Foto dos acontecimentos em Londonderry naquele 30 de janeirode 1972 (AFP or licensors) |
Recorda-se neste domingo, 30 de janeiro, o aniversário do
'Domingo Sangrento' na Irlanda do Norte. As duas comunidades, a republicana e a
unionista, estarão reunidas na memória e na esperança. Dom McKeown: hoje Derry
é um exemplo de solidariedade e dignidade.
Francesca Sabatinelli e Fabio
Colagrande - Cidade do Vaticano
50 anos se passaram desde o
“Bloody Sunday”, o domingo sangrento em Derry, na Irlanda do Norte, onde, em 30
de janeiro de 1972, soldados britânicos abriram fogo contra manifestantes
pacíficos e desarmados, que participavam de uma marcha de protesto não violenta
organizada pela Northern Ireland Civil Rights Association contra
a chamada Operação Demetrius, que previa a prisão por tempo indeterminado e sem
julgamento de cidadãos com histórico no IRA. Treze pessoas morreram no local,
uma décima quarta morreu no hospital.
Dom McKeown:
hoje a guerra acabou
Aquele foi um dos tantos
eventos dramáticos do sangrento confronto entre nacionalistas republicanos e
unionistas leais à coroa britânica, que entrou para a história como
"troubles". São muitas as cerimônias previstas para o fim de semana,
começando com uma missa na noite deste sábado, como explica o bispo de Derry,
Dom Donal McKeown, que na época do massacre tinha 21 anos e era estudante em
Belfast.
Dom Donal McKeown, como a sua
Diocese de Derry está vivendo o 50º aniversário do massacre conhecido como o
massacre do Bloody Sunday?
Será um fim de semana de
celebrações. Começa na noite deste sábado com a celebração de uma Missa, como
tem sido feito todos estes anos, pelos mortos, por todos aqueles que morreram
há 50 anos, na Igreja de Santa Maria, em Creggan. Comigo estarão alguns
sacerdotes e também o bispo anglicano Andrew Forster, que quer participar desta
celebração para estar entre as famílias que celebram a memória de seus
familiares. Em seguida, haverá manifestações, apresentações teatrais e até uma
celebração no monumento dedicado às vítimas, na manhã de domingo, na presença
de políticos e representantes das Igrejas Católica e protestantes.
Com que espírito vocês se
prepararam para viver este aniversário?
Com uma grande dignidade. Eu
estive por 36 anos em Belfast, estou aqui em Derry há oito anos, e é um
privilégio estar no meio de um povo que tanto sofreu ao longo das décadas,
mesmo séculos e que encontrou, no meio de tanto sofrimento, uma dignidade e um
sentimento de solidariedade uns com os outros. Quando o Relatório Saville do
governo britânico sobre o Bloody Sunday foi publicado há 13
anos, os líderes das Igrejas protestantes se reuniram com as famílias para
expressar sua alegria pela inocência de seus familiares. As relações entre as
Igrejas na cidade são positivas há décadas, as Igrejas juntas buscaram
construir a paz.
Que significado assume este
aniversário à luz da fé?
Sempre se lê também na Bíblia
que o povo de Deus sempre soube olhar para trás, para tempos e experiências
difíceis, e encontrar no meio do sofrimento sinais da graça de Deus. As pessoas
de fé podem olhar com compaixão para os problemas do passado, com o olhar da fé
e encontrar desígnios de graça, de coragem humana, de espírito humano, de amor
de Deus, procurando a verdade, mas procurando também criar um futuro cheio de
esperança para os nossos jovens e não um futuro cheio de arrependimento.
O senhor se lembra onde estava
naquele domingo de 1972?
Estávamos no seminário em
Belfast, éramos cerca de vinte estudantes na universidade. Primeiro ouvimos
falar de um homem morto, depois de todos os outros. Dois dias depois houve uma
greve na universidade, saímos de trem para ir ao sepultamento, na quarta-feira
da semana seguinte ao massacre. Foi uma época forte para mim, como eu tinha 21
anos, com um senso de idealismo. Queríamos estar com aqueles que tinham sofrido
naquele domingo, para tentar construir a paz.
Cerca de 25 anos após a
assinatura do acordo da Sexta-feira Santa, pode-se dizer que o conflito na
Irlanda do Norte terminou definitivamente?
Estou certo de que a guerra acabou, o conflito permanece
no sentido de que não é um conflito dentro da Irlanda do Norte, mas diz
respeito à questão de saber se a Irlanda do Norte deve pertencer à Grã-Bretanha
ou à República da Irlanda. O conflito continua, mas politicamente e de forma
pacífica e podemos olhar para o futuro com esperança e alegria. No entanto,
sim, a guerra acabou, as Igrejas especialmente trabalharam duro para criar
essas pontes, elas foram as criadoras da paz e também podemos celebrar a
grandeza de tantos que criaram a paz mesmo nos anos mais difíceis. Por eles
damos graças a Deus.
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