O Papa com um casal de esposos durante a Audiência Geral na Sala Paulo VI (Vatican Media) |
As famílias, um bem para a Igreja, e o matrimônio, um
lugar da Graça de Deus a ser transmitido aos jovens. A subsecretária do
Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, Gabriella Gambino, nos leva a
rever o Ano da Família Amoris laetitia e a marcar o percurso para o Encontro
Mundial de Roma, em 2022.
Gabriella Ceraso e Alessandro
De Carolis – Vatican News
"Um presente de Natal
para vocês esposos, um incentivo, um sinal de proximidade e uma ocasião para
meditar." Foi assim que o Papa Francisco apresentou, no domingo (26/12),
Festa da Sagrada Família de Nazaré, sua Carta aos Esposos, um texto divulgado
um ano após 27 de dezembro de 2020, quando no Angelus o Pontífice anunciou o
Ano dedicado à "Família Amoris laetitia". Um percurso rico de frutos
e marcado pela "ternura de um pai" que se renova num "texto do
magistério", segundo a subsecretária do Dicastério para os Leigos,
a Família e a Vida, Gabriella Gambino.
Em sua carta aos esposos, que
ele enviou de presente, o Papa Francisco revê, como um pai, aspectos e etapas
da vida familiar, sem esquecer os jovens casais que se preparam para o
casamento. O que lhe chama a atenção nesta mensagem?
Gambino: A ternura de seu tom, o
carinho que ele quis expressar às famílias num momento tão complexo, ainda
dominado pela pandemia. Hoje, existem muitas famílias passando por crises e
dificuldades de todo tipo, para as quais o Papa dirige seu olhar de pai. Mas,
estou particularmente comovida com a atenção que ele dedica ao Sacramento do
Matrimônio. A beleza deste dom, tão difícil de ser compreendido pelos jovens de
hoje, está na presença de Cristo, que mora nas famílias, no meio de nossa vida
diária. Com extraordinária delicadeza, o Papa entra em nossa vida cotidiana,
nas dinâmicas da família, quase nos levando pela mão para nos encorajar e não
nos fazer sentir sozinhos neste caminho. Ele exorta os jovens a se casarem, a
confiarem na graça que investe os esposos, que os sustenta ao longo de suas
vidas na aventura do matrimônio, mesmo em meio a tempestades. O Papa nos lembra
que "como cristãos, não podemos renunciar de apresentar aos jovens o ideal
do matrimônio, ou seja, o projeto de Deus em toda sua grandeza. Não o fazer
seria uma falta de amor da Igreja para com os jovens. Compreender as situações
excepcionais não implica jamais esconder a luz do ideal mais pleno, nem propor
menos de quanto Jesus oferece ao ser humano". O Santo Padre nos lembra
disso na Amoris laetitia. (AL 307)
A Carta aos esposos chega
exatamente um ano após 27 de dezembro de 2020, quando o Papa anunciou no
Angelus o Ano dedicado à "Família Amoris laetitia", cinco anos após a
publicação da Exortação Apostólica. Na sua opinião o que foi colocado em
movimento com esse anúncio?
Gambino: Foi posto em marcha o cuidado
pastoral das famílias de todo o mundo. Após cinco anos de reflexão e confrontos
doutrinais, passou-se para a ação e o nosso Dicastério, incentivado pelo Santo
Padre, elaborou muitos instrumentos pastorais para ajudar as dioceses e as
conferências episcopais a traduzirem a exortação em ação e criatividade
pastoral. Também em vista do Encontro Mundial, que se realizará daqui a seis
meses, esta Carta do Papa aos esposos é um texto de magistério muito importante
sobre a família, que as paróquias e dioceses poderão utilizar para preparar as
famílias para o Encontro, para refletir com as famílias sobre o que é a família
e como hoje, em meio a tantas dificuldades, como disse São João Paulo II, ela
pode se tornar ela mesma! Convido as comunidades e paróquias a lê-la e
meditá-la nas casas, sugerindo-a e distribuindo-a aos casais em todo o mundo.
Na sua opinião, quais foram os
frutos mais bonitos deste ano?
Gambino: Sem dúvida, em geral, eu diria
as muitas iniciativas que o mundo está dando a conhecer ao nosso Dicastério, e
todas aquelas que não chegam até nós, desde que o Papa nos deu esse impulso.
Tantas paróquias, dioceses, conferências episcopais, até mesmo escolas e
universidades nos escrevem para nos dizer o que estão fazendo em resposta ao
apelo do Santo Padre para acompanhar as famílias, os casais, as situações mais
frágeis, as novas uniões, nas quais se buscam o Senhor. Um processo de
criatividade pastoral foi posto em marcha, que também está levando a uma maior
comunhão, em muitos contextos, entre pastores e famílias, a fim de aprender a
ouvir reciprocamente, valorizando o papel das famílias e dos esposos na Igreja.
Não é fácil, mas em todos os lugares se vê o desejo de tentar entender como
caminhar junto e também de acompanhar as situações mais difíceis, aquelas que
antes eram deixadas um pouco de lado. As famílias são realmente um bem para a
Igreja, mas esta afirmação em muitos contextos ainda precisamos entender como
colocá-la em prática.
O ano dedicado à família se
concluirá em junho próximo, quando o Encontro Mundial das Famílias será
celebrado em Roma. Neste domingo, o Papa convidou a todos a prepará-lo bem para
vivê-lo bem. Como a preparação deste evento e o encontro se entrelaçam com o
caminho sinodal aberto por Francisco na Igreja?
Gambino: Amoris laetitia, o fio condutor que nos leva ao Encontro
Mundial, nos pede para fazer um discernimento sobre o estilo e a maneira como
se realiza o nosso serviço pastoral, que o Santo Padre agora nos convida a
enquadrar neste caminho sinodal da Igreja através da comunhão, da participação
e da missão de cada componente do Povo de Deus, incluindo as famílias. Pastores
e famílias juntos, sob a orientação do Espírito. Mas como fazer isso? Seria
interessante, por exemplo, neste tempo de caminho sinodal e ao mesmo tempo de
preparação para o Encontro Mundial, tentar combinar o processo de discernimento
eclesial a partir da relação Igreja-família, fazendo-nos perguntas um pouco
diferentes daquelas a que estamos acostumados. Por exemplo, como a família pode
ajudar a Igreja a ser mais sinodal? O que a Igreja pode aprender do modo
"familiar" de discernir, ouvir e acolher? O que a Igreja pode
aprender da maneira como pais, filhos e irmãos procuram se amar com suas
fragilidades, vulnerabilidades, conflitos e pontos de vista diferentes? Estas e
outras perguntas poderiam abrir um novo modo de pensar a pastoral, um estilo
diferente, uma comunhão mais concreta entre as famílias e a Igreja. Não só
isso, mas iniciariam um novo processo de discernimento que, depois da conclusão
do Ano da Família com o Encontro Mundial, poderia continuar pelo menos até o
Sínodo, continuando a estimular a pastoral familiar em todo o mundo.
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