruz | Vatican News.

Reze hoje pelos que te precederam na vida eterna. Amanhã, outros também irão rezar por ti! Que os fiéis defuntos, pela misericórdia de Deus, descansem em paz.

Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist. - Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

As orações nas intenções das pessoas que já faleceram são expressões da ligação e do amor que temos para com elas. Através das nossas preces, gostaríamos de ajudá-las no momento da morte a se decidirem por Deus. É um sinal do nosso amor e da nossa solidariedade. Para o amor, a morte não é um limite. Na morte de um cristão, as possibilidades de se ajudar e de se doar não deixam de existir. Encontramos essa prática já no Antigo Testamento. Um dos testemunhos mais claros está em 2Mc 12,38-45, onde encontramos além da fé na ressurreição, a prática de oração e ajuda pelos mortos. Claro que precisamos compreender este auxílio e purificação após a morte dentro da prática da Igreja que chamamos de comunhão dos santos.

Fazemos parte do Corpo de Cristo que é a Igreja. Ensina-nos o Concílio Ecumênico Vaticano II, na Constituição Dogmática Lumem Gentium 49, que essa Igreja é peregrina na terra, triunfante no céu e padecente nesse processo de purificação. Por formarmos um único corpo, é que podemos ir em socorro dos nossos irmãos e irmãs falecidos, assim como podemos contar com a intercessão dos santos e santas que já estão junto de Deus. Ou seja, assim como no nosso corpo humano um membro beneficia o outro, no corpo espiritual, que é a Igreja, acontece o mesmo, o bem de cada um dos membros comunica-se a todos (1Cor 12,26).

Fique claro que não nos comunicamos com os mortos, mas fazemos comunhão com eles por meio do amor e da oração. Nós amamos na terra, eles nos amam no céu, nós rezamos na terra, eles louvam nos céus. E não há dúvidas que assim como temos o auxílio dos santos, nós podemos, com nossas orações, ajudar os que já morreram.

Dom Orani durante celebração da Santa Missa | Vatican News

Na oração pelos mortos como fazemos na Santa Missa que celebramos, não existe barreira entre céu e terra, entre vivos e mortos. Na Santíssima Eucaristia, participamos do banquete eterno, que os nossos entes queridos celebram, agora, junto com Deus. Podemos experienciar a comunhão com eles, que celebram as bodas eternas no mesmo momento.

Tenhamos presente que rezamos pelos mortos. Os bem-aventurados (santos) não precisam das nossas orações, por isso rezamos com eles invocando as suas intercessões. E rezamos pelos mortos na certeza de que nossas preces podem ajudá-los no encontro definitivo com Deus.

Vale lembrar que é parte da nossa fé a doutrina do purgatório. E é aqui que se justifica a nossa oração pelos mortos. Mas tenhamos presente que purgatório não é lugar. Por isso, não devemos pensá-lo nas categorias de tempo e espaço. Como se uma pobre alma permanecesse ali por tanto tempo afim de expiar os pecados. Alguns teólogos católicos compreendem o purgatório como sendo a imagem do encontro pessoal com Deus. No encontro com Ele, que nos ama, reconhecemos a dor que causamos aos outros com nossos pecados e sofremos a dor do arrependimento. Não podemos dizer quanto tempo leva essa dor, pois como dizíamos, fugimos das categorias de tempo e espaço.

Como dificilmente nos encontramos preparados para a morte, cremos na possibilidade da solidariedade na expiação dos pecados de uns pelos outros. Uma vez que após a morte não é possível fazer mais nada por si mesmo, os que morrem no pecado têm necessidade da intercessão dos outros membros da Igreja. Desse modo, como membros do Corpo de Cristo, podemos auxiliar nossos irmãos que morreram no pecado com nossas orações.

Santo Agostinho diz que as obras de misericórdia são a melhor ajuda que podemos prestar aos mortos. Ou seja, o bem que ficou a meio caminho naqueles que morreram continua a ser feito em comunhão com o bem praticado pelos que amam seus mortos. Nossa oração é uma expressão do nosso amor. Gostaríamos de poder mostrar que não os esquecemos, que eles nos são importantes.

O sete é um número simbólico e na Bíblia indica perfeição, uma oração contínua em favor dos nossos entes queridos. Até porque recordamos que na obra da criação o 7º dia é o dia do descanso (Gn 2,3), e nós rezamos pelo descanso eterno da pessoa que morreu.  Mas também temos a tradição do luto de sete dias que nós encontramos na Bíblia: José fez um luto de sete dias pelo seu pai Jacó (Gn 50,10); Saul foi enterrado e fizeram um jejum de sete dias (1Sm 31,13); O povo chorou a morte de Judite durante sete dias (Jt 16,24); O luto por um morto dura sete dias (Eclo 22,13). E esse período de luto é comumente concluído, na tradição católica, com a missa de 7º dia.

O sete é uma medida temporal, vale para nós, enquanto Igreja Peregrina, enquanto seres medidos pelo tempo. Mas não vale mais para os nossos mortos, pois passados pelo juízo particular, eles participam da eternidade de Deus.

Por isso, celebrar a Eucaristia por alguém falecido é expressão da nossa comunhão. Continuamos lembrando dele, não o abandonamos, o consideramos parte de nós. E é muito importante que quando encomendamos uma intenção de missa, participemos da celebração. É muito triste quando, às vezes, inclusive em missas de 7º dia, nenhum familiar encontra-se na Igreja. Não deveríamos terceirizar o nosso amor por um ente que chamamos de querido.

Neste sentido, do dia 1º ao dia 8 de novembro, aos fiéis que visitarem o cemitério e rezarem, mesmo só mentalmente, pelos defuntos, concede-se uma Indulgência Plenária, só aplicável aos defuntos: diariamente, do dia 1º ao dia 8 de novembro, nas condições de costume, isto é: confissão sacramental, comunhão eucarística e oração nas intenções do Sumo Pontífice. Neste ano, devido à pandemia, esse prazo foi prorrogado até o final do mês pela Penitenciaria Apostólica. Isso já aconteceu no ano passado.

Ainda neste dia, em todas as Igrejas, oratórios públicos ou semipúblicos, igualmente lucra-se uma Indulgência Plenária, só aplicável aos defuntos: a obra que se prescreve é a piedosa visitação à Igreja, durante a qual se deve rezar a Oração Dominical e o Símbolo (Pai nosso e Creio) confissão sacramental, comunhão eucarística e oração na intenção do Sumo Pontífice (que pode ser um Pai Nosso e Ave Maria, ou qualquer outra oração conforme inspirar a piedade e devoção).

Reze hoje pelos que te precederam na vida eterna. Amanhã, outros também irão rezar por ti! Que os fiéis defuntos, pela misericórdia de Deus, descansem em paz. Amém!

Fonte: https://www.vaticannews.va/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF