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sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

A Idade Moderna – De Erasmo a Nietzsche (Parte 1/6)

Presbíteros

A Idade Moderna
De Erasmo a Nietzsche
ESTUDOS DE IDEIAS POLÍTICAS
por Eric Voegelin

Tradução e abreviação de M. C. Henriques, Lisboa, Ática, 1996

§ 1 O meio social. Imprensa e Audiência

A Reforma foi o primeiro grande movimento social a contar para a sua propagação com um novo meio técnico: a palavra escrita. Aproveitando as circunstâncias do extraordinário desenvolvimento da imprensa desde meados do século XV e que aumentou o número de obras em circulação de algumas dezenas de milhares de manuscritos para alguns milhões de livros e panfletos, Lutero chegou a atingir um quase monopólio das casas editoras alemãs ocupadas em imprimir os seus sermões, panfletos, as cartas e a tradução da Bíblia. Em segundo lugar, a Reforma é alimentada por um novo e grande público de professores e alunos. Entre 1385 (Heidelberg) e 1502 (Wittenberg) são fundadas na Alemanha 15 novas universidades. Em Wittenberg junta-se o trio formado por Lutero, Melanchton e Carlstadt. Ao serem nomeados professores, o primeiro tem menos de 30 anos, o segundo tem 21 anos (1518). No século XV, apenas em Espanha houve um surto paralelo de energia cultural, estando as 7 universidades então fundadas dependentes da Inquisição, fundada em 1478, da Coroa (Concordata de 1482) e da Ordem Dominicana. Estes novos meios de comunicação social criaram um mundo de escritores e leitores, de livros e debates literários com grande rapidez e coesão na disseminação das ideias. A mensagem e os problemas agitados não eram novos e o estado da Igreja não era mais grave que no cativeiro de Avinhão. Só que as instituições, as questões teóricas e os acontecimentos eram agora avaliados por um crivo mais apertado e numa situação cada vez mais explosiva. E o monge de Wittenberg será o epicentro da Reforma, esse vasto movimento da consciência europeia que começa com atos e não com doutrinas e cujo curso é em grande parte determinado pela interação entre a situação histórica a personalidade de um homem.

§ 2 O debate de Leipzig em 1519

Supõe-se correntemente que o cisma das Igrejas é consequência fatal da ação de Lutero. Na realidade, a sequência é inversa. O cisma das Igrejas é anterior e, inicialmente, ninguém pretendia agravá-lo. Desde 1054 que existia um cisma entre Roma e a Igreja Ortodoxa, um facto que o Concílio de Florença de 1439 não conseguira modificar. Esta questão dormente veio à tona no debate de Leipzig em 1519 entre os teólogos Lutero e Eck. Este, como adiante se verá, queria promover a sua carreira, Lutero não sabia calar-se e o Eleitor da Saxónia, que poderia ter proibido o debate, acreditava que da livre discussão nasceria a luz. Sustentava Eck que os cristãos Gregos estavam condenados ao inferno por não reconhecerem o pontificado de Roma enquanto Lutero defendia a possibilidade de salvação dos Gregos. Apesar de os Gregos jamais terem reconhecido o pontífice romano, os santos e padres da Igreja Grega não eram heréticos. Iria o Papa expulsar do céu S.Basílio e S.Gregório de Nazianzeno ? O debate conduziu à questão da natureza do papado. Segundo Eck, considerar o papado como instituição humana era característico dos Hussitas,de Wycliff e dos manifestos de York, posição condenada pelo Concílio de Constança. Pretenderia alguém saber mais que o Concílio? O que Lutero afirmava é que um cristão não podia ir para o inferno só porque nascera nos arredores de Constantinopla.

O que estava em jogo não era novo. Conquanto o tema raramente fosse referido, a concórdia cristã sempre estivera exposta a um risco de decisionismo. A unidade da Igreja sempre assentou na boa vontade para haver compromisso e cooperação de acordo com o espírito de Jesus Cristo. Se a liberdade de cooperação se atrofia a ponto de a unidade ter de assentar na decisão de uma autoridade parcial, cresce o perigo de cisma, como se verificara nas tentativas de reforma inglesa e boémia. O movimento conciliarista do século XV desprestigiara a acção dos Concílios no momento em que o consenso era mais necessário. E a literatura de controvérsia volveu-se em literatura sectária, estendendo-se posteriormente às divisões partidárias e nacionais. A verdade é que a cristandade como religião histórica se diferenciara de acordo com áreas de civilização, um problema que não podia ser arrumado com declarações mútuas de heresia.

BIBLIOGRAFIA:

Joseph Denifle, Luther und seine Entwicklung, 2 vols., 1904-6

Jacques Maritain, Trois Réformateurs, 1923

Fonte: https://www.presbiteros.org.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF