Presépio de Gallio no Vaticano | Vatican News |
A partir desta sexta-feira, é possível admirar na Sala
Paulo VI do Vaticano, à esquerda de onde fica o Papa, o presépio confeccionado
em um típico abrigo para animais do Planalto de Asiago, no Vêneto, obra dos
jovens da Paróquia de São Bartolomeu de Gallio.
Alessandro Di Bussolo – Cidade
do Vaticano
A cabana que abriga Maria e
José à espera de Jesus, reproduzida em tamanho natural na Sala Paulo VI, foi
montada em tempo recorde por cinco jovens de 20 anos de Gallio, na província de
Vicenza, porém pertencente à Diocese de Pádua, juntamente com o pároco Federico
Zago. O sacerdote de 43 anos dirige as quatro paróquias unidas de Gallio, Foza,
Sasso e Stoccareddo, no planalto de Asiago.
Audiência do Papa com os jovens de Gallio e os responsáveis pelo presépio e árvore da Praça São Pedro
O Papa Francisco recebeu em
audiência nesta sexta-feira, 10, na Sala Paulo VI, no Vaticano, os jovens de
Gallio, juntamente com os doadores do presépio e da árvore de Natal instalados
em frente ao obelisco na Praça São Pedro. As imagens que compõem o presépio da
praça foram confeccionadas por cinco artistas de Huancavelina, no Peru, e o
pinheiro de 28 metros de altura é proveniente de Andalo, no Trentino.
Ao todo, são 160 paroquianos
de Gallio que vieram em peregrinação a Roma para participar da inauguração. A
ideia de oferecer este presépio ambientado numa típica casinha de madeira, que
servia de abrigo para os animais no planalto, surgiu a partir da própria
disposição de um grupo de jovens do Gallio, que se reúnem desde que foram
crismados.
José e Maria à espera do Menino | Vatican News |
A Sagrada Família em um “estábulo” para animais do altiplano
Depois do sucesso do presépio
montado na Igreja de São Bartolomeu, no Natal de 2020, com estátuas de tamanho
natural de fibra de vidro, que foram adquiridas pela paróquia, Eugenio,
Riccardo, Emanuele e os demais componentes do grupo, escreveram para o
Governatorato da Cidade do Vaticano. E então, foram convidados a montar o
“estábulo” na Sala Paulo VI, confeccionado com tábuas de abetos e lariços
derrubados pela tempestade Vaia, em outubro de 2018.
Objetos rústicos utilizados pelos agricultores
Com eles, também padre
Federico que pegou as ferramentas de carpinteiro e na casinha rústica de
madeira, inseriu, juntamente com os jovens, os diversos utensílios outrora
utilizados pelos camponeses do planalto: serras, ancinhos, enxadas, mas também
uma forma de madeira para preparar manteiga em casa, além de vasilhames de
leite e raquetes para a neve, garrafões de vinho e gaiolas para pássaros como
chamarizes. No exterior do estábulo, foi colocado um recinto para coelhos,
feito de lajes de pedra que na língua cimbriana se chamam “Stoan platten”,
que ainda hoje delimitam as divisas entras as casas e marcam os caminhos. Há
também um galpão de madeira com toras cortadas e deixadas para secar, que será
usado para fazer fogo em um pequeno fogão dentro da cabana.
Eugenio com uma ferramenta em madeira na cabana do Presépio | Vatican News |
Os dois símbolos do serviço do grupo de jovens
Mas os dois principais objetos
que representam os jovens de Gallio, estão um à direita e o outro à esquerda da
Sagrada Família. À esquerda de São José, fica um pedaço de queijo, um pouco de
pão e uma garrafa de vinho. Eugenio conta que esses símbolos foram colocados
porque “eles nos lembram a semana de serviço que tivemos no verão de 2018, na
cantina da Caritas de Roma, no Colle Oppio. Acreditávamos que
éramos nós que que oferecíamos, mas ao invés disso, recebemos muito mais do que
poderíamos dar”, afirma.
Padre Federico: uma resposta
às provocações do Papa
Por outro lado, atrás de Nossa
Senhora, há dois cabides de madeira, “que simbolizam para nós – nos diz ainda
Eugenio – a outra semana, no verão de 2019, que passamos junto com pessoas com
deficiências assistidas pelas Obras da Providência de Santo Antônio, em
Sarmeola di Rubano, na província de Pádua”. O Vatican News também
pediu ao pároco de Gallio, padre Federico, que apresentasse o presépio dos seus
jovens e seu significado:
Padre Federico, a escolha de
doar este presépio ao Papa, nasce do fato de todos terem lhe dito que era muito
bonito, depois de o ter montado pela primeira vez no Natal passado?
Talvez doar nem seja o termo
correto... este presépio trazido ao Papa é praticamente uma resposta àquelas
provocações que ele seguidamente lança aos jovens. Por exemplo, o fato de dizer
“não deixem que vos roubem a esperança”, de serem protagonistas e “não cristãos
de poltrona”. Aos jovens na Grécia, o Papa disse: “Há tantos hoje que são muito
“social”, mas pouco sociais”. Este presépio se torna uma
resposta, porque por trás existe uma história do nosso grupo, deste grupo que
jovens que está junto há mais de sete anos. Uma resposta que nasceu também no
serviço, justamente em dizer: “Nós, como cristãos, continuamos cristãos de
poltrona ou fazemos realmente alguma coisa?”. E então nasceram as iniciativas
das Obras da Providência de Santo Antônio, em Pádua, com pessoas com
deficiência, ou a experiência nas cozinhas da Caritas aqui no
Colle Oppio. Nisto, nos sentimentos verdadeiramente cristãos, nos dizeres do
Papa: tu nos fizestes estas boas e belas provocações, queremos tentar responder
com a nossa vida.
O grupo de jovens de Gallio completo. Padre Federico é os egundo à esquerda, agachado | Vatican News |
Conte-nos como nasceu a ideia
no seu grupo de jovens de fazer um presépio em tamanho real, há um ano?
A ideia nasceu porque
tentamos, ao longo dos anos, montar o presépio junto com os jovens da nossa
paróquia. Antes nós usávamos as estátuas mais pequenas, de 20 ou 30
centímetros. Depois nós pensamos: “Por que não tentar com uma coisa um pouco
maior?”. Adquirimos um presépio em tamanho natural e, junto com os jovens,
precisamente no Natal passado, construímos uma casinha rústica grande na igreja
onde mais tarde foi montado o presépio. Gallio também é uma cidade turística,
por isso principalmente no período do inverno, na época de Natal, temos muitas
outras pessoas presentes além dos paroquianos, que dizem: “Que lindo, que
lindo!”. Então nasceu esta ideia, também de dizer por que não tentar propô-lo
como um presente ao Papa? Desta pequena coisa fomos então chamados e nos
disseram: “vocês podem montar o presépio na Sala Paulo VI, no Vaticano”.
Então, as estátuas não são
obra dos jovens, porém existe toda a montagem da cabana e o belo mobiliário...
Sim, tudo é cuidado nos
detalhes. É um abrigo para os animais, um estábulo rústico típico de nosso
território, que no dialeto é chamado de “estalotto” e pensamos
precisamente em reconstruí-lo com todas as ferramentas do passado, para recriar
uma casa rústica típica nossa e colocar o presépio dentro.
Presépio montado pelos jovens de Gallio fica à esquerda do palco da Sala Paulo VI | Vatican News |
Os jovens, no comunicado que
anuncia a notícia do presépio doado ao Papa, afirmaram que o presente
representa, na sua simplicidade, a casa de todos...
Certamente. Esse presépio foi
feito também com a madeira da tempestade Vaia, porque nós pensamos precisamente
na ideia de um Cristo que entra na nossa pobreza, no nosso ser pobres
criaturas. Nós quisemos precisamente utilizar essa madeira, para dizer que
também naquele momento que vivemos, no qual nós realmente tivemos medo, naquela
noite aqui no altiplano, de uma devastação, pode renascer a própria vida.
Escolhemos a simplicidade dessa construção, porque cada um que vê esse nosso
presépio possa dizer: “É uma coisa simples, como simples são as nossas casas”,
mas também como foi simples o nascimento de Cristo na nossa história da
salvação.
No mesmo comunicado os jovens
dizem querer doar ao Papa também o seu desejo de “não deixar que roubem sua
esperança, o desejo de dedicar sua vida aos outros”. Existe, portanto, todo um
caminho que levou a esse trabalho juntos?
Esse grupo é formado por cerca
de vinte jovens entre os 20 e 22 anos. Começamos a caminhar juntos quando eles
receberam o dom do Sacramento da Crisma e com esse grupo, também vivemos
algumas experiências muito particulares. Uma no refeitório da Caritas de
Roma no Colle Oppio onde, durante uma semana, não só servimos uma refeição para
as pessoas que ali frequentavam, mas queríamos muito estar junto com eles e por
isso partilhar uma parte importante da sua vida. E depois a outra experiência
nas Obras da Providência de Santo Antônio, que é um pouco o coração da Caridade
da nossa Diocese de Pádua, onde estão hospedadas centenas de pessoas com
deficiência. Assim, percebemos que éramos objeto de amor dessas pessoas que conhecemos.
Tanto que dentro do presépio pensamos em colocar também um prato com comida que
relembrasse a experiência do refeitório em Roma e também duas muletas que
representassem a experiência nas Obras da Providência.
Os jovens de Gallio na montagem do primeiro Presépio na Igreja de São Bartolomeu, no inverno de 2020 | Vatican News |
Mas existe em Gallio uma
tradição particular ou também uma tradição ligada a presépios?
Aqui entre nós, não há casa
que não faça o presépio. Porém, existe uma tradição particular: na noite de
Natal, normalmente após voltar da Missa da noite, a pessoa mais idosa coloca o
Menino Jesus no presépio na presença de toda a família. Tanto que nós
gostaríamos justamente de pedir ao Papa Francisco, no dia da audiência, se
seria possível a ele colocar o Menino Jesus no nosso presépio. Precisamente
para dizer a ele: “Sentimos que fazes parte da nossa família”, como se fosse
nosso avô, mas também uma pessoa importante que é guia, que nos e ajuda no
nosso caminho da fé, mas também no caminho de homens e mulheres. Mas também, e
sobretudo, porque com aquele gesto, se o Papa colocar o Menino Jesus, podemos
dizer que aquele presépio é realmente feito por todos. Não é apenas um
presente, algo que ele recebe, mas algo para o qual também ele contribuiu.
Assim, passa uma sensação de que ele faz parte do nosso grupo.
Para a audiência do dia 10 de
dezembro, a paróquia organizou uma peregrinação de toda a unidade pastoral em
Roma. O senhor está feliz com a resposta que recebeu de seus paroquianos?
Acima de toda expectativa, porque descemos em mais de 160
pessoas de Gallio, que não é uma cidade enorme, somos dois mil habitantes.
Principalmente nestes dias depois de 8 de dezembro, começa o turismo. Mas
apesar de ter essas dificuldades que surgem do trabalho de tantas pessoas que
estão ocupadas principalmente nesse período, ter 160 pessoas que vêm a Roma,
para mim é um gesto muito bonito. Não só em relação aos jovens, para dizer
“queremos acompanhá-los nesta experiência que será única na vida de cada um”,
mas também como um sinal de afeto para com o Papa Francisco. Descer juntos para
dizer ele: te queremos bem, estamos próximos de ti e te sentimos como pai”.
Jovens de Gallio com imagem de São José | Vatican News |
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