No mundo são mais de 360 os conflitos atuais e 22 as guerras de grande intensidade, mesmo aquelas esquecidas, ditadas por interesses ligados às armas e matérias-primas (ANSA) |
Na Conferência sobre a revisão da CCW, em Genebra,
monsenhor Putzer exorta a continuar a realização de todos os esforços possíveis
para o desarmamento global. Padre Renato Sacco da Pax Christi, alerta por sua
vez que se prevalecerem os interesses dos lobbies armamentistas, serão os
pobres que cada vez mais irão pagar a conta.
Francesca Sabatinelli - Cidade
do Vaticano
Diante de uma pandemia global,
da gravidade das crises sociais e econômicas e dos efeitos cada vez mais graves
da mudança climática global, é escandaloso que os gastos militares continuem a
aumentar, desviando potenciais recursos para combater a pobreza, a
desigualdade, a injustiça e investir em educação e saúde.
Este é o dramático alerta de
monsenhor John D. Putzer, encarregado ad interim de assuntos
junto à Missão de Observador Permanente da Santa Sé na ONU em Genebra e à
frente da delegação da Santa Sé na sexta Conferência da Revisão da Convenção
sobre a Proibição ou Limitação do Uso de Certas Armas Convencionais que podem
ser consideradas como Produzindo Efeitos Traumáticos Excessivos ou Ferindo
Indiscriminadamente (CCW), de 13 a 17 de dezembro de 2021.
Desarmamento, desenvolvimento e paz
Quantos mortos, feridos e
incapacitados serão necessários antes que seja condenado algum comportamento militar
como inaceitável? Este é o questionamento de monsenhor Putzer, ao considerar
que desarmamento, desenvolvimento e paz são três questões interdependentes.
Vincular a segurança nacional
ao acúmulo de armas é uma falsa "lógica", acrescenta, ressaltando que
a melhor maneira de alcançar a segurança e a paz internacional é a promoção de
uma cultura do diálogo e da cooperação, por meio da educação para a paz e não
por meio de uma corrida armamentista em que os civis sempre e inevitavelmente
pagam o preço mais alto.
A Santa Sé expressa
preocupação não só pela segurança das populações locais, mas também a nível
nacional e regional, devido aos resíduos bélicos explosivos, ao tráfico ilícito
de armas leves e de pequeno calibre, bem como àquelas armas que se tornaram
cada vez menos "convencionais" e cada vez mais "armas de
destruição em massa" e de deslocamento, devastando cidades, escolas,
hospitais, locais de culto e infraestruturas básicas para a população civil.
A exortação, portanto, é
“realizar todos os esforços que possam contribuir para um progresso em direção
a um desarmamento geral e completo sob um controle internacional rigoroso e
efetivo”, como afirma o preâmbulo da CCW.
Papa: as armas não são o caminho
“A guerra é um fracasso da
política e da humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota perante as
forças do mal”, escreve Francisco na Fratelli tutti, palavras repetidas por ele
próprio para reiterar que a guerra nunca é útil e que, como indicado no Angelus do domingo 12 de dezembro,
"as armas não são o caminho".
No entanto, permanecem
evidentes os trágicos números que indicam uma duplicação, de 2000 até hoje, dos
gastos militares em nível global, chegando a quase dois trilhões de dólares
estadunidenses a cada ano. Depois, há a estatística que faz Francisco sofrer,
aquela que demonstra que em 2021 foram fabricadas mais armas do que no ano
anterior
Aumenta o interesse por armas
O Papa, acredita o coordenador
nacional da Pax Christi, padre Renato Sacco, “sempre recorda
que as armas não são um caminho porque corre-se o risco de entrar nessa lógica
de que com as armas se está mais seguros. E o Papa nos recorda que não é
assim”. Padre Sacco olha especificamente para a Itália, onde os dados indicam
que será gasto 3% a mais em 2022 do que em 2021 e que, em três anos, o
percentual aumentou 20%. Isso significa que, “apesar da pandemia e das
tragédias, cresce o desejo por armas por parte dos grandes interesses, não do
povo”.
Primeiro ano do Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares
Atualmente os conflitos em
todo o mundo são mais de 360 e as guerras de grande
intensidade 22, mesmo aquelas esquecidas, como no cado do Iêmen, ditadas por interesses ligados às armas, assim
como a matérias-primas como a água, o petróleo ou o gás. E se prevalecer a lógica dos interesses, alerta
Pe. Sacco, “os lobbies das armas irão ao banquete de núpcias enquanto os pobres
cada vez mais irão pagar a conta”.
Em 22 de janeiro próximo, por
sua vez, será celebrado o primeiro ano da entrada em vigor do
Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares (TPAN), que proíbe
o uso, ameaça de uso, desenvolvimento, testes, produção, fabricação, aquisição,
posse ou armazenamento de armas nucleares. Também torna ilegal assistir,
encorajar ou induzir, da maneira que for, a realização de qualquer atividade
proibida pelo Tratado.
51 países ratificaram ou aderiram ao Tratado; 37 Estados
haviam assinado o TPAN, mas não o ratificado; e cerca de 40 manifestaram apoio
a ele na ONU, mas sem assiná-lo ou ratificá-lo. Este aniversário, no
entanto, é um dos sinais de esperança que, “mesmo que pequeno - conclui padre
Sacco - existe".
Fonte: https://www.vaticannews.va/
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