Capa: Frangmento de um ícone de meados do século XVII atribuído a Emenuel Lombardos |
Um Monge da Igreja do Oriente
AMOR SEM LIMITES
Tradução para o português:
Pe. André Sperandio
Ecclesia |
5. Esta grande visão
O fogo brota da sarça que arde. No entanto, a chama não a consume.
Aproxima-te da sarça ardente, meu filho, e contempla a grande visão; considere porque a sarça arde, porém não é consumida.
O fogo que arde na sarça sem consumí-la é um fogo que não se alimenta de materiais estranhos. Subsiste por si mesmo. E a partir de si mesmo se propaga até o infinito.
Esse fogo não destrói a madeira da sarça. Faz desaparecer o que na sarça é abrolho, cardo ou espinho. Mas não a deforma. Respeita as suas estruturas originais, ainda que se desvaneçam as excrecências. Renova sem matar. Converte em fogo a própria madeira... e esse fogo dura.
Sem dúvida, de acordo com a interpretação mais simples, podes ver na sarça ardente a expressão da protecção divina que, através de todas as queimaduras e de toda a dor, mantém a existência. Podes ver, meu filho, a afirmação de uma piedade suprema, de uma misericórdia preservadora. Podes ver o sinal de uma purificação divina, dolorosa, mas que liberta.
A sarça ardente tem, no entanto, um sentido mais profundo. Ela apresenta uma revelação que se refere a teu Deus, ao teu próprio Senhor.
A sarça ardente é uma expressão da natureza divina. Na chama da sarça podes vislumbrar o que Eu Sou. O teu Senhor, o Senhor-Amor, não é um fogo que devora?
Como a chama da sarça, Eu Sou o Amor que se dá sem esgotar-se jamais. Eu Sou a generosidade que não conhece qualquer medida. Não se pode dizer do meu amor: até certo ponto, e não mais.
Eu Sou o Amor que tende sempre a incorporar e assimilar todos os elementos humanos que encontra, e em cujas origens está. Assim como o fogo não destrói a madeira da sarça tampouco Eu irei destruir os homens que criei. Quero tão somente fazer desaparecer aquilo que no homem contradiz a essência do amor.
Eu o tomo e o faço meu. Eu o transformo e o transfiguro. Vivifico-o. Transporto para um outro plano, para um plano superior.
O que ama se une aos que ama. Uno-me a vocês, meus bem-amados. E, no entanto, não pode haver confusão entre mim, que sou o Amor, e vocês, que tendes o amor.
Vês agora a grande visão? Vês agora a chama que ninguém acende, mas que brota do meu próprio coração, a chama que há em mim? Vês o incêncio divino estender-se sobre o mundo? O universo inteiro é a sarça ardente.
6. O amor sem limites
Filho meu, viste a sarça ardente que não se consumia. Reconheceste o amor que é um fogo devorador, que te quer todo inteiro. A "grande visão" da sarça ardente pode ajudar-te a me dar um nome, de algum modo, novo. Esse novo nome não vai abolir aquele ou aqueles dos quais me tenho servido até o presente e... no entanto, como um relâmpago durante a noite, pode, com a sua viva luz, renovar toda a paisagem.
Muitas vezes, me chamaste por um nome que não era meu. Ou melhor, esse nome era certamente o meu, mas não expressava claramente o que a vida divina manifesta em sua maior intensidade, nem traduzia o que eu quis te revelar de mim mesmo no momento da tua oração... esse aspecto particular de meu ser a partir do qual deverias dirigir-te a mim.
Tu me chamas Deus. Este nome tradicional foi adorado e bendito por inúmeras almas. Este nome lhes deu, e não cessa de lhes dar, emoção e força. É um insensato quem pretende depreciá-lo. Ímpio o que quer eliminá-lo. Adora-me como a teu Deus. Venera este nome que me designa.
Porém, não diminuirás esta veneração quando perceberes que, no que diz respeito à linguagem, este nome não tem um conteúdo evidentemente certo. Ele carece de precisão. Os que lhe foram dados mais tarde, não estavam unidos a mesma palavra. Palavra tão vasta, suscetível de uma extensão tal que poderia, por vezes, pela fraqueza humana, parecer algo vazio... Então passou-se a fazer um uso mecânico, rotineiro de meu nome. Muitos conservaram a fórmula, mas não sabem dar-lhe sentido.
Tu dizes: Deus, Deus meu, Tu que és Deus, Senhor Deus. Na antiga fonte, no vocábulo consagrado, podes certamente extrair força nova. Mas, querendo particularizar o meu nome segundo o instante ou a necessidade presente, podes encontrar um estimulante real. Poderás, então, voltar para aqueles, de meus aspectos, cujas circunstâncias concretas os revela a ti. Tu me dirás então, conforme o caso: Tu és a beleza; Tu és a verdade; Tu és a minha pureza; Tu és a minha luz; Tu és a minha força. Poderás ainda dizer: Tu és o meu Amor.
Esta última expressão irá aproximar mais estreitamente do meu coração a tua linguagem. Poderás dizer-me: Senhor-amor. Ou, ainda mais simplesmente: o Amor.
E aqui colocaria para a tua consideração, a tua piedade, um termo que, se quiseres, se converterá no sol, o sol sem ocaso de tua vida. Meus queridos, Eu sou o Amor sem limites. O Amor sem limites... Eu estou além, acima de todos os nomes. Pois, justamente o qualificativo "sem limites" expressa que a minha pessoa e o meu amor ultrapassam todas as categorias com as quais o pensamento humano está habituado. Eu sou o Amor supremo, o Amor universal, o Amor absoluto, o Amor infinito.
Se neste momento eu insisto sobre as palavras sem limites é para evocar, em teu espírito, a imagem visual das fronteiras derrubadas. É para que possas alcançar a percepção do "ilimitado", de um amor que, como um vento impetuoso, como um furacão, derruba todos os obstáculos. Eu sou o Amor que nada pode parar, que nada pode conter, que nada pode deter.
O inimigo a ser vencido não é a morte, mas a negação que o homem pode opor ao meu amor. Nada, porém, pode destruir ou diminuir a intenção e a ação de amar do Deus Forte.
Amados meus, eu não estou aqui a ensinar nada de novo. Não vos proponho uma definição ou uma doutrina. Não faço mais do que repetir o que foi dito desde o princípio. Indico um caminho de acesso. São bons todos os caminhos que levam ao mesmo fim.
® NARCEA, S.A. EDIÇÕES
Dr. Federico Rubio e Galí, 9. 28039 - Madrid
® EDITIONS ET LIBRAIRIE DE CHEVETOGNE Bélgica
Título original: Amour sans limite
Tradução (para o espanhol): CARLOS CASTRO CUBELLS
Tradução para o português: Pe. André Sperandio
Capa: Fragmento de um ícone de meados de século XVII atribuída a Emanuel lombardos
ISBN: 84-277-0758-4
Depósito Legal: M-26455-1987
Impressão: Notigraf, S. A. San Dalmácio, 8. 28021 - Madrid
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