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Dom Paulo Cezar Costa / Arcebispo de Brasília
Os pobres são nossos irmãos
Neste trigésimo terceiro domingo comum, a liturgia coloca diante de nós a segunda vinda do Filho do Homem (Mc 13, 24-32), ao tempo em que celebramos o Dia Mundial dos Pobres, cujo tema este ano é: “sempre tereis pobres entre vós” (Mc 14, 7). As duas realidades não estão em contraposição, pois só estaremos preparados para o encontro com o Senhor se o encontrarmos na vida do dia a dia do irmão necessitado, do irmão pobre.
O Evangelho, usando uma linguagem apocalíptica, fala da segunda vinda do Filho do Homem. A imagem de sinais na natureza é própria do Antigo Testamento e do judaísmo posterior, em que a vinda do Filho do Homem é precedida por uma revolução cósmica: “o sol escurecerá, a lua não dará sua claridade, as estrelas estarão caindo do céu, e os poderes que estão no céu serão abalados”. Esta narrativa do Evangelho é influenciada, também, por Daniel (7, 13-14). É um tipo de linguagem que quer dar uma mensagem clara para os discípulos de Jesus, para os cristãos: o Senhor virá um dia para nós, para a história, e precisamos estar preparados.
A parábola da figueira nos exorta a lermos os sinais de Deus no hoje da história. O Senhor vai se dando a nós, vai passando e repassando. Ele se dá constantemente a nós, Ele passa no meio de nós e nos interpela. É preciso saber encontrá-Lo. Ele se dá a nós por meio da Palavra, da Eucaristia, do irmão necessitado, da oração etc.
Este Dia do Pobre quer nos tornar sensíveis a esta realidade: o pobre é, para nós, a presença do Senhor. Diz Santo Agostinho: “… é o Cristo que nos alimenta e suporta a fome por causa de ti; é o benfeitor e está na pobreza. Quando ele oferece, queres receber; quando está na pobreza, não queres dar. O Cristo está necessitado quando um pobre está necessitado” (Sermão 38, 8). Na sua mensagem para este Dia Mundial dos Pobres, o Papa Francisco nos exorta a percebermos que “os pobres não são pessoas ‘externas’ à comunidade, mas irmãos e irmãs cujo sofrimento se partilha, para abrandar o seu mal e a marginalização, a fim de lhes ser devolvida a dignidade perdida e garantida a necessária inclusão social”. O Papa indica a partilha como caminho, pois esta reforça a solidariedade e cria os requisitos necessários para alcançar a justiça.
Os pobres e a pobreza têm aumentado profundamente e mais notadamente neste tempo de pandemia. “É urgente dar respostas concretas a tantas pessoas que perderam seu emprego: pais de família, mulheres, jovens etc. A solidariedade social e a generosidade de que muitos, graças a Deus, são capazes, juntamente com projetos clarividentes de promoção humana, estão a dar e darão um contributo muito importante nesta conjuntura.” (Papa Francisco, Mensagem para o Dia dos Pobres, n. 2)
Neste tempo, não podemos nos perder em discussões vazias, é preciso que cada um faça a sua parte: Governantes, políticos, Judiciário, sociedade organizada e cada um, cada uma. É preciso passar dos discursos vazios à ação. Que este Dia do Pobre nos ajude, como sociedade, a tirar estes nossos irmãos da invisibilidade e a tratá-los como cidadãos, como pessoas humanas criadas à imagem e semelhança de Deus e remidas por Cristo.
Fonte: https://arqbrasilia.com.br/
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