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segunda-feira, 22 de novembro de 2021

ESPIRITUALIDADE: Sacerdote para eternidade (Parte 4/4)

Sacerdote para eternidade | Opus Dei

Sacerdote para eternidade

Sacerdote para a Santa Missa

Convém recordar, com importuna insistência, que todos nós, sacerdotes, quer sejamos pecadores quer santos, quando celebramos a Santa Missa não somos nós próprios. Somos Cristo, que renova no altar o seu divino Sacrifício do Calvário. A obra da nossa Redenção cumpre-se continuamente no mistério do Sacrifício Eucarístico, no qual os sacerdotes exercem o seu principal ministério, e por isso recomenda-se encarecidamente a sua celebração diária pois, mesmo que os fiéis não possam estar presentes, é um ato de Cristo e da sua Igreja.

Ensina o Concilio de Trento que na Missa se realiza, se contém e incruentamente se imola aquele mesmo Cristo que uma só vez se ofereceu Ele mesmo cruentamente no altar da Cruz… Com efeito, a vítima é uma e a mesma: e O que agora se oferece pelo ministério dos sacerdotes, é O mesmo que então se ofereceu na Cruz, sendo apenas diferente a maneira de se oferecer.

A assistência ou a falta de assistência de fiéis à Santa Missa não altera em nada esta verdade de fé. Quando celebro rodeado de povo, sinto-me satisfeito, sem necessidade de me considerar presidente de nenhuma assembleia. Sou, por um lado, um fiel como os outros, mas sou, sobretudo, Cristo no Altar! Renovo incruentamente o divino Sacrifício do Calvário e consagro in persona Christi, representando realmente Jesus Cristo, porque lhe empresto o meu corpo, a minha voz e as minhas mãos, o meu pobre coração, tantas vezes manchado, que quero que Ele purifique.

Quando celebro a Santa Missa apenas com a participação daquele que ajuda à Missa, também aí há povo. Sinto junto de mim todos os católicos, todos os crentes e também os que não creem. Estão presentes todas as criaturas de Deus – a terra, o céu, o mar, e os animais e as plantas -, dando glória ao Senhor da Criação inteira.

E especialmente – di-lo-ei com palavras do Concilio Vaticano II – unimo-nos no mais alto grau ao culto da Igreja celestial, comunicando e venerando sobretudo a memória da gloriosa sempre Virgem Maria, de S. José, dos santos Apóstolos e Mártires e de todos os santos. Peço a todos os cristãos que rezem muito por nós, sacerdotes, para que saibamos realizar santamente o Santo Sacrifício. Rogo-lhes que mostrem um amor tão delicado à Santa Missa, que nos leve, a nós, sacerdotes, a celebrá-la com dignidade – com elegância – humana e sobrenatural: com asseio nos paramentos e nos objetos destinados ao culto, com devoção, sem pressas.

Por que pressa? Têm-na por acaso os namorados ao despedir-se? Parece que se vão embora e não vão: voltam uma e outra vez, repetem palavras correntes como se acabassem de as descobrir… Não receeis aplicar exemplos do amor humano, nobre, limpo, às coisas de Deus. Se amarmos o Senhor com este coração de carne – não temos outro – não sentiremos pressa em terminar esse encontro, essa entrevista amorosa com Ele.

Alguns vivem com calma e não se importam de prolongar até ao cansaço leituras, avisos, anúncios Mas, ao chegarem ao momento principal da Santa Missa, ao Sacrifício propriamente dito, precipitam-se, contribuindo assim para que os outros fiéis não adorem com piedade Cristo, Sacerdote e Vítima; nem aprendam a dar-lhe graças depois – com pausa, sem precipitações -, por ter querido vir de novo até nós.

Todos os afetos e necessidades do coração do cristão encontram na Santa Missa o melhor caminho: aquele que, por Cristo, chega ao Pai no Espírito Santo. O sacerdote deve pôr especial empenho em que todos o saibam e vivam. Não há atividade alguma que possa antepor-se normalmente à de ensinar e fazer amar e venerar a Sagrada Eucaristia.

O sacerdote exerce dois atos: um, principal, sobre o Corpo de Cristo verdadeiro; outro, secundário, sobre o Corpo Místico de Cristo. O segundo ato ou ministério depende do primeiro, e não ao contrário. Por isso, o que há de melhor no ministério sacerdotal é procurar que todos os católicos se aproximem do Santo Sacrifício cada vez com mais pureza, humildade e veneração. Se o sacerdote se esforça nesta tarefa, não ficará defraudado, nem defraudará as consciências dos seus irmãos cristãos.

Na Santa Missa adoramos, cumprindo amorosamente o primeiro dever da criatura para com o seu Criador: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás. Não adoração fria, exterior, de servo; mas íntima estima e acatamento, que é amor profundo de filho.

Na Santa Missa encontramos a oportunidade perfeita de expiar os nossos pecados e os de todos os homens: para poder dizer, como S. Paulo, que estamos cumprindo na nossa carne o que falta padecer a Cristo. Ninguém caminha sozinho no mundo, ninguém deve considerar-se livre de uma parte de culpa no mal que se comete sobre a terra, consequência do pecado original e também da soma de muitos pecados pessoais. Amemos o sacrifício, procuremos a expiação. Como? Unindo-nos na Santa Missa a Cristo, Sacerdote e Vítima; será sempre Ele quem carregará com o peso imenso das infidelidades das criaturas; das tuas e das minhas…

O Sacrifício do Calvário é uma prova infinita a generosidade de Cristo. Nós – cada um – somos sempre muito interesseiros; mas Deus Nosso Senhor não se importa de que na Santa Missa Lhe apresentemos todas as nossas necessidades. Quem não tem coisas a pedir? Senhor, aquela doença… Senhor, esta tristeza… Senhor, aquela humilhação, que não sei suportar por amor de Ti… Queremos o bem, a felicidade e a alegria das pessoas da nossa casa; oprime-nos o coração a sorte dos que padecem fome e sede de pão e de justiça; dos que sentem a amargura da solidão; dos que, no termo dos seus dias, não recebem um olhar de carinho nem um gesto de ajuda.

Mas a grande miséria que nos faz sofrer, a grande necessidade a que queremos pôr remédio é o pecado, o afastamento de Deus, o risco de que as almas se percam para toda a eternidade. Levar os homens à glória eterna no amor de Deus: esta é a nossa aspiração fundamental ao celebrar a Missa, como o foi a de Cristo ao entregar a sua vida no Calvário.

Acostumemo-nos a falar com esta sinceridade ao Senhor, quando desce, vítima inocente, até às mãos do sacerdote. A confiança no auxílio do Senhor dar-nos-á essa delicadeza de alma, que se traduz sempre em obras de bem e de caridade, de compreensão, de profunda ternura com os que sofrem e com os que vivem artificialmente fingindo uma satisfação oca, tão falsa, que depressa se converte em tristeza.

Agradeçamos, finalmente, tudo o que Deus Nosso Senhor nos concede, pelo facto maravilhoso de Se nos entregar Ele mesmo. Que venha ao nosso peito o Verbo Encarnado!… Que se encerre, na nossa pequenez, Aquele que criou céus e terra!… A Virgem Maria foi concebida imaculada para albergai Cristo no seu seio. Se a ação de graças há de ser proporcional à diferença entre o dom e os méritos, não devíamos converter todo o nosso dia numa Eucaristia
contínua? Não saiais do templo, mal acabeis de receber o Santo Sacramento. Tão importante é o que vos espera que não podeis dedicar ao Senhor dez minutos para lhe dizer obrigado? Não sejamos mesquinhos. Amor com amor se paga.

Um sacerdote que vive deste modo a Santa Missa adorando, expiando, impetrando, dando graças, identificando-se com Cristo -, e que ensina os outros a fazer do Sacrifício do Altar o centro e a raiz da vida do cristão, demonstrará realmente a grandeza incomparável da sua vocação, esse carácter com que foi selado, e que não perderá por toda a eternidade. Sei que me compreendeis quando vos afirmo que, ao lado de um sacerdote assim, se pode considerar um fracasso – humano e cristão – a conduta de alguns que se comportam como se tivessem de pedir desculpa por ser ministros de Deus. É uma desgraça, porque os leva a abandonar o ministério, a arremedar os leigos, a procurar uma segunda ocupação que a pouco e pouco suplanta a que lhes é própria por vocação e por missão. Frequentemente, ao fugir do trabalho de cuidar espiritualmente das almas, tendem a substituí-lo por uma intervenção em campos próprios dos leigos – nas iniciativas sociais, na política -, aparecendo então esse fenômeno do clericalismo, que é a patologia da verdadeira missão sacerdotal.

Não quero terminar com esta nota sombria, que pode parecer pessimismo. Não desapareceu na Igreja de Deus o autêntico sacerdócio cristão; a doutrina é imutável, ensinada pelos lábios divinos de Jesus. Há muitos milhares de sacerdotes em todo o mundo que cumprem plenamente a sua missão, sem espetáculo, sem cair na tentação de lançar pela borda fora um tesouro de santidade e de graça, que existe na Igreja desde o princípio.

Aprecio a dignidade da finura humana e sobrenatural destes meus irmãos, espalhados por toda a terra. É de justiça que se vejam já agora rodeados pela amizade, a ajuda e o carinho de muitos cristãos. E quando chegar o momento de se apresentarem diante de Deus, Jesus Cristo irá ao seu encontro, para glorificar eternamente aqueles que, no tempo, atuaram em seu nome e na sua Pessoa, derramando com generosidade a graça de que eram administradores. Voltemos de novo, em pensamento, aos membros do Opus Dei que serão sacerdotes no próximo Verão. Não deixeis de pedir por eles, para que sejam sempre sacerdotes fiéis, piedosos, doutos, entregues, alegres! Encomendai-os especialmente a Santa Maria, que torna ainda mais generosa a sua solicitude de Mãe com aqueles que se empenham, para toda a vida, em servir de perto o seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, Sacerdote Eterno.

São Josemaria Escrivá.

© 2002 Fundação Studium


Fonte: https://www.presbiteros.org.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF