Sacerdote para eternidade | Opus Dei |
Dignidade do Sacerdócio
O sacerdócio leva a servir a Deus num estado que, em si mesmo,
não é melhor nem pior do que os outros; é diferente. Mas a vocação de sacerdote
aparece revestida duma dignidade e duma grandeza que nada na terra supera.
Santa Catarina de Sena põe na boca de Jesus Cristo estas palavras: não quero
que diminua a reverência que se deve professar aos sacerdotes, porque a
reverência e o respeito que se lhes manifesta, não se dirige a eles, mas a Mim,
em virtude do Sangue que lhes dei para que o administrem. Se não fosse isso,
deveríeis dedicar-lhes a mesma reverência que aos leigos e não mais… Não devem
ser ofendidos: ofendendo-os ofende-se a Mim e não a eles. Por isso o proibi e
estabeleci que não admito que toqueis nos meus Cristos.
Alguns afadigam-se à procura, como dizem, da identidade do
sacerdote. Que claras resultam estas palavras da Santa de Sena! Qual é a
identidade do sacerdote? A de Cristo. Todos os cristãos podem e devem ser, não
já alter Christus, mas ipse Christus: outros Cristos, o próprio Cristo! Mas no
sacerdote isto dá-se imediatamente, de forma sacramental.
Para realizar uma obra tão grande – a da Redenção – Cristo está
sempre presente na Igreja, principalmente nas ações litúrgicas. Está presente
no sacrifício da Missa, tanto na pessoa do Ministro – “oferecendo-se agora por
ministério dos sacerdotes O mesmo que se ofereceu a si mesmo na cruz” -, como,
sobretudo, sob as espécies eucarísticas. Pelo sacramento da Ordem, o sacerdote
torna-se efetivamente apto para emprestar a Nosso Senhor a voz, as mãos, todo o
seu ser: é Jesus Cristo quem, na Santa Missa, com as palavras da consagração, transforma
a substância do pão e do vinho no Seu Corpo, Alma, Sangue e Divindade.
Nisto se fundamenta a incomparável dignidade do sacerdote. Uma
grandeza emprestada, compatível com a minha pequenez. Eu peço a Deus Nosso
Senhor que nos dê, a todos os sacerdotes, a graça de realizar santamente as
coisas santas, e de refletir também na nossa vida as maravilhas das grandezas
do Senhor. Nós, que celebramos os mistérios da Paixão do Senhor, temos de
imitar o que fazemos. E então a hóstia ocupará o nosso lugar diante de Deus, se
nós mesmos nos fizermos hóstias.
Se alguma vez encontrais um sacerdote que, exteriormente, não
parece viver de acordo com o Evangelho – não o julgueis, Deus o julga – sabei
que, se celebrar validamente a Santa Missa, com intenção de consagrar, Nosso
Senhor não deixa de descer até àquelas mãos, ainda que sejam indignas. Pode
haver maior entrega, maior aniquilamento? Mais do que em Belém e no Calvário! Por
quê? Porque Jesus Cristo tem o Coração oprimido pelas suas ânsias redentoras, porque
não quer que ninguém possa dizer que não foi chamado, porque se faz encontrar
pelos que não O procuram.
É amor? Não há outra explicação. Que insuficientes se tornam as
palavras, para falar do Amor de Cristo! Ele baixa-se a tudo, admite tudo,
expõe-se a tudo – a sacrilégios, a blasfémias, à frieza da indiferença de
tantos – com o fim de oferecer, ainda que seja a um único homem, a possibilidade
de descobrir o bater de um Coração que salta no Seu peito chagado. Esta é a
identidade do sacerdote: instrumento imediato e diário da graça salvadora que
Cristo ganhou para nós. Se se compreende isto, se isto é meditado no silêncio ativo
da oração, como se pode considerar o sacerdócio uma renúncia? É um ganho
impossível de calcular. A Nossa Mãe Santa Maria, a mais santa das criaturas –
mais do que Ela, só Deus – trouxe uma vez Jesus ao mundo; os sacerdotes
trazem-no à nossa terra, ao nosso corpo e à nossa alma, todos os dias: Cristo
vem para nos alimentar, para no vivificar, para ser, desde já, penhor da vida
futura.
São Josemaria Escrivá.
© 2002 Fundação Studium
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